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NO PLANALTO
Papai Noel de Lula traz a lista do PMDB
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Digamos que você se chama Lula da Silva. Mora
num país chamado Brasil. Educou-se na privação. Graduou-se
na adversidade.
Digamos que você foi à vida e
ao sucesso. Aprendeu um ofício.
Embrenhou-se no mundo sindical.
Digamos que, sob seu comando, os trabalhadores cometeram
o crime de existir. Pior: começaram a existir em grande quantidade.
Digamos que você liderou greves memoráveis. Vergou a espinha do regime dos generais. Pôs
de pé uma central sindical. Levado à cana, ganhou aura mítica.
Digamos que você fundou um
partido político. Legenda retilínea, ascética. Que vive a apontar
excessos de outras agremiações
-sinuosas, inconfiáveis.
Digamos que, politicamente,
você se situa à esquerda. Esquerda esclarecida. Do tipo que não
come criancinhas. E não deixa a
ideologia contaminar o senso
prático.
Digamos que você fracassou
em três tentativas de tornar-se
presidente. Tropeçou no preconceito. Foi vítima de uma farsa
(Collor) e de duas decepções
(FHC 1 e 2).
Digamos que você sacudiu a
poeira. Pôs-se a medir o chão do
país em caravanas romanescas.
Conheceu por dentro a nação em
que vive. Construiu teses, vendeu
saídas.
Digamos que você atazanou a
administração liberal de FHC.
Cobrou escritos esquecidos. Armou barricadas no Congresso.
Açulou marchas a Brasília.
Digamos que, escorado na ruína do tucanato, o seu partido
elegeu 187 prefeitos e 2.845 vereadores em 2000. Reconhecimento
ao hipotético "modo petista de
governar".
Digamos que em 2002, caminhando displicentemente por
uma rua de São Bernardo, você
tropeçou numa lâmpada mágica. O gênio disse que poderia pedir qualquer coisa. A vida eterna, uma noite com a reencarnação da Brigitte Bardot de sua
adolescência... Qualquer coisa.
Digamos que você pediu a Presidência da República. Queria o
poder para mudar tudo. O gênio
ajeitou as coisas. Deu-lhe o Alencar de vice, o Duda para o marketing e o Serra como adversário.
Digamos que você se elegeu
presidente. Com tantos votos que
está autorizado a fazer o que
bem entender. Finalmente no comando, pode impor a nova
agenda, fixar os novos rumos,
aplicar as receitas originais.
Digamos que você tomou posse
sob festa popular. Pronunciou o
discurso redentor. Prometeu
multiplicar pães e empregos.
Digamos que o gênio lhe apareceu de novo numa noite fria e
seca do Alvorada. Pronto a atender-lhe o segundo desejo, perguntou quais seriam as suas
prioridades.
Digamos que você coçou a cabeça, cofiou a barba, pediu tempo. O gênio, impaciente, disse
que você teve 20 anos de militância para pensar. Cobrou definições.
Digamos que você, meio sem
jeito, respondeu: "Quero eleger o
Sarney para a presidência do
Congresso, manter a política econômica do Malan, aprovar as reformas do tucanato e viajar mais
do que o FHC".
E o gênio, abespinhado: "Ora,
francamente, mágica tem limites. Você não precisa de mim.
Procure o PMDB". Enfiando-se
de volta no interior da lâmpada,
balbuciou: "Livre-se da Heloísa
Helena".
Digamos que você sabe que o
gênio não vai reaparecer para o
terceiro pedido. Não lhe resta senão esperar pela chegada redentora de Papai Noel.
O bom velhinho bem poderia
trazer uma velha revista com fotos de Brigitte Bardot exibindo a
garupa juvenil. Porém, guiando-se pelo aroma de doce pragmatismo que impregnou a atmosfera da Brasília petista, o mais provável é que ofereça a lista de ministeriáveis do PMDB. Conterá
de indesejáveis Eunícios a impensáveis Garibaldis.
2004 promete.
P.S.: Noticiou-se aqui, em 2 de
novembro, que Cristovam Buarque retardava providências para
fechar o ralo do Cefet/PA (Centro
Federal de Educação Tecnológica do Pará). Tem 7.000 alunos.
Vem sendo auditado desde 2001.
Documentaram-se desvios de R$
4,5 milhões. Gastos de R$ 7 milhões exalam mau cheiro. O buraco pode atingir R$ 11,5 milhões.
Informa-se agora, com satisfação, que Brasília acordou. Foi
demitido Sérgio Cabeça Braz.
Dirigiu a escola por arrastados
18 anos. Afastaram-se outras três
funcionárias. Cassou-se a aposentadoria de um quarto servidor. Alvíssaras.
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