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GOVERNADOR
Voto família
Filhos dos candidatos a governador de São Paulo passariam despercebidos entre os milhões de jovens de classe média
MARILIZ PEREIRA JORGE
DA REVISTA DA FOLHA
Não fossem os sobrenomes, os
filhos dos dois candidatos que
disputam o governo de São Paulo
poderiam passar despercebidos
entre os milhões de jovens brasileiros no fim ou recém-saídos da
adolescência. Com idades entre 17
e 22 anos, os herdeiros de Geraldo
Alckmin (PSDB) e José Genoino
(PT), três de cada lado, levam
uma vida típica de classe média:
cortam o cabelo no salão do bairro desde criança, andam de carro
popular (os que têm), economizam dinheiro para baladas, vão ao
cinema nos fins de semana e sonham com viagens.
Os mais velhos trabalham para
ter o próprio dinheiro, caso de Sophia e Geraldo Alckmin Neto e de
Miruna Genoino. Os mais novos
recebem mesadas e aí o petista é
mais mão-aberta que o tucano:
Ronan e Mariana Genoino ganham, respectivamente, R$ 350 e
R$ 120 por mês; Thomaz Alckmin, R$ 100. "Meus irmãos me
dão uma força quando preciso de
um extra no orçamento", explica
o caçula do governador.
Thomaz e Geraldo só ganharam
quartos individuais no ano passado, quando a família se mudou
para o Palácio dos Bandeirantes,
mas continuam dividindo o guarda-roupa e até o vidro de perfume, o clássico Azarro. Nem o pai
escapa dos empréstimos. "Desde
que comecei a trabalhar no banco, uso terno, camisa, gravata e
até meias dele", conta Geraldo.
Na família Alckmin, o perfil de
consumidor de elite se resume a
Sophia, que veste roupas de grife,
frequenta restaurantes da moda e
faz viagens internacionais frequentes. Tudo, ela gosta de ressaltar, bancado com o salário que recebe na Daslu, onde trabalha há
três anos. Ela não revela, mas calcula-se que uma vendedora receba ali cerca de R$ 8.000. "Trabalho para viajar. Já conheço Roma,
Paris, Turquia e Grécia", diz.
Sorte dela. O máximo a que seus
irmãos "despossuídos" conheceram foi Paraguai e Argentina, numa viagem familiar "esticada" de
Foz do Iguaçu. "Todo mundo
acha que filho de governador tem
dinheiro, mas a gente nunca foi rico. Você acha que tenho uma moto velha porque quero? Quem
gosta de moto velha é colecionador", brinca Thomaz.
No clã Genoino, a mais velha,
Miruna, também trabalha, mas o
salário de professora de escola infantil não permite tantos vôos. Ela
passa férias na casa de uma tia em
Ubatuba, já fez um mês de intercâmbio na Inglaterra e se prepara
para passar um ano na Espanha,
seu "presente de formatura". Ronan, por enquanto, só foi à Disney
por 15 dias; Mariana, nem isso.
No fim de semana, o programa
é cinema. Tanto Thomaz Alckmin como os Genoino frequentam o mesmo, no shopping Villa
Lobos. "Dos que gosto, é o mais
perto de casa. E tem uma livraria
que meu pai adora", diz Miruna.
A vida da família petista está
concentrada no entorno do Butantã, onde moram em um sobrado de três quartos. Eles fazem
compras no Carrefour e no sacolão Oba, frequentam a piscina da
USP e cortam o cabelo "com a Fátima", no salão Maestrus (R$ 20 o
feminino, R$ 10 o masculino).
A rotina dos Alckmin mudou
desde 2001, quando se mudaram
do três dormitórios que ocupavam no Morumbi para o Palácio
dos Bandeirantes. "O apartamento em que a gente morava é do tamanho da sala daqui", compara
Thomaz, na ala residencial do palácio. Hoje, o convívio é mais rarefeito. "Eu, no meu quarto, falava com meu pai na sala, ou com
minha irmã no quarto dela. Agora, tem dias em que a gente nem
se vê, mesmo morando junto."
No sobrado ou no palácio, os
conflitos com os pais também são
típicos de jovens de classe média.
Sophia leva broncas porque deixa
o quarto bagunçado, Ronan foi
"enquadrado" pela mãe quando
quis dormir fora sem avisar, Geraldo Neto escondeu do pai um
olho roxo, e Mariana ganhou reclamações depois que colocou
um piercing no umbigo.
"Piercing? O que é isso?", estranhou Genoino, quando a filha
contou que tinha colocado o enfeite em uma viagem ao Nordeste.
"Sempre quis fazer, mas minha
mãe era contra. Em Porto Seguro,
não precisava de autorização e eu
aproveitei", conta a caçula, que
sofreu por causa de uma infecção,
mas exibe orgulhosa o resultado.
Mariana é fruto de uma relação
extraconjugal de Genoino com a
enfermeira Maria Goretti de Lima, 48, uma amiga de juventude
em Fortaleza, que ele reencontrou
anos depois em Brasília. Ela foi reconhecida, sempre teve contato
com o pai e sabia que ele tinha
uma família em São Paulo. O ramo paulista da família, porém, só
soube de sua existência em 1999,
por iniciativa de Genoino.
Broncas
Graças às dimensões do Palácio
dos Bandeirantes, Geraldo Neto
conseguiu evitar o pai por dois
dias e adiar um pouco a última
grande bronca que levou. "Mas
uma hora não teve jeito. Ele viu
meu olho roxo, que ganhei em
uma briga por uma menina. Ficou muito bravo por causa da briga e mais bravo porque escondi."
Exceção feita às broncas pontuais, os Alckmin e os Genoino dizem não ter do que reclamar.
Nunca tiveram, por exemplo, horário para voltar das baladas. "Defendo uma educação libertária,
baseada em muita conversa", define Genoino. "Não sou do tipo
controlador", diz Alckmin, que
adota uma linha "um pouco mais
dura" apenas com Sophia. "Ele
morre de ciúme de mim", diz a
garota. "Às vezes, estou no telefone do meu quarto, ele entra e fica
enrolando para saber com quem
estou falando. Mexe na estante,
abre um livro, pega chocolate na
gaveta e vai embora curioso."
Recentemente, Sophia despertou a curiosidade geral, inclusive
do filho do "concorrente", Ronan
Genoino. Entrevistado antes que
ela, o caçula petista fez uma encomenda à repórter: "Pergunta se
ela está namorando o Kaká [jogador do São Paulo"". "Não, somos
só amigos. Já vieram me dar parabéns por ter conquistado ele, mas
não tenho interesse", jura Sophia.
Na casa dos Genoino, se existe
um "queridinho", é Ronan.
"Acho que é a síndrome do filho
mais novo. Sempre fui saidinha,
dormia na casa de amigas desde
cedo. Quando o Ronan chegou ao
colegial, meus pais sofreram porque ele começou a sair, mas eles
ainda o viam como uma criança",
diz Miruna, batizada pela mãe
com o nome de uma rua do bairro
de Moema. "Estava na Paulista,
quando passou o ônibus "Aeroporto - via Miruna", me encantei
com o nome", conta Rioco.
Os herdeiros nem vacilam na
hora de defender o voto nos respectivos pais, mas a fidelidade
partidária acaba quando o assunto é futebol. Na casa do santista
Alckmin, Geraldo Neto e Thomaz
são corintianos; na do corintiano
(roxo) Genoino, Miruna é da Fiel,
mas Mariana e Ronan torcem para o tricolor, time de Sophia.
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