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Núcleo de campanha petista ensaia discurso do pré-candidato e providencia jatinho e carro blindado
PT "blinda" Lula e monta superestrutura
PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Na campanha mais profissionalizada de sua história, o PT tenta
criar uma blindagem de proteção
ao seu candidato ao Palácio do
Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva.
Ao mesmo tempo, disponibiliza
para o presidenciável uma superestrutura com direito a carro
blindado, guarda-costas, jatinho
para viagens, comitê com três andares e diretores de cinema.
O partido não tem economizado recursos e diz não saber qual é
o gasto total da fase de pré-campanha, em que doações ainda são
proibidas. O PT afirma que, por
enquanto, financia as despesas
com recursos próprios, oriundos
da receita total do partido, na casa
de R$ 60 milhões anuais.
A blindagem do discurso está a
cargo de um núcleo central de
campanha. As operações políticas
internas e negociações externas
estão concentradas no presidente
nacional do PT, José Dirceu.
As reações públicas e ações de
Lula são discutidas por um grupo
de assessores, que inclui o publicitário Duda Mendonça.
A intenção é afastar Lula do centro de polêmicas e do eventual
desgaste eleitoral que declarações
e atos possam provocar.
A campanha deste ano envolve
cerca de 200 pessoas -quase cem
no PT e outras cem contratadas
pela empresa do publicitário.
Duda já recebeu cerca de R$ 1
milhão do partido por três programas partidários realizados
desde o ano passado. Começará a
discutir no próximo mês quanto
receberá para fazer todo a propaganda eleitoral de Lula, de José
Genoino, pré-candidato ao governo de São Paulo, e de Benedita da
Silva, que tenta a reeleição ao governo do Rio de Janeiro.
O publicitário não economizou
na montagem da equipe. Ela envolve nomes como os dos jornalistas Marcelo Netto, ex-diretor da
Rede Globo em Brasília e ex-presidente da Radiobrás no governo
Fernando Collor, e Paulo Markun, autor do livro "1961 - Que as
armas não falem", recentemente
lançado.
A função deles é municiar Duda
de informações que possam ser
usadas na campanha, seja em
programas do partido, seja em
declarações de Lula.
Diplomacia
Essa equipe também faz intermediações diplomáticas. No mês
passado, o pré-candidato foi convidado a participar do programa
de entrevistas de televisão de uma
jornalista tida como simpática às
propostas do PSDB.
Um integrante da equipe de Duda, com intimidade com a jornalista, foi responsável por um contato inicial para que veladamente
demonstrasse a preocupação do
partido com a isenção de suas
perguntas. A entrevista transcorreu sem sustos para Lula.
Outra estrela da equipe do publicitário é o poeta e antropólogo
Antônio Risério, autor de livros
como "Textos e Tribos" e "Avant-Garde na Bahia", agora responsável pelos textos do programa de
televisão do PT. Há ainda a participação do cineasta Paulo Caldas,
um dos diretores do filme "Baile
Perfumado" e do documentário
"O Rap do Pequeno Príncipe
Contra as Almas Sebosas".
Já o PT montou sua própria seleção de estrelas. O jornalista Ricardo Kotscho retornou como assessor do petista. O cientista político e jornalista André Singer é o
porta-voz da campanha
Sorrisos
Duda e equipe cercam de cuidados os passos do petista. O publicitário discute com Lula, Dirceu e
um pequeno núcleo petista desde
o comportamento do pré-candidato às repostas que dará em
questionamentos de jornalistas.
Por exemplo, insiste em que Lula sorria mais para amenizar percepções de que seria um político
irado, do contra. Nas entrevistas,
aparições públicas e programas
eleitorais, o petista tem seguido os
conselhos do publicitário.
Terno e gravata, cabelo alinhado e rosto asseado são fundamentais. Anteontem, em Bauru, ele
saiu correndo de um ato político
para poder ter tempo de se arrumar para uma entrevista que daria em seguida a uma TV.
Lula também procura, nos atos
políticos, reforçar a bem-sucedida campanha de TV. Nos discursos, cita frequentemente um
anúncio em que um garoto chamado João, ao microfone, pede
uma "oportunidade". O filme foi
o mais bem avaliado nas pesquisas qualitativas do PT.
Em uma das reuniões com Duda foi escolhida a linha de resposta que Lula deve dar a um questionamento que frequentemente lhe
é feito: por que não trabalha e por
que não se dedicou mais à sua formação cultural.
Agora Lula afirma que é um erro dizer que não trabalhou e não
estudou nos últimos tempos, porque há 22 anos se dedica à construção do maior partido de esquerda da América Latina. "Tente
imaginar o que seria o Brasil sem
o PT", propõe o presidenciável a
seus interlocutores.
Outra questão é sobre sua falta
de experiência administrativa,
para a qual também tem uma resposta pronta: "Eu poderia ser
candidato a prefeito de São Bernardo [ABC paulista", poderia ser
candidato a governo do Estado.
Mas por que sou candidato a presidente? Porque é somente por
meio da Presidência que podemos fazer as mudanças que têm
de ser feitas neste país", afirma.
Preparado
Em um evento envolvendo os
demais presidenciáveis, assessores petistas anotam detalhadamente as falas dos pré-candidatos
que o antecedem. Marcam as
principais frases e, principalmente, a reação da platéia.
Antes de falar, Lula é informado
da linha de cada candidato. Há
três semanas, em evento da Força
Sindical, descontraiu a platéia logo no início de sua participação:
"Mesmo não tendo assistido à
participação dos demais candidatos, sei que aqui ninguém defendeu banqueiro. Nenhum candidato defendeu rico, nenhum candidato defendeu latifundiário.
Aqui todo mundo falou dos pobres", disse, provocando risos.
Colaborou FÁBIO ZANINI, da Reportagem Local
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