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SOCIALISMO FASHION
Nem biquíni de Gisele com Che une esquerda
ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL
Para que não a acusem de incoerência, a esquerda brasileira
sai dividida nas próximas eleições
e se conserva assim também
quando o assunto é a recente
aliança entre Gisele Bündchen e
Che Guevara. Uns a reverenciam
sem culpa. Outros a tomam por
trapaça burguesa.
Fato político mais exuberante
da semana, a coligação ganhou
corpo (e que corpo) na noite da
última segunda-feira, tão logo a
top model gaúcha despontou sobre a passarela da São Paulo Fashion Week. Delgada, demolidora,
vestia um biquíni repleto de Ches.
O jornalista Elio Gaspari contou
15 só na parte de trás e prontamente anunciou o número em
sua coluna de quarta-feira. Como
bolinhas ou flores campestres, a
face do guerrilheiro argentino
-verde, azul, branca- salpicava
todo o traje de banho.
Era o mesmo rosto que o fotógrafo cubano Alberto Korda flagrou em 1960. A imagem se converteu, então, num dos principais
símbolos da revolução comunista
liderada por Fidel Castro. Depois,
migrou para a seara dos ícones
pop. Nas duas condições, frequenta camisetas, bottons e pôsteres, não raro em companhia do
lema "Hay que endurecerse, pero
sin perder la ternura jamás".
Ternura que o metalúrgico José
Maria de Almeida, candidato do
PSTU à Presidência, abandonou
mal teve notícias do que se passara na Fashion Week. "Um despropósito. Che virou mito porque lutava contra a desigualdade social e
a exclusão. Não merecia estar
num desfile de luxo, que expressa
apenas a futilidade e o consumismo da burguesia. Quantas trabalhadoras poderiam comprar um
biquíni daqueles?"
Sem dúvida. A peça, confeccionada pela Cia. Marítima, custa R$
80. Mas se, por acaso, a trabalhadora ganhasse o biquíni e o usasse? "Não mudaria nada", insiste o
candidato. "Continuaria um negócio horrível e desrespeitoso.
Nem na Gisele ficou bonito."
Outro presidenciável de orientação trotskista -o tradutor Rui
Costa Pimenta, do PCO- prefere
ver o episódio como mais um indício de que o socialismo não
morreu. "As elites apregoam que
a história acabou e que a causa
operária já não seduz ninguém.
Acontece que a popularidade do
Che cresce diariamente, de tal
maneira que inventam um biquíni com a cara dele. Não é um artista que aparece lá, não é um roqueiro. É o Che, de boina e barba.
O revolucionário."
"Maravilha, maravilha", festeja
o deputado Aldo Rebelo, do PC
do B. "O Che, ali, só amplia as
qualidades da nossa Gisele, moça
simpática, muito generosa."
Dizendo-se avesso à política,
Benny Rosset, um dos donos da
Cia. Marítima, explica que adotou
a estampa do guerrilheiro por razões meramente estéticas. "Tanto
é que não pus o Fidel. O homem,
além de feio, não muda de roupa
há 40 anos."
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