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JANIO DE FREITAS
A nova trapaça
As pesquisas tiraram muito
da graça das campanhas eleitorais. A longa e crescente expectativa gerada pelas disputas, formando torcidas empolgadas em
uma disputa própria, diluiu-se no
conhecimento quase diário, quase burocrático, de cada passo dos
candidatos na escala das preferências eleitorais.
A sondagem das preferências
dependia de uma qualidade superior: a sensibilidade, no caso,
para captar as realidades regionais e o que poderia fazê-las tender eleitoralmente em ou um outro sentido. Carlos Castello Branco, eminência do jornalismo político, contava os Estados em que
Jânio Quadros, candidato à Presidência, divergiu das estimativas
dos políticos regionais e acertou
com aproximações inexplicáveis,
até em Estados tão distantes da
sua área como o Pará.
As pesquisas começaram sendo
boas, sobretudo, para os meios de
comunicação, pelo interesse que
estimulava as vendas e a audiência. Hoje são úteis, sobretudo, para os candidatos e para as empresas que as comercializam (só o
Datafolha as faz sem fins comerciais). Mas não melhoraram as
campanhas em sentido algum, se
é que não as mediocrizaram, ou
mediocrizaram mais.
Sua contribuição de importância maior consistiu, até há pouco,
na influência que despersonalizou o eleitor, tornando sua preferência fútil e volátil. É neste território da inconsistência progressiva que o marqueteiro eleitoral penetra com suas técnicas de vender
salsicha.
Na presente campanha está
consagrada outra contribuição
muito significativa das pesquisas
eleitorais. É o seu papel de instrumento de lucros inconfessáveis
em especulação com o valor do
dólar e de títulos. O mecanismo é
espertíssimo: o especulador (têm
sido banco e corretora) encomenda uma pesquisa e fica sabendo
seu resultado dois ou três dias antes da divulgação, tempo em que
compra ou vende dólar, segundo
a reação previsível do mercado de
câmbio à nova situação eleitoral.
Como reforço, pode ser, a um só
tempo, o dono da pesquisa, o negociante no câmbio e o autor de
boatos que agitem o mercado na
direção que lhe convenha.
Este novo tipo de lucro fácil está
muito aplicado na atual eleição.
Há indícios captados, com a identificação dos especuladores, e
muitos outros captáveis sem dificuldade pelo Banco Central. Mas
providência efetiva, nenhuma.
Pedro Malan e Armínio Fraga estão ocupados na tentativa de
comprometer os candidatos com
as teses sufocantes da economia
ou, se não, desgastar-se nas manchetes ácidas da mídia.
Muito bem escolhida a camisa
da seleção que Armínio Fraga
vestiu a meio da semana, com a
inscrição, nas costas, "Federative
Republic of Brazil". E, mais abaixo, a propaganda "Goldman,
Sachs & Co." e "Merrill Lynch &
Co.", duas das empresas de especulação internacional que lançaram ataques ao Brasil com s.
Pratos cheios
Depois dizem que é contrapropaganda. Alguns se zangam. Mas
é só irresistível.
Ciro Gomes faz boa palestra sobre suas idéias para o pessoal do
esporte, mas defende Ricardo Teixeira, presidente da CBF. Com isso, dá motivo a ataque da mídia,
que não faltou, e predispõe para a
simpatia com a palestra de José
Serra (Lula da Silva não foi ao
amplo encontro).
O que faz Serra com a oportunidade? Faz boa exposição, com
muitos dados e respectivas avaliações. E, ponto crucial, informa
o que será o atual Ministério dos
Esportes na eventualidade de um
governo Serra. Deixa de existir.
Recolhe-se a uma secretaria. O
pessoal do esporte saiu com a única sensação possível -a de que
seria desprestigiado.
Como foi noticiado, o comício
de Serra programado para ontem
em Cascavel, Paraná, era a oferta
de alimentação, com convites logo apelidados de vale-rango.
Candidato governista oferecer comida ao povão é dar um prato
cheio à oposição.
Para um candidato sem assessoria suficiente, se virando como
pode, vá lá. Mas a quantidade e o
gasto da candidatura Serra com
assessorias, de todos os tipos, daria para servir bem a todos os
candidatos a presidente e mais alguns.
Não é à toa que alguns antigos
estão citando muito o general
Lott, candidato à Presidência
contra Jânio Quadros. Em Pernambuco, por exemplo, levou Miguel Arraes ao desespero: em comício para agricultores, no interior, sustentou que o mal do Brasil era a incapacidade dos seus
ouvintes e dos agricultores todos,
que não sabiam plantar. E resolveu ensinar os milhares presentes
a fazê-lo.
Veio a televisão como cabo eleitoral, vieram as pesquisas, vieram
os marqueteiros, vem o crime financeiro, mas as campanhas não
melhoraram, se é que tudo não as fez muito mais medíocres.
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