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NO PLANALTO
Deus ganha o "green card" e vai ao paraíso
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A periferia do mundo
não se emenda. Veja o Iraque. Deu vexame na Guerra do
Golfo. Saddam revelou-se ditador
de ópera-bufa. Combateu com foguetes sem pontaria. Nenhum artefatozinho nuclear. Nada de armas químicas. Seus soldados renderam-se de joelhos, mendigando
água e comida.
Decorridos 12 anos, Saddam
ousou desrespeitar o ultimato do
segundo Bush que lhe cruzou o
caminho. Um Bush mais novo e
destemido que o anterior. Mata
com autoridade moral. Que ele
concede a si mesmo.
Os EUA honram a condição de
império. Têm soldados supernutridos. O quociente de inteligência
de suas armas supera o de seu
presidente. Não devem nada a
ninguém. Muito menos explicações.
Bush tem linha direta com
Deus. Dispõe-se a policiar o mundo. Quer levar liberdade e prosperidade ao povo iraquiano. Sujeito
bacana.
Deu prazo à ONU para encontrar as armas de destruição em
massa de Saddam. Os inspetores
não quiseram achar. Mas o arsenal está lá. Palavra da CIA.
Em desnecessária prova de tolerância, Bush ofereceu a Saddam e
filhos a oportunidade de dar no
pé. Mas a periferia não se enxerga. Só entende a linguagem das
bombas. Gente primitiva.
Antes que o primeiro míssil
caísse sobre Bagdá, Bush já prometia a reconstrução do Iraque.
Tarefa hercúlea. Nada, porém,
que um grupo de patrióticos empresários americanos não possa
ajeitar.
Os súditos involuntários de
Saddam não têm com o que se
preocupar. Despachado o demônio, os iraquianos serão aninhados no colo quentinho de Bush.
Comitê de transição, nomeado
pelas forças do bem, velará pelo
futuro da chusma. E dos poços de
petróleo, naturalmente.
Espanta que parte da Europa,
apegada a pruridos diplomáticos,
não enxergue o alcance da missão
civilizatória dos EUA.
Países como França e Alemanha acalentam a ilusão de que
poder e prontuários limpos são
coisas compatíveis.
Pregam, veja você, o respeito a
decisões da ONU. Temem pelo futuro do organismo. Bobagem. O
prédio das Nações Unidas fica em
área nobre de Nova York. Perdendo a serventia diplomática,
dará um belo shopping center.
Nada justifica o questionamento das boas intenções de Washington. Há anos vem socorrendo
a periferia. Concede-lhe empréstimos. E ensina como pagar os juros impagáveis. Mostra-lhe que a
abertura dos mercados é o caminho para o desenvolvimento.
Os EUA não compram tudo o
que tentam lhes empurrar. Generosidade tem limite. Mas compartilham a qualidade superior de
seus produtos com a bugrada do
mundo subdesenvolvido.
Costumava-se dizer que o americano havia aprendido uma lição no Vietnã. Verdade. Aprendeu que não tinha as armas apropriadas. Agora tem. E Bin Laden
aboliu a necessidade de exames
de consciência. As fronteiras do
império tornaram-se definitivamente elásticas.
Hoje, os limites da segurança
interna dos EUA estão no Afeganistão e no Iraque. Amanhã, pode
ser necessário abrir trincheiras na
Coréia do Norte. Depois de amanhã, na China e, quem sabe, no
Vaticano.
Desavisado, o papa andou pregando contra a guerra. Aconselha-se a João Paulo 2º que comece
a redigir uma carta de rendição
antecipada. Deus mudou de lado.
Ganhou um "green card". Chegou ao paraíso autêntico.
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