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Múcio ameaça deixar ministério após crise na base por nomeação
Articulador político do governo pôs o cargo à disposição devido a descumprimento de indicação do PSC para vaga na Petrobras
Após ouvir reclamação do ministro, Lula determinou que a estatal cumprisse acordos já firmados para evitar defecções na base
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O descumprimento de acordo político para distribuição de
cargos na Petrobras provocou
uma crise na base aliada e levou
o ministro José Múcio Monteiro (Relações Institucionais) a
colocar o cargo à disposição.
Em conversa com o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, anteontem à noite, Múcio disse
que havia perdido "credibilidade para tocar aquele lugar".
Lula pediu a José Múcio que
não tomasse nenhuma decisão
naquele momento e que aguardasse o dia seguinte, quando
iria tratar do assunto. Ontem, o
presidente reverteu a decisão
da estatal e determinou que
"acordos já firmados" fossem
cumpridos para evitar defecções na base aliada.
Amigos do ministro disseram ontem que, depois da interferência do presidente, ele
se sentiu "fortalecido" na posição de negociador político do
governo e não via mais motivos
para deixar o cargo. Procurado,
Múcio disse que continuava à
frente da pasta.
A crise começou quando líderes do PSC (Partido Social Cristão) procuraram o ministro
com ameaça de abandonar a
base. Eles tinham sido informados de que a Petrobras não
cumpriria acordo para a nomeação de uma pessoa ligada
ao partido para a nova subsidiária da estatal, que cuidará de
biocombustíveis.
Múcio checou a informação.
Depois de confirmada, disse
aos líderes do PSC, segundo relato de deputados, que aquela
decisão era uma "desmoralização" e que acabava com sua
"credibilidade" no ministério.
Em seguida, líderes do
PMDB entraram em contato
com o ministro manifestando
apoio ao PSC, de quem são aliados no Congresso. Reclamaram
ainda que a estatal não estava
cumprindo um acerto para nomeação de peemedebistas na
diretoria internacional da empresa na Argentina e Américas.
O presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP),
chegou a ir ao gabinete do ministro para manifestar solidariedade. No final da noite, Temer reuniu-se com a cúpula
peemedebista e ficou decidido
que o partido iria pressionar o
governo a mudar a posição da
Petrobras. Caso contrário, ficaria difícil votar com o Planalto.
Antes de falar com o presidente, José Múcio conversou
com a colega Dilma Rousseff
(Casa Civil) e com Gilberto
Carvalho, chefe-de-gabinete do
presidente. Aos dois, segundo a
Folha apurou, disse que havia
perdido toda a credibilidade
para continuar à frente do cargo, alegando que sua "palavra"
havia sido desrespeitada.
Ele disse a Dilma e Carvalho
que estava muito contrariado
porque tinha ido ao Rio tratar
diretamente do assunto com a
direção da Petrobras. E que havia sido acordado que uma das
quatro diretorias da nova subsidiária ficaria com um técnico
indicado pelo PSC.
O ministro argumentou que
o partido costuma ser fiel ao governo no Congresso e que, com
sua decisão, a Petrobras estaria
provocando dificuldades para
futuras votações. Segundo ele,
a crise detonada pela estatal levou não só o PSC mas também
o PMDB a ameaçar retirar
apoio a projetos de interesse do
Palácio do Planalto.
Depois de informado por
seus assessores da ameaça de
Múcio deixar o governo, o presidente procurou seu articulador político. Ouviu dele que o
caso do PSC era apenas a gota
d'água e que ficava difícil tocar
suas tarefas sem o cumprimento de acordos políticos.
Ontem, Lula ligou para o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, e determinou que
o acerto fosse cumprido.
Colaborou KENNEDY ALENCAR ,
da Sucursal de Brasília
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