São Paulo, segunda-feira, 18 de agosto de 2008

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ELEIÇÕES 2008 / RIO DE JANEIRO

Candidatos usam "fiscais" para driblar veto a placas

Paes e Crivella são os que mais apelaram à militância paga para pôr placas nas ruas

Funcionários trabalham de sete a oito horas por dia e ganham cerca de R$ 2,84 por hora; Justiça Eleitoral proíbe placas desde o pleito de 2004

Rafael Andrade
"Fiscais" carregam placa com foto de Eduardo Paes (PMDB) na praia de Copacabana, na zona sul

ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

Pulando de bico em bico após perder o movimento das mãos em um acidente de trabalho, Itamar Ribeiro, 39, garantiu um salário mensal de R$ 500 até outubro "fiscalizando" a placa de propaganda de Eduardo Paes (PMDB) em frente à rua Aristides Espíndola, no Leblon, zona sul do Rio.
A estratégia de divulgação por meio de placas nas principais vias da cidade transformou desempregados em militantes. Paes e o senador Marcelo Crivella (PRB) são os candidatos que mais exploram a atividade.
Eles gastaram, respectivamente, R$ 246.831,50 e R$ 71 mil no primeiro mês de campanha -25,5% do total de despesas de Paes e 58% do de Crivella- com placas, estandartes e faixas, segundo as prestações de contas enviadas à Folha. Ambos espalharam 500 placas, cada um, pela cidade.
Paes tem apoio de associações de moradores para recrutar funcionários para a campanha. Segundo a Folha apurou, ao menos três entidades de favelas da zona sul encaminharam interessados para o comitê dele: Pavão-Pavãozinho, Santo Amaro e Vidigal.
Ex-padeiro, Ribeiro perdeu os movimentos da mãos direita após ter o dedo médio esmagado em uma máquina de trabalho há dois anos. Enquanto processa o Estado pedindo indenização por mau atendimento -diz que a demora causou a deficiência-, vive de bicos. "Sou evangélico e as pessoas achavam que eu devia fazer campanha para o Crivella. Mas isso aqui é um trabalho como outro qualquer", afirmou. Ele não conta em quem vai votar.
Jaqueline Faustino, 22, disse que vai votar em Crivella, para quem "fiscaliza" uma placa na avenida Lúcio Costa, na Barra da Tijuca (zona oeste). "Gostei das propostas. E ele respeita quem trabalha para ele. Tem candidato que não dá almoço nenhum para os empregados."
Desde 2004, o Tribunal Regional Eleitoral do Rio proíbe a fixação de placas ou galhardetes em via pública. A solução encontrada pelos candidatos foi a criação do cargo de "fiscal", que permanece ao lado da placa para conferir o caráter móvel à publicidade.
Os "fiscais" trabalham de sete a oito horas por dia, cinco dias por semana -no final de semana, recebem extras. Ganham cerca de R$ 2,84/hora.
"Precisávamos apresentá-lo [Paes] como candidato, já que a candidatura foi decidida muito em cima da hora. Usamos como estratégia cartazes, carreatas com muitas bandeiras e muito corpo-a-corpo na rua", afirmou o coordenador da campanha de Paes, Antônio Pedro Figueira de Mello.
"A nossa estratégia de campanha é visibilidade, divulgação e aperto de mão", disse o coordenador da campanha de Crivella, Isaias Zavarise. Ele afirma que a maioria dos "fiscais" são "militantes e voluntários". Os cinco ouvidos pela Folha eram remunerados.


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