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REGIME MILITAR
Ex-presos dizem querer acareação com delegado
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Ex-presos políticos disseram estar dispostos a ficar frente a frente
com o delegado Aparecido Laertes Calandra, que nega ser o capitão Ubirajara -nome de guerra
utilizado por ele durante o período em que atuou no DOI-Codi
paulista, uma das centrais de repressão do regime militar, no início dos anos 70.
Ex-militantes políticas, Maria
Amélia de Almeida Teles e Nádia
Lúcia Nascimento foram presas
na rua Tutóia, nš 921, onde funcionou a Operação Bandeirantes,
a Oban, e depois o DOI-Codi.
Acusada de subversão, Maria
Amélia foi presa em dezembro de
1972. Nádia, ex-militante do MR-8, grávida de quatro meses, acabou detida em abril de 1974.
"Ele não assume ser o capitão
Ubirajara por medo. Eu também
tive medo quando fui torturada
por ele. Mas hoje não tenho medo
e estou disposta a ficar frente a
frente com esse homem", disse
Nádia, que perdeu o filho após 15
dias de prisão e tortura.
A ex-militante do MR-8, disse
ter sido agredida pessoalmente
por Calandra. "Nunca a gente esquece o rosto de um torturador."
Maria Amélia, que também foi
interrogada pela equipe do capitão Ubirajara, disse não ter dúvidas de sua verdadeira identidade,
entretanto, ficar cara a cara com o
delegado, segundo ela, seria só
por um "ato político".
"Não tenho nenhuma vontade
de reencontrá-lo. Mas, se ocorrer
uma audiência pública, por um
ato político, eu aceito. Não seria
por vontade própria", disse.
Maria Amélia foi presa com os
filhos, o marido e a irmã. Na prisão, foi testemunha da morte do
colega Carlos Nicolau Danielli,
ex-dirigente do PC do B, após três
dias de tortura.
"Ninguém tem dúvida de que o
delegado Calandra é o capitão
Ubirajara. Qualquer pessoa que
passou pelo prédio da Oban sabe
que é ele, bem mais velho, com
barba, mas os traços ainda são os
mesmos", afirmou o presidente
nacional do PT, José Genoino, ex-guerrilheiro e ex-preso político.
Genoino, porém, não concorda
com uma acareação do delegado
com os ex-presos políticos.
"Não é por aí. Nem por razões
políticas. Nem por razões humanitárias. Não se faz isso porque a
ferida vai abrir e vai voltar a sangrar", afirmou o petista.
Homônimo
Calandra, em entrevista à Folha
na semana passada, disse ter sido
confundido com um homônimo.
"Não sou o capitão Ubirajara,
nem sou capitão, sou da Polícia
Civil e não tenho nada com essas
histórias", disse ele.
Com 37 anos de polícia, afirmou nunca ter trabalhado no
DOI-Codi e acusou Maria Amélia
-que o reconheceu em um foto
datada de 2001-, de "terrorista".
"Eu investiguei essa mulher, e
ela é uma terrorista", disse o delegado, que teria iniciado sua "investigação" após a Folha noticiar
o caso. Hoje, Calandra é o principal assessor do delegado diretor
do Dipol, Massilon José Bernardes Filho. Segundo funcionários
do prédio, os dois compartilham
o comando do departamento.
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