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JANIO DE FREITAS
Os tiros perdidos
A resposta intermediada pelo Datafolha veio clara e forte,
com muito mais eloquência e firmeza do que a esperada, por todos os lados, diante da interrogação que dominou a semana: qual
será o efeito dos pesados ataques,
até abertamente antiéticos e fraudulentos, do programa de José
Serra contra Luiz Inácio Lula da
Silva?
Os quatro pontos ganhos por
Lula, correspondentes a crescimento de mais 10% de uma semana para outra, e a queda de
dois pontos de Serra respondem
ainda a outra pergunta: as altas
do dólar -a que não faltou a evidência de colaboração do Banco
Central- e os faniquitos dos especuladores da Bolsa chegam a
prejudicar Lula? A opinião generalizada tem sido afirmativa. A
dos números, não.
A lógica mais simples apóia os
números. Se três quartos do eleitorado declaram-se desejosos de
um governo que mude as atuais
políticas, o que também se evidencia pelos 75% que consideram
o atual governo entre regular e
péssimo, não tende a favorecer o
candidato governista a perda de
controle sobre o samba de uma
nota só do governo Fernando
Henrique, que é a aparência de
estabilidade do real. Pelo mesmo
motivo, a tese de "colagem" de
Serra em Fernando Henrique e
no governo, como tática eleitoral,
não deveria ter esquecido que o
grude é também para o negativo.
A ineficácia dos ataques baixos
a Lula, até agora, mostra que José
Serra poderia ter-se poupado de
aceitar o recurso, em seu programa no horário eleitoral, a métodos identificados com Collor e sua
turma. Ciro Gomes aliou-se a Serra, em ataques pesados a Lula,
sem, no entanto, alcançar o objetivo aparente de dificultar a solução no primeiro turno, nem conseguir defender a si próprio. Como os dois pontos perdidos por
Serra (21 para 19) e o ponto ganho
por Anthony Garotinho (14 para
15), os dois perdidos por Ciro (15
para 13) estão na oscilação admitida pela margem de erro da pesquisa, mas confirmaram a tendência esperada e o situaram em
último entre os quatro principais.
Ciro Gomes ganhou, judicialmente, o direito de examinar a
pesquisa do Ibope publicada na
última terça-feira. Isso vem coincidir com a preocupante diferença entre o Ibope, encomendado
pela Confederação Nacional da
Indústria, e o Datafolha. As datas
das sondagens não explicam tanta diferença. O Ibope pesquisou
na quarta e quinta, e o Datafolha,
na sexta, o primeiro divulgando
perda de dois pontos por Lula, ao
que o segundo contrapôs a subida
de 40% para 44%. Ciro ganha no
Ibope dois pontos que perde no
Datafolha. O único elemento de
coincidência são os 19% de Serra,
que aparecem pela terceira vez
consecutiva no Ibope e, no Datafolha, pela queda de dois pontos.
Em disputa eleitoral com papel
tão relevante atribuído às pesquisas, as divergências demasiadas e
inexplicadas tornam-se perturbadoras para o eleitorado. (Como
Ciro Gomes falou em influência
de interesses comerciais nas pesquisas, é útil reiterar que o Datafolha não faz pesquisas eleitorais
para candidatos, empresas ou entidades, senão apenas para uso
jornalístico).
Até por falta de alternativa, o
esperável é que Serra continue na
tentativa de "descontruir" ao menos um pedaço de Lula, para haver segundo turno. Como, porém, o método não lhe melhora o índice de aceitação no eleitorado, passa a correr o risco de agir por um segundo turno a que chegue anêmico demais. Ou, se não atentar para os inexpressivos quatro pontos que o distanciam de Garotinho, nem chegue lá.
Uma voz
A ministra da Justiça alemã,
Herta Daeubler-Gmelin, pode
perder o cargo por ter dito que
Bush quer guerra "para desviar a
atenção de suas dificuldades internas, um método usado por Hitler".
Falou por meio mundo.
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