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SEGUNDO TURNO
Sem-terra desconfiam de linha light do PT; ruralistas guardam imagem de candidato como guerrilheiro do Araguaia
Genoino desagrada a sem-terra e a ruralistas
EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA,
NO PONTAL DO PARANAPANEMA
O atual discurso petista, concentrado na figura do candidato
do partido ao governo paulista,
José Genoino, tem desagradado e
levantado uma série de interrogações tanto de fazendeiros como
de sem-terra da região agrária
mais conflitante de São Paulo -o
Pontal do Paranapanema.
Na memória dos ruralistas, historicamente conservadores, ainda
surge a imagem radical de Genoino ligada à guerrilha do Araguaia,
da qual participou nos anos 70.
Do lado dos sem-terra, a desconfiança de que a linha "light" do PT
seja mantida após as eleições.
Na prática, em um eventual governo petista, os fazendeiros temem a invasão em massa das terras, enquanto os sem-terra nem
querem ouvir falar da possibilidade de a ala radical do PT ser posta
em segundo plano no Planalto.
Protagonistas de sequentes turbulências no Pontal, integrantes
do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e lideranças da UDR (União Democrática Ruralista) são unânimes em
apenas um ponto: o atual discurso petista é uma incógnita.
A excessiva colagem de Genoino na imagem do presidenciável
Luiz Inácio Lula da Silva é o principal motivo desse elevado grau
de desconfiança no Pontal (extremo oeste de SP) -palco rotineiro
de saques, invasões e troca de tiros e onde parte das terras foi grilada no século retrasado.
Dúvidas no ar
Ao MST, no mês passado, caiu
como uma ducha de água fria o
fato de a coordenação da campanha presidencial petista ter ficado
em cima do muro ao ser questionada se revogaria ou não a medida provisória que criminaliza as
invasões de terra. Isso porque, no
ano passado, o mesmo PT havia
movido uma ação direta de inconstitucionalidade contra a MP.
Criada por FHC, a medida provisória proíbe por dois anos as
avaliações e vistorias em terras invadidas, exclui da reforma agrária
os assentados que participarem
de invasões e suspende todos os
processos em tramitação.
"A MP foi criada para tentar nos
parar. Mas o governo pode prender todas as lideranças do movimento, pois o povo vai à luta. Corre-se o sério risco de perder o controle no campo", disse Cido Maia,
da coordenação estadual do MST.
Segundo a UDR, o temor de
eventuais governos petistas nos
âmbitos nacional e estadual rondam o dia-a-dia dos fazendeiros
do oeste paulista.
"O discurso do PT mudou às
vésperas das eleições, e eu não
acredito que o Lula e o Genoino
tenham mudado de idéia. Hoje
existe um temor dos fazendeiros",
disse Luiz Antônio Nabhan Garcia, presidente estadual da UDR.
Já Genoino se defende e diz que
seu "poder de negociação" evitará
os conflitos. "Não vou ser refém
de fazendeiros nem de sem-terra.
Vou me antecipar e negociar."
Para o geógrafo Bernardo Mançano Fernandes, professor da
Unesp e autor de trabalhos sobre
a questão agrária no Pontal, um
eventual governo petista terá de
criar imediatamente na região um
sistema de reforma agrária no
qual o número de famílias beneficiadas seja maior do que a demanda do MST. "[Para evitar novos conflitos" o PT tem que assentar mais rápido do que a capacidade que o MST tem de ocupar."
Propostas
As próprias propostas de Genoino trazem pontos de insatisfação às partes. Enquanto o PT disse
que "qualquer proposta séria de
desenvolvimento da região passa
por reaver para o Estado as terras
griladas" (motivo de irritação aos
ruralistas), Genoino afirmou em
seu programa eleitoral na TV que
não vai permitir invasões e, se elas
ocorrerem, "o governo vai garantir o cumprimento da lei" (ponto
de desagrado aos sem-terra).
Para Almir Soriano, ex-presidente da UDR paulista, o temor é
o de que um eventual governo petista no Estado não consiga impor
um pulso firme na região diante
dos anseios dos trabalhadores rurais. "Até ontem o Genoino era
um guerrilheiro."
Soriano concluiu: "embora o
discurso seja de respeito às regras,
uma boa fatia do PT é de esquerda
radical, como o MST. Se não houver pulso do Lula e do Genoino,
haverá ondas de invasões com
consequências desastrosas".
Para Cido Maia, eventuais governos petistas não modificarão a
pauta do MST. "O PT tem sua linha, e nós temos a nossa. Não interferimos na linha deles, e eles
não interferem na nossa."
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