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Dantas pagou R$ 255 mil a amigo de governador do PT
Ligado a Jaques Wagner, Guilherme Martins, o Guiga, é investigado pela PF como lobista
Valor aparece em auditoria feita na BrT; de acordo com documento, publicitário teria afirmado ser "muito próximo" do presidente Lula
FERNANDO BARROS DE MELLO
RUBENS VALENTE
ANA FLOR
DA REPORTAGEM LOCAL
Investigado pela Operação
Satiagraha, da Polícia Federal,
como suposto responsável pelos "contatos políticos" do banqueiro Daniel Dantas, o publicitário Guilherme Henrique
Sodré Martins, o Guiga, recebeu R$ 255 mil em 2005 da
Brasil Telecom, à época controlada pelo Opportunity.
O pagamento aparece em auditoria feita em 2005 pelos novos controladores da BrT. Conforme o documento, o serviço
prestado por Martins "pode ser
entendido como lobby".
Após ter seu nome citado no
escândalo que envolveu a empreiteira Gautama, no ano passado, Martins foi descrito pelo
governador da Bahia, Jaques
Wagner (PT), como seu "melhor amigo". No último dia 11,
porém, Wagner disse se sentir
"desconfortável" com a proximidade de Martins.
Segundo a auditoria, o publicitário disse, em entrevista aos
auditores, que "mantém contatos com diversos parlamentares, além de ser muito próximo
do presidente [Luiz Inácio] Lula [da Silva], em função da relação de anos com o PT". Ele também citou o senador Heráclito
Fortes (DEM-PI).
Nos relatórios da Operação
Satiagraha, Martins aparece telefonando ao ex-deputado Luiz
Eduardo Greenhalgh (PT-SP)
para que ele obtivesse informações com o chefe-de-gabinete
de Lula, Gilberto Carvalho, sobre uma nova investigação federal contra o banqueiro.
Martins também recebeu telefonemas de Humberto Braz,
ex-presidente da Brasil Telecom, preso sob acusação de
tentar subornar, com US$ 1 milhão, delegados da PF. Braz pedia informações sobre a eventual investigação.
De acordo com a auditoria,
também foi Braz que, na BrT,
"contatou" Martins em 2004. O
publicitário teria dito aos auditores que isso ocorreu "devido
aos serviços prestados em assessoria parlamentar para a Telemar desde 2001".
O delegado que conduzia a
Satiagraha, Protógenes Queiroz, chegou a pedir a prisão
temporária de Martins, mas o
pedido foi negado pelo juiz da
6ª Vara Federal Criminal de
São Paulo, Fausto De Sanctis.
Martins é fundador e sócio-diretor da GLT Comunicações,
cadastrada no governo federal
e na BrT como empresa de publicidade. A auditoria, contudo,
apontou: "O objeto [do contrato] são serviços de consultoria
em telecomunicações no âmbito do poder legislativo (pode
ser entendido como lobby)".
A auditoria constatou que os
valores pagos à GLT evoluíram
mês a mês em 2005. Começou
com R$ 29 mil, pulou para R$
45 mil e acabou em R$ 72 mil
mensais. Na entrevista concedida aos auditores, Martins teria dito que a GLT foi fundada
em 1993 e que atuava na área de
"assessoria legislativa".
Documentos
O valor do contratos consta
de documentos inéditos obtidos pela Folha, que integram a
auditoria realizada pela CTIS
Global, contratada pela BrT. O
trabalho analisou a gestão de
Dantas na telefônica.
Em 2004, quando Sodré fez
seu primeiro contrato com a
BrT, Jaques Wagner era ministro do Desenvolvimento Econômico e Social. Em julho de
2005, assumiu a pasta de Relações Institucionais. Martins foi
casado com Fátima Mendonça,
mulher do governador baiano.
A Folha apurou que foi Martins quem indicou a Lula o acupunturista Gu Han Chu, que
tratou da sua bursite em 2004.
Martins, antes de ser publicitário, exercia a ortopedia.
Ainda em 2004, a GLT Comunicações assumiu a assessoria da empreiteira Gautama, de
Zuleido Veras, pivô da Operação Navalha, deflagrada pela
PF em 2007. Em maio daquele
ano, quando estourou o escândalo, Wagner disse que Martins era seu melhor amigo. Foi
ele quem, segundo Wagner, pediu emprestado a Veras a lancha em que o petista e a ministra Dilma Rousseff passearam
em Salvador em 2006.
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