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Elio Gaspari
O "Claudio" da Alstom e o garrote tucano
Abafaram o caso na Assembléia paulista
e ele reapareceu em todo o mundo, no "Wall Street Journal"
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A TROPA DE choque do governador
José Serra na Assembléia Legislativa de São Paulo impediu, pela segunda vez, que a CPI da Eletropaulo discutisse as maracutaias da fornecedora de
equipamentos Alstom com os governos
tucanos. Derrubaram requerimentos de
convocação de ex-administradores e rejeitaram até mesmo requisições de documentos relacionados com uma investigação que segue seu curso na Suíça e na
França.
Para quem queria manter o caso longe
da luz do sol, o garrote da Assembléia pareceu um capuz eficaz. Faltou combinar
com o "Wall Street Journal" e com os
promotores europeus. Dois dias depois
da vitória da tropa de choque, três repórteres, trabalhando em Paris, Berlim e
São Paulo expuseram pela segunda vez
as propinas da Alstom.
A investigação suíça chegou a um arquivo de 11 pastas guardado na casa da
secretária de um banqueiro, em Zurique.
Lá está documentado que, em 1997, a
Alstom começou a pagar propinas a um
intermediário brasileiro. Deram-lhe o
codinome de "Claudio Mendes" e repassaram-lhe pelo menos US$ 5 milhões.
Esse dinheiro azeitava contratos de
compra de equipamentos para hidrelétricas e o Metrô de São Paulo.
A Alstom e "Claudio Mendes" montaram uma lavanderia internacional de
propinas. Alguns tintureiros já apareceram. Entre 1998 e 2001, o engenheiro
José Geraldo Villas Boas, ex-presidente
da Cesp, recebeu US$ 1,4 milhão da
Alstom. Villas Boas assegura que prestou
serviços à empreiteira, mas reconhece
que outros pagamentos eram fictícios.
Quais? "O quê, você quer que eu leve
um tiro?"
A suposição de que o caso da Als-
tom pode ser abafado é produto da arrogância.
José Serra, sua tropa de choque e os
grão-tucanos ganharam a companhia de
"Claudio Mendes". Quem é ele? Como
não é ninguém, a operação abafa produzirá um só resultado: "Claudio Mendes"
serão aqueles que não quiserem ouvir falar da Alstom.
O LIVRO DA BUSCA DA BOBINA PERDIDA
Está nas livrarias a bonita
narrativa de um caso de aventura, afeto e competência acadêmica. É "Memória do Jongo - As Gravações Históricas
de Stanley Stein, Vassouras".
Em 1948, um casal de historiadores americanos vivia numa pensão e pesquisava a sociedade do café na última metade do século 19. Disso resultou o livro "Vassouras, um
Município Brasileiro do Café,
1850-1900", publicado em
1957 no Estados Unidos. Nele,
Stanley Stein inovou a pesquisa histórica do período.
Entendeu o andar de cima,
mostrou o de baixo e escreveu
um clássico da historiografia
americana.
Nas suas andanças por Vassouras, Stein carregava um
gravador de bobina. Registrou
81 pontos de jongo, batuques,
cantigas e sambas. Transcreveu alguns jongos em seu livro e guardou a bobina numa
caixa e lá ela ficou durante
mais de meio século. O antropólogo Gustavo Pacheco soube desse tesouro e, em 1999,
encontrou-se com Stein na
Universidade de Princeton,
mas o professor não sabia onde pusera a caixa. Achou-a em
2003. O carretel veio para o
Brasil e o som guardado no fio
de metal magnetizado foi
transposto para CDs. Agora a
relíquia de Stein vem num envelope colado à contracapa do
livro. É emocionante ouvi-lo:
"Com tanta fava na horta
Canguro tá com fome"
"Jongo" tem cinco textos.
Um, de Stein, contando sua
viagem com a humildade dos
sábios. Noutro, Pacheco narra
o êxito de sua perseverança.
Sílvia Hunold Lara mostra o
caminho de Stein transformando Vassouras do café no
"Vassouras" da história brasileira. As professoras Hebe
Mattos e Martha Abreu fazem
um passeio sobre a música
dos negros e os jongos. Robert
Sleenes leva a batucada das
senzalas às suas origens centro-africanas.
"Jongo" é tão bom que demanda agradecimento à Petrobras por tê-lo patrocinado.
TENENTE NATASHA
Madame Natasha procura defender o idioma. Ela ralou 21
anos de ditadura, durante os
quais as proclamações dos comandantes militares da ocasião
maltrataram a verdade e o idioma. A senhora resolveu conceder
uma de suas bolsas de estudo ao
general Adhemar da Costa Machado Filho, chefe do Centro de
Comunicação Social do Exército,
pela pérola colocada numa nota
divulgada na segunda-feira. Tratava da chacina dos três moradores da Providência e explicava a
entrada da tropa na maloca eleitoral do senador Marcelo Crivella: "O Comando do Exército decidiu participar do empreendimento para revitalizar moradias
naquela área". Natasha acredita
que o general poderia evitar o
uso do verbo "revitalizar" quando lida com objetos inanimados.
Sobretudo porque a tropa do
Exército ajudou a desvitalizar
três cidadãos, chamados pelos
escribas do Comando do Leste
de "elementos".
COTAS
Talvez os comandantes militares não saibam, mas o tráfico
do morro da Providência sempre acreditou que tinha uma
cota de operários na mão-de-obra do "empreendimento" de
Crivelópolis.
RECORDAR É VIVER
Houve um ano em que a conta de caviar da falecida Varig ficou em US$ 6 milhões. Sem
exagerar na qualidade, com esse dinheiro compravam-se seis
toneladas do produto.
HIDRA DA VARIG
A nova sociedade de interessados na VarigLog tem futuro.
É uma cruza do mensalão mineiro do ex-vice-governador
Clésio Andrade com o Sivam
amazônico do ex-senador Gilberto Miranda.
GORE E A AMAZÔNIA
O ambientalista americano
Tom Lovejoy contribui na busca
da autoria da frase "ao contrário
do que os brasileiros pensam, a
Amazônia não é deles, ela pertence a todos nós". Há quase 20
anos ela é erradamente atribuída
ao ex-vice-presidente Al Gore.
Seu verdadeiro dono é Bob Kasten, que à época era senador pelo
Estado do Wisconsin.
Aos fatos: em janeiro de 1989,
Gore visitou a Amazônia em
companhia de outros dois senadores. Semanas depois houve
uma cerimônia em Washington,
dedicada à memória de Chico
Mendes, assassinado um mês
antes. Gore ouviu a maldita frase
de Kasten e comentou com Lovejoy, que estava ao seu lado: "O
Brasil não vai gostar disso".
LULA, MÃE DA BANCA
No início do ano passado, a
banca temeu que a queda dos juros encostasse a rentabilidade
das cadernetas de poupança na
do papelório financeiro. Começou a chorar e recebeu um presente. O governo tungou a poupança, comendo 5,5% do rendimento anual da patuléia. Quem
tinha R$ 1.000 e ganhava R$ 6,80
mensais e ficou com R$ 5,80.
Nosso Guia avançou nos rendimentos de 75 milhões de contas,
para defender o ervanário de 11
milhões de cotistas dos fundos,
remunerados por muito tempo
com o dobro do que recebia a
poupança.
A tunga ocorreu quando o fenômeno era apenas um receio.
O mês de maio fechou com
uma inflação de 0,79% no IPCA e
as cadernetas renderam R$ 0,57.
Quem tinha R$ 1.000 aplicados
já perdeu R$ 2,10, o preço de
uma passagem de ônibus no Rio
de Janeiro. Se o andar de baixo
compra carro, o Ministério da
Fazenda fala em explosão do
consumo. Se ele resolve não consumir e passa a poupar, vão lá e
tomam o dinheiro dele.
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