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JANIO DE FREITAS
A hora do Nobel
O prêmio Nobel tão ambicionado e sempre distante dos
brasileiros tem, afinal, maiores
chances: o ministro Pedro Malan
inventou a estabilidade instável,
equivalente à quadratura do círculo, e isso lhe permite concorrer
em duas categorias, a de Economia e a de Física. Impôs pesados
sacrifícios a 170 milhões de cobaias, mas, a credenciá-lo ainda
mais, demonstrou o método simples de aplicar sua invenção: nada fazer diante dos problemas
ou, se apertado, implorar dinheiro ao FMI.
Ninguém parece estar se dando
conta, mas o feito da política econômica mantida com aplausos
há oito anos não tem precedente
na história brasileira e poucos
países o alcançaram. Depois de
tudo o que imprensa e TVs aqui
têm dito sobre o arruinamento
argentino, estar o Brasil imediatamente atrás da própria Argentina, como segundo país em situação financeira mais crítica no
mundo, em apenas uma semana
ultrapassando até o cambaleante Equador e a pioral da África, a
Nigéria, tem um significado que
só não alarma a leviandade nacional.
O que dizem as matrizes da especulação internacional, elevadas a templos na religião endolarada dos Malans, é que o Brasil
está nas vésperas da Argentina. E
o que se pode dizer, diante disso,
é que só a sorte o livrará de que
um peteleco de mau jeito, de algum especulador, provoque a
implosão. Os Malans e sua política econômica apenas continuarão abúlicos, inertes e posudos.
Os Daniel
O declarado propósito de prejudicar a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva não invalida, a
priori, as acusações de João
Francisco Daniel, sobre um esquema de propinas na administração, em Santo André, do seu
irmão assassinado, Celso Daniel.
Há, porém, dois aspectos a serem
distinguidos nas acusações.
João Francisco Daniel, ele próprio envolvido em pedidos suspeitos à Prefeitura, refere-se a
propinas "para financiar as
campanhas de Marta e de Lula",
propinas cuja ocorrência, ou
não, o Ministério Público paulista investiga há tempos. O adendo
do Daniel sobrevivente é a finalidade que atribui, sem qualquer
elemento de convicção, ao dinheiro ilegal, assim favorecendo
os principais suspeitos de improbidades em benefício próprio.
O outro é a acusação à polícia e
ao Ministério Público, segundo a
qual "o processo de investigação
não foi bem conduzido, ele [o
prefeito Celso Daniel" foi assassinado porque se rebelou contra o
esquema" de propinas. Ou João
Francisco Daniel sabe mais do
que está dizendo, e a polícia paulista fica em má situação, ou a
afirmação indica um grau de leviandade que põe o próprio acusador sob suspeitas graves. Esse
segundo aspecto da atitude político-acusatória de João Francisco Daniel ainda não está sob a
necessária verificação.
Desde logo é possível notar
uma contradição esquisita no
que diz João Francisco Daniel.
Seu irmão prefeito estava incumbido de coordenar a campanha
de Lula, logo, aceitou a coordenação da campanha beneficiada
pela propina a que resolvera dar
fim.
A tragédia de Celso Daniel não
se encerrou no seu assassinato.
Primeiro, foi posto como vítima
de um crime passional de homossexualidade. Agora, como
personagem de um esquema de corrupção ativado sob sua autoridade de prefeito.
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