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CONGRESSO
42% dos deputados e senadores que foram mal avaliados por levantamento do Datafolha obtiveram novo mandato
32 parlamentares "fracos" são reeleitos
RANIER BRAGON
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
Desempenho parlamentar nem
sempre se reflete na urnas. Nas últimas eleições, 32 deputados federais e senadores de todo o país que
exerceram uma atividade congressual considerada fraca nos últimos quatro anos conseguiram,
mesmo assim, reeleger-se.
Representam 42% de um grupo
de 77 congressistas (83% desses
tentaram novo mandato) que tiveram um desempenho parlamentar "fraco" ou "muito fraco"
em Brasília, de acordo com avaliação feita pelo Datafolha e publicada pela Folha no último dia 27.
Entre esses políticos está o ex-ministro Affonso Camargo
(PSDB-PR), que, a despeito de ter
obtido o conceito "atuação fraca"
no Datafolha (veja nesta página os
critérios de avaliação utilizados),
foi reeleito com a maior votação
de seu Estado: 141.870 votos.
Outro caso de destaque é o do
deputado federal Vittorio Medioli
(PSDB-MG), reeleito como o deputado mais votado de seu partido no Estado, apesar de sua atuação congressual ser considerada
"muito fraca" pelo Datafolha.
De acordo com o cientista político José Monroe Eisenberg, do
Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, "existe uma
dissociação muito grande entre a
avaliação do trabalho parlamentar e o resultado das urnas".
Eisenberg afirma acreditar que
o acompanhamento do trabalho
dos congressistas é feito de forma
"superficial e panorâmica" pelo
eleitorado. "As pessoas acompanham o Parlamento, os partidos,
os líderes da bancada. Elas têm
uma visão geral da atividade congressual e não a visão do seu candidato", diz.
Segundo o cientista político,
dois fatores que pesam muito
mais do que o trabalho em Brasília são o desempenho global do
partido nas eleições e a atuação do
congressista nos seus redutos eleitorais.
"A maior parte do eleitorado vai
reeleger deputados que, independentemente da sua participação
na Câmara, nas comissões, foram
capazes de mobilizar recursos para a sua região. É uma forma de
fazer política, distrital, que não
tem nada de irracional ou estranho", afirmou.
Eisenberg ressalta que há casos
isolados de "consagração" pela
atuação no Congresso. Esse seria
o caso, segundo ele, do deputado
federal Aldo Rebelo (PC do B-SP),
entre outros. Rebelo presidiu a
CPI (Comissão Parlamentar de
Inquérito) que investigou irregularidades no futebol brasileiro.
Atuantes
No grupo de 324 deputados e senadores que foram avaliados pelo
Datafolha como "atuantes" ou
"muito atuantes", 180 (56%) conseguiram se reeleger, sendo que
78% do grupo eram candidatos a
um novo mandato no Congresso.
O número leva à constatação de
que 73 congressistas, embora tenham exercido uma atividade
parlamentar muito bem avaliada,
não conseguiram se reeleger.
Esses são os casos, por exemplo,
do líder do governo no Senado,
Artur da Távola (PSDB-RJ), considerado "atuante", mas que ficou
em quinto na disputa no Rio de
Janeiro, e do deputado federal Régis Cavalcante (PPS-AL), o único
classificado como "muito atuante" em seu Estado, mas que ficou
mais de 13 mil votos atrás do último deputado federal eleito por
Alagoas.
Na opinião do professor universitário Bruno Burgarelli, mestre
em Direito Constitucional pela
Universidade Federal de Minas
Gerais, os números acima mostram que, embora a consciência
eleitoral esteja longe do ideal, a
maior publicidade do trabalho
parlamentar estaria influenciando o eleitor na hora do voto.
"Iniciativas como a TV Câmara,
a TV Senado, aliadas ao acompanhamento feito pela imprensa,
têm, com certeza, auxiliado o eleitor na hora de definir o seu voto",
afirmou Burgarelli.
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