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Procuradoria investiga se PF boicotou atuação de delegado
Protógenes Queiroz disse ao Ministério Público que foi obrigado a deixar caso Dantas
Direção da PF em Brasília e Ministério da Justiça dizem que estão à disposição do Ministério Público para prestar esclarecimentos
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O delegado Protógenes Queiroz, que prendeu o banqueiro
Daniel Dantas, afirmou que foi
obrigado a deixar o comando da
Operação Satiagraha por imposição da cúpula da Polícia Federal, a quem responsabilizou
também de tentar obstruir a investigação do caso. O Ministério Público Federal, que tem a
função de exercer o controle
externo da atividade da PF, vai
apurar as acusações.
A queixa oficial do delegado,
que prendeu ainda o investidor
Naji Nahas e o ex-prefeito Celso Pitta, coloca o governo federal numa posição embaraçosa.
Queiroz contradiz nota da direção da PF em Brasília na qual
foi anunciado que o afastamento dele foi voluntário, pelos planos do delegado de fazer um
curso superior de polícia. Contraria ainda o ministro da Justiça, Tarso Genro, que reforçou
a versão da PF.
A gota d'água que motivou a
declaração do delegado, segundo apurou a reportagem, foi a
iniciativa do Ministério da Justiça, com a aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
de divulgar anteontem trechos
da gravação de quase três horas
da reunião em que ficou decidido o afastamento dele do inquérito. O objetivo do governo
era provar que o próprio Queiroz pediu para deixar o caso.
Irritado, o delegado recorreu
no mesmo dia ao Ministério
Público. Os procuradores Anamara Osório Silva e Rodrigo De
Grandis pediram a abertura de
um procedimento administrativo para apurar as queixas.
A direção da PF em Brasília
disse que não irá se manifestar
sobre as declarações do delegado ao Ministério Público Federal. Afirmou que se colocou à
disposição do órgão para qualquer esclarecimento. A assessoria do Ministério da Justiça
limitou-se a informar que a posição do órgão é a mesma da PF.
Ignorado
Em três páginas com o timbre da instituição e em mais 13
folhas de documentos, Queiroz
diz ter sido afastado do caso e
ainda tenta provar que a cúpula
da PF ignorou os seus pedidos
de reforço de pessoal -ele solicitou pelo menos 50 agentes
para ajudá-lo na análise de cerca de uma tonelada de equipamentos e papéis apreendidos.
Com a queixa do policial em
mãos, o procurador da República Roberto Antônio Dassié Diana abriu ontem um procedimento para investigar se o diretor de Combate ao Crime Organizado da PF, Roberto Ciciliati
Troncon Filho, e o superintendente da instituição em São
Paulo, Leandro Coimbra, chefe
de Queiroz, coagiram o policial
a deixar a investigação.
O delegado, ao contrário de
um juiz ou de um procurador,
não é inamovível em sua função. O que o Ministério Público
quer saber é a motivação dos
superiores em afastar o policial
e se houve intenção deliberada
de atrapalhar o caso.
Segundo a Procuradoria, no
início desta semana, Troncon
já havia se comprometido a entregar ao órgão a íntegra da gravação feita durante a reunião
em que ficou decidida a saída
do delegado, na segunda-feira.
O governo informou que apenas não divulgou as três horas
de conversa porque há dados
sigilosos de outros casos.
A reportagem apurou que
Queiroz foi afastado da investigação porque omitiu informações de seus superiores. Não
contou, por exemplo, que iria
pedir a prisão do ex-deputado
federal Luiz Eduardo Greenhalgh (PT) nem que interceptou conversas dele com o chefe-de-gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho.
A prisão de Greenhalgh, acusado de ser lobista de Daniel
Dantas, foi rejeitada pela Justiça. Ele nega qualquer irregularidade e afirma que apenas advoga para o banqueiro.
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