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TRANSIÇÃO
Segundo Palocci, que comandará a economia, bastaria fazer "as mesmas coisas" que o futuro chefe da área política
"Seria fácil brigar com Dirceu", diz petista
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Antonio Palocci Filho diz que
seria "facílimo" brigar com José
Dirceu, futuro ministro-chefe da
Casa Civil, articulador político e,
como ele, homem forte do futuro
governo. Mas fala que isso não
acontece porque os dois têm missões diferentes.
Se um comanda a área econômica e o outro, a área política, caberá ao próprio presidente eleito
o comando da área social. Essa tarefa, segundo Palocci, Lula não
transfere a ninguém.
O futuro ministro revela que, ao
aceitar a Fazenda, colocou-se fora
da eventual disputa pelo governo
de São Paulo em 2006.
Médico sanitarista por formação, ele conta que usou óculos seis
anos sem precisar. Com dificuldade de ler, voltou a usar. Comprou
um novo par, do mesmo oculista
de FHC e Lula.
Os óculos novos não mudaram
a percepção da importância do
contraditório. Para Palocci, a esquerda petista, frequentemente
crítica da guinada social-democrata do partido, faz a riqueza do
pensamento da sigla.
Apesar disso, esse ex-trotskista
que conquistou boa interlocução
com o empresariado devido à
moderação e à cintura política diz
que a senadora Heloisa Helena
(PT-AL) "às vezes polemiza mais
do que seria necessário". Ela criticou a indicação do ex-banqueiro
Henrique Meirelles para a presidência do Banco Central.
Folha - Fala-se muito de conflitos
entre o sr. e José Dirceu.
Antonio Palocci Filho -Conheço
muito o Zé Dirceu, e ele me conhece muito. Seria facílimo brigar
com o Zé Dirceu. É só nós dois fazermos as mesmas coisas. A gente
brigaria muito. Então, tenho uma
convivência excelente porque temos um trabalho muito combinado: cuido de umas coisas, e ele,
de outras. E nós nos entendemos,
não houve nenhuma briga. Cada
um é um estilo, cada um fala de
uma forma, cada um tem a sua
área.
Folha - Sobre a posição da senadora Heloísa Helena, a posição dos
dois não é a mesma.
Palocci -Não critico a Heloisa
Helena [que não concordou com
a indicação de Meirelles para o
BC]. Ela às vezes polemiza mais
do que seria necessário.
Folha - Como ex-trotskista, o sr.
julga necessária a crítica da esquerda petista?
Palocci - Acho bom para o partido. Nunca fez mal ao PT ter posturas mais à esquerda em determinados momentos. Isso fez a riqueza do pensamento do PT,
construiu a democracia do PT.
Sempre digo para os prefeitos do
PT: se na sua cidade não tiver
oposição, cuidado, pode também
não ter governo.
O contraditório é fundamental.
Só precisamos zelar para que as
contradições ocorram num ambiente solidário.
Folha - O Dirceu comanda a área
política. O sr., a econômica. Quem
comandará a área social?
Palocci - O capitão do governo
da área social é o presidente Lula.
Ele não transfere a questão social
pra ninguém.
Folha - O sr. sempre é citado como
pré-candidato ao governo de São
Paulo em 2006. Nessa fila também
estão Aloizio Mercadante, José Genoino, José Dirceu, Marta Suplicy.
Quem é o primeiro da fila?
Palocci -Quando o presidente
definiu que eu devia ir para a Fazenda, imediatamente disse a ele
que estou fora de qualquer processo eleitoral, pelo menos a médio prazo.
É incompatível ter preocupações nesse campo e preparar
qualquer candidatura. Terei a
maior satisfação de apoiar qualquer um deles. É cedo para dizer o
nome, as coisas são dinâmicas.
Folha - É a primeira vez que o sr.
usa óculos?
Palocci - Após os 40 anos, uma
porcentagem muito pequena da
população dispensa os óculos.
Usei quando era jovem e, depois
de um seis anos, fui renovar a receita. Aí, oculista disse que não
precisava. Usei óculos à toa durante seis anos. Agora eu preciso,
mais para leitura.
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