Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui para conferir a correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo.
ELEIÇÕES 2008 / SÃO PAULO
ENTREVISTA
GERALDO ALCKMIN
Não há racha, só lasca; minha vitória favorece nome de Serra para 2010
À véspera da
convenção que
definirá se ele
será candidato
a prefeito de
São Paulo,
Alckmin diz
que não vê uma
cisão entre os
líderes tucanos
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL
À VÉSPERA da convenção tucana que definirá seu futuro político, o pré-candidato Geraldo Alckmin, 55, fez um apelo ao grupo ligado ao governador José Serra, favorável a
uma aliança com o prefeito Gilberto Kassab (DEM):
"A vitória do PSDB em São Paulo fortalece o Serra
porque quem vence são os tucanos paulistas".
FOLHA - Como o sr. está enfrentando as resistências à sua candidatura
dentro de seu próprio partido?
GERALDO ALCKMIN - Com absoluta serenidade. O que entusiasma é trabalhar pela população.
Acho que nós vamos ter uma
grande vitória do PSDB na convenção pela candidatura própria. Depois, muda a agenda,
que será discutir os problemas
de São Paulo.
FOLHA - O sr. sai fortalecido?
ALCKMIN - Sim, esse embate me
fará melhor candidato. Eu não
vejo problemas de haver disputa no partido.
FOLHA - O sr. acha que o governador José Serra deixou a desejar em
termos partidários neste seu momento difícil?
ALCKMIN - Vou citar José Ortega y Gasset [filósofo espanhol,
1883-1955]: "Eu sou eu e a minha circunstância". O governador José Serra, na própria Folha, já declarou que irá apoiar o
candidato de seu partido, como
eu sempre o apoiei, inclusive na
última eleição para a Prefeitura
de São Paulo, em 2004, meu
apoio foi decisivo em favor dele
porque a diferença foi pequena.
FOLHA - Uma vitória do sr. seria
uma vitória do governador de Minas
Gerais, Aécio Neves, em São Paulo?
ALCKMIN - Quem diz não está
querendo me ajudar, né? Este
ano é importante por si só. Nós
estamos discutindo a cidade,
2010 é outra eleição, desvinculada. Eu vejo o contrário, a vitória do PSDB em São Paulo fortalece o Serra porque quem
vence são os tucanos paulistas.
Eu sempre apoiei o Serra, em
todas as eleições, todas as eleições, e ele contará comigo.
FOLHA - Denúncias de pressão e
constrangimento na busca de
apoios na convenção [amanhã]
mostram que há no PSDB práticas
que ele condena em outras siglas?
ALCKMIN - Isso é lamentável.
Grave. Mas tenho confiança na
militância no partido. Não vejo
um racha no PSDB, vejo uma
lasquinha. A tese da candidatura própria é natural. Sempre tivemos candidatos a prefeito da
capital de São Paulo. Aliás, o
primeiro foi o Serra, em 1988.
Quando não tínhamos chance
nenhuma, lançamos nomes.
Hoje é totalmente diferente.
FOLHA - Não seria mais interessante o sr. esperar para disputar novamente o governo em 2010?
ALCKMIN - Não, estou amadurecido para ser um bom prefeito
com uma visão metropolitana.
FOLHA - Houve erro na condução
de sua relação com Serra e com o
prefeito Gilberto Kassab?
ALCKMIN - Eu entendo que no
segundo turno vamos estar todos juntos.
FOLHA - Mas e se o segundo turno
for entre o sr. e Kassab?
ALCKMIN - Acho pouco provável, mas, se isso acontecer, será
o sinal de que o PT se enfraqueceu demais em São Paulo.
FOLHA - A atual secretária da Educação do Estado, Maria Helena Guimarães de Castro, que esteve inclusive no seu governo, mas em outra
pasta, afirmou recentemente que
houve um desperdício R$ 2 bilhões
desperdiçados na área durante seu
mandato [2001-2206]. Isso não
mostra uma falta de sintonia entre o
sr. e o atual governo?
ALCKMIN - Eu só posso interpretar que isso está fora de contexto. Isso foi investimento em
professor, em educação. O que
eu posso fazer? Eu lamento que
ela tenha dito isso, até porque
ela foi injusta. Eu trabalho pela
população, eu deixo para trás
essa parte menor da política.
FOLHA - Como o sr. tem se preparado para a campanha e para o desafio, em caso de vitória, de comandar
uma cidade como São Paulo?
ALCKMIN - Fui candidato a prefeito da capital em 2000 e não
cheguei ao segundo turno por
7.000 votos. Depois, fui governador, candidato a presidente,
venci o presidente Lula em São
Paulo, enfim, estou preparado.
Tenho visitado outras cidades,
fui à Alemanha conhecer Berlim e Hamburgo. Quem coordenará nosso programa de governo é o doutor Dalmo Nogueira, foi secretário do Mario
Covas [1930-2001] e meu. Estou trazendo especialistas em
todas as áreas. Nossos avós
conquistaram o interior. Hoje,
o mundo moderno é urbano e
metropolitano. Esse é nosso
grande desafio e estímulo.
FOLHA - Qual será sua principal
bandeira de campanha?
ALCKMIN - Eu diria que o binômio revolução nos transportes
e diminuição de desigualdades.
Uma cidade mais justa, com
melhor qualidade de vida. É
claríssimo que, para melhorar o
trânsito, é preciso melhorar o
transporte coletivo com um
sistema troncal de alta capacidade, sobre trilhos e sobre
pneus. Mas eu também colocaria um outro enfoque, que é a
questão do planejamento urbano, você compatibilizar moradia e trabalho, estudo, lazer e
compras. Reduzir os deslocamentos, ter várias cidades bem
organizadas, subcentros.
FOLHA - Sua principal adversária,
Marta Suplicy [PT], é muito forte na
periferia. O sr. pretende jogar no terreno do inimigo?
ALCKMIN - Não, vou ao encontro do povo, onde ele está. É para isso que eu quero ser prefeito, eu já fui governador, eu quero ser prefeito, ficar perto das
pessoas. Eu me lembro de Alcântara Machado [jornalista
paulista, 1901-1935]: "Tenho a
paixão da gleba circunscrita".
FOLHA - Um juiz eleitoral multou a
Folha por conta da entrevista de
Marta Suplicy. O que o sr. pensa?
ALCKMIN - Em janeiro do ano
passado, eu estava estudando
nos EUA, e devo ter assistido a
um 15 ou 20 debates sobre todos os temas das eleição norte-americanas, que será só em novembro deste ano, depois até da
nossa. É dever da imprensa informar, e um direito do eleitor
ter acesso a elas. As entrevistas
têm interesse jornalístico.
FOLHA - São Paulo vem repetindo
ano a ano avaliações muito ruins na
área do ensino, uma bandeira do
PSDB. Por que o eleitor deve acreditar que o sr. fará diferente?
ALCKMIN - Há muito a fazer e a
avançar, mas, se nós pegarmos
os dados do Ideb, vocês vão verificar que o Estado de São Paulo superou as metas na quarta
série, na oitava série e no terceiro ano do ensino médio. Nós
avançamos. Eu vejo três prioridades na questão educacional
relativa ao município. A primeira é garantir o acesso ao ensino fundamental. Temos hoje
perto de 150 mil crianças fora
da escola. A outra, é melhorar a
qualidade da escola. A terceira
é com o jovem, melhorar a qualificação. Hoje, sobram vagas,
mas falta emprego. Aliás, eu
vou criar frentes de trabalho
emergenciais na cidade.
FOLHA - Em caso de vitória, o sr. pretende manter na prefeitura os tucanos
que já estão lá e apóiam Kassab?
ALCKMIN - Eu pretendo trabalhar com a melhor equipe, gente do PSDB, de outros partidos.
Não tem problema.
FOLHA - Não vão sobrar mágoas?
ALCKMIN - Imagine. Política eu
entendo como a arte de servir.
Estou absolutamente zen, e
olha que eu não faço acupuntura há quase um mês, por pura
falta de tempo.
FOLHA - O sr. acha que o atual governo do Estado está sendo enfático
na defesa do seu período e do período de Mario Covas no caso Alstom?
ALCKMIN - Tudo que eu sei sobre esse caso é pela imprensa.
Precisa ser esclarecido. Cabe ao
governo federal, que parece ter
documentos que nem o governo do Estado tem, cabe a ele esclarecer. Nós somos os maiores
interessados.
FOLHA - Mas, na prática, o PSDB
barrou a investigação na Assembléia paulista.
ALCKMIN - O Legislativo é outro
Poder, totalmente independente. Segundo, uma coisa é investigação séria, outra, é desgaste político em véspera de
eleição. Precisa haver cuidado.
As pessoas citadas como suspeitas são sérias, têm história.
FOLHA - O que o sr. acha de um diretor da Alstom [engenheiro José
Sidnei Colombo Martini] sair da Alstom para assumir uma empresa do
governo que é justamente a maior
cliente da multinacional francesa?
Não tem cheiro de promiscuidade?
ALCKMIN - Eu não tenho detalhes disso. Volto a repetir: precisa ser investigado. Ele não foi
nomeado para um fim específico, as empresa têm "n" contratos. Aliás, o maior cliente da
Alstom no Brasil não é o Estado
de São Paulo. O que você tem é
a suspeita de que a Alstom teria
pago propinas no Brasil, na
América Latina, na África. Investiga, esclarece. Não se pode
ficar usando isso para atingir
determinadas pessoas, em pílulas nos jornais.
FOLHA - O sr. acredita que no governo Covas e no seu não houve irregularidades?
ALCKMIN - Eu acho que essas
coisas precisam ser provadas.
Se forem, punição. Transparência. O Covas foi um grande
exemplo de honradez e de probidade administrativa.
FOLHA - O sr. sempre busca não
confrontar o governador Serra...
ALCKMIN - Eu não tenho nenhuma razão. Não há conflito
nem de projetos políticos, o que
seria até legítimo.
FOLHA - E com o Kassab?
ALCKMIN - Também não. O
Kassab não é meu adversário.
Ele é competidor, no primeiro
turno. No segundo turno vamos estar todos juntos.
FOLHA - Quando forem colocados
projetos do sr. e do Kassab, eles serão parecidos?
ALCKMIN - As coisas positivas
vão ter continuidade. Aliás, não
só do atual governo. Também
dos governos anteriores. É uma
corrida de revezamento. O
CEU é uma proposta boa, por
exemplo. Você leva a quem
mais precisa, não só escola, mas
uma atividade cultural e esportiva. O grande problema é uma
tarefa que é só da prefeitura,
ensino de zero a seis anos. Pretendo fazer uma campanha falando com o munícipe.
FOLHA - Se um eleitor perguntar
por que votar no sr. e não no Kassab,
o que o sr. responderá?
ALCKMIN - Não me julgo melhor
do que ninguém. Agora, adquiri
experiência e vivência para fazer um bom trabalho. Tenho
absoluta confiança de que posso ser um grande prefeito. Eu
enxergo as pessoas, enxergo o
sofrimento das pessoas. Vou
trabalhar muito para melhorar
a vida da população.
FOLHA - Como vê a conclusão do
inquérito da Linha 4 responsabilizando o Metrô numa obra que começou no seu governo?
ALCKMIN - Segurança de obra é
uma tarefa diária. Não sou técnico. Eu deixei o governo em
março de 2006, quase um ano
antes. Agora, eu não tenho informação detalhada para fazer
o julgamento em relação a isso.
Vejo que precisa ser verificado.
Mas o Metrô tem um corpo técnico de altíssimo gabarito.
Texto Anterior: ABI faz protesto contra punição à Folha e à "Veja" Próximo Texto: Frases Índice
|