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Ao candidato do governo cabe o papel mais difícil na maratona televisiva que começa na terça
Minissérie eleitoral
RENATA LO PRETE
DA REPORTAGEM LOCAL
Para Lula (PT) ou Ciro Gomes
(PPS), primeiro e segundo colocados, respectivamente, na disputa pela Presidência, não seria mal
se o horário eleitoral deste ano
lembrasse o de 1998, ao longo do
qual nada aconteceu. Também
Anthony Garotinho (PSB) não faria má figura se saísse da maratona televisiva como entrou.
Já para José Serra (PSDB), empatado com o ex-governador do
Rio no terceiro lugar, a série de
programas com início nesta terça
teria de produzir efeito similar ao
de 1989, quando um candidato
subiu o bastante para inverter posições e passar ao segundo turno.
Importante para os demais, a
temporada de propaganda gratuita é mais do que isso para o tucano. Representa a última chance de
reverter um déficit de 14 pontos
percentuais em relação a Ciro.
Sob o argumento de que o candidato do governo terá mais que o
dobro do tempo dos adversários,
sua equipe tem repetido que até
agora houve apenas "treino". O
"jogo" estaria por começar.
Segundo Nelson Biondi, publicitário da campanha, o tom dos
programas será "todo propositivo". "Deu certo lá atrás", diz em
referência ao crescimento obtido
por Serra após aparições de TV
no primeiro semestre. "Acreditamos que possa dar certo agora."
Biondi nega que a recente ofensiva contra Ciro, exemplificada
pelo jingle "Você Mente Demais",
venha a ditar a linha da propaganda tucana. Mas ressalva: "Ninguém consegue votos só falando
bem de si mesmo".
Do lado de Ciro, procura-se demonstrar frieza diante da perspectiva de artilharia pesada. "É direito deles tentar", diz o publicitário Einhart Jacome da Paz. "Mas
campanha negativa também tem
um custo para quem faz."
De acordo com ele, a TV do candidato da Frente Trabalhista será
"simples e didática". Mais não
anuncia. "Marqueteiro, quando
fala muito, fala bobagem."
Mesmo lacônico, Paz reconhece
que, dependendo da intensidade
dos ataques, será impossível não
usar ao menos parte do tempo para rebatê-los. "Em campanha, você vai mudando os programas de
acordo com os desdobramentos."
Espectadora do embate entre
Ciro e Serra, a equipe de Lula está
à vontade para prometer um horário gratuito não-agressivo. "O
quadro para nós é o melhor possível", afirma Duda Mendonça.
O publicitário diz que "Ciro é
problema de Serra". Eventuais
ataques contra Lula poderão ser
respondidos no ar, mas "sem referências pessoais".
Com cerca de metade dos tempos de Lula e Ciro e menos de um
quarto do disponível para Serra,
Garotinho não terá como recorrer
a "enfeites ou pirotecnia", diz seu
coordenador de comunicação,
Carlos Rayel. Além do próprio
candidato, as atrações serão suas
obras durante a gestão no Rio.
Para Márcia Cavallari, diretora
do Ibope Opinião, o horário eleitoral é o momento de "homogeneizar a informação que o eleitor
recebe". Seja pelo alcance do veículo TV, seja pela intensidade da
comunicação (45 dias, dos quais
19 com os presidenciáveis), trata-se "de um marco na campanha".
No entanto, mais tempo no ar
não é garantia de vantagem, afirma Cavallari, lembrando o caso
clássico de Ulysses Guimarães em
1989: 22 minutos por programa,
mais do que tinham Fernando
Collor e Lula juntos, dois pontos
percentuais no início da temporada televisiva, quatro no final.
"O horário é um componente
importante, mas não o único e talvez nem o mais importante", diz o
diretor do Vox Populi. Embora
relativize a influência dos programas, Marcos Coimbra considera
que as inserções curtas podem fazer bastante diferença.
"O "spot" atinge o universo do
eleitorado", avalia. Com duração
semelhante à de um comercial de
produto, "não respeita a indiferença de parte significativa da população à informação política".
De todo modo, ele acha arriscado prever uma reviravolta com
base apenas na propaganda gratuita. Observa que, nas últimas
três eleições presidenciais, o movimento mais expressivo registrado nesse período foi o crescimento de Lula em 1989 (dez pontos
pelo Vox, 12 pelo Datafolha).
"Isolada, uma variação dessa
ordem não bastaria para transformar radicalmente a situação
atual", diz Coimbra.
Mas o diretor-geral do Datafolha pondera que o movimento, se
houver, deverá ser combinado, e
provavelmente entre Ciro e Serra.
"Lula tem um piso cativo", avalia
Mauro Paulino. "Garotinho,
idem. Eventuais transferências se
darão entre os outros dois."
Paulino também recomenda
atenção aos indecisos. Em 1998, a
esta altura, eram 41% na pesquisa
espontânea e 11% na estimulada.
Agora são, respectivamente, 41%
e 6%. Apesar do recuo, ele acha
que os entrevistados hoje manifestam mais "predisposição" do
que intenção de voto consolidada.
"O eleitor tem se decidido cada
vez mais tarde" -motivo de
preocupação para Lula e Ciro, última esperança para Serra.
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