|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PT SOB SUSPEITA
Sócio da Rodvias, que presta serviços a cidades petistas, trabalha em secretaria da Prefeitura de São Paulo
Relação de empresa com PT é investigada
CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério Público Estadual,
que nesta semana apresentou denúncia de cobrança de propina
em Santo André para campanhas
do PT, com base em depoimento
de João Francisco Daniel, irmão
do prefeito assassinado da cidade,
Celso Daniel, investiga suposto
favorecimento da empresa Rodvias Engenharia Municipal.
A história da companhia é um
exemplo da interligação que existe entre petistas, suas empresas e
as administrações controladas
pelo partido.
A Rodvias tem como sócio Ricardo Pereira da Silva, que hoje
trabalha na Secretaria de Governo
da Prefeitura de São Paulo, chefiada por Rui Falcão, membro da
Executiva Nacional do PT.
Ela foi criada em fevereiro de
1997, ano em que o PT assumiu as
prefeituras de Santo André, Mauá
e Belém, entre outras.
Com essas três primeiras, manteve contratos que somam pelo
menos R$ 5,2 milhões.
6.900%
O objetivo da companhia é prestar serviços de assessoria nas
áreas de arquitetura e engenharia.
O capital social, na época, era de
R$ 5.000. Atualmente, é de R$ 350
mil -um aumento de 6.900% em
cinco anos.
Capital social é o investimento
que a empresa faz para começar a
funcionar. Os lucros gerados pelo
empreendimento podem ser
reinvestidos na própria empresa,
aumentando, assim, seu capital.
Outra forma de incrementá-lo é
por meio da entrada de novos sócios no negócio. No caso da Rodvias, isso não aconteceu.
Ricardo é engenheiro concursado da Prefeitura de São Paulo. Até
92, estava lotado na Secretaria das
Administrações Regionais, durante a gestão da ex-prefeita petista Luiza Erundina, hoje no PSB.
Quando o PT perdeu as eleições
em São Paulo, Ricardo mudou-se
para Santos e foi secretário de
Obras Públicas na administração
de David Capistrano (93-96).
Na mesma época, Klinger Luiz
de Oliveira Souza era chefe do Departamento de Vias Públicas, ligado diretamente à Secretaria de
Obras Públicas. Em 1996, Ricardo
foi substituído por Francisco
Eduardo Pasetto Lopes.
Com a eleição de Celso Daniel
(PT), em Santo André, Klinger foi
nomeado, em janeiro de 1997, secretário de Serviços Municipais,
onde está até hoje -na última
eleição para a Câmara Municipal,
Klinger foi eleito vereador, mas
retornou às suas funções na administração da cidade.
Sob seu comando estão contratos com empreiteiras de lixo, pavimentação e obras em geral. A
Empresa Pública de Transporte e
Trânsito (EPT) lhe é subordinada.
Atestado
Em junho de 1997, Klinger contratou, sem licitação, porque o valor não exigia, a Progeconsult,
com sede no Guarujá, para fazer
avaliação técnica do Hospital Municipal. O valor do contrato foi de
R$ 7.570. Um sócio da Progeconsult é Paulo de Ávila Pimenta.
Apesar de ser um serviço pequeno, a Progeconsult repassou
parte da tarefa à Rodvias. O contrato entre ambas, de R$ 2.150,
previa que a Rodvias faria uma
"avaliação técnica dos elementos
arquitetônicos do Hospital Municipal". Com o repasse, a Rodvias
obteve um atestado técnico que a
capacitaria para outras obras semelhantes. Meses depois, o dono
da Progeconsult aparece em documento da Rodvias como integrante de seu quadro de técnicos.
Outro contrato com a Prefeitura
de Santo André foi estabelecido
com a Rodvias em janeiro de 98.
Ela foi a única empresa a apresentar proposta para uma carta-convite que teve como objeto a execução de serviços de gerenciamento
de obras no Hospital Municipal
no qual havia trabalhado anteriormente. Valor: R$ 122 mil.
A presidente da comissão de licitação que escolheu a Rodvias
para o serviço era Rosana de Senna. Em setembro do mesmo ano,
Rosana atuou como advogada da
Rodvias em um contrato com a
Prefeitura de Belém (PA).
Auditoria
A empresa havia sido contratada naquela cidade para fazer uma
auditoria técnica no terminal pesqueiro e, no relatório encaminhado ao procurador-geral de Justiça
do Pará e ao Tribunal de Contas
do Município de Belém constam
o nome de Ricardo, do engenheiro naval Mauro Varella Borges, e
da advogada Rosana de Senna.
A Prefeitura de Santo André fez
mais um contrato com a Rodvias.
Desta vez, no valor de R$ 1 milhão. O serviço a ser executado era
gerenciamento e controle tecnológico de uma obra, cuja licitação
havia sido vencida pela Emparsanco, de São Bernardo do Campo.
EPT
Mas o maior contrato assinado
entre a Rodvias e a Prefeitura de
Santo André foi firmado em maio
do ano passado pela EPT, vinculada à secretaria comandada por
Klinger. A concorrência previa a
contratação de uma empresa para
execução de projetos e gerenciamento de obras viárias e drenagem para a EPT. Só duas companhias foram habilitadas: além da
Rodvias, a Ductor.
A opção pela primeira aconteceu com base em nota técnica e
preço. Ela obteve nota 10 (a Ductor ficou com 9) e apresentou
uma proposta de preço de R$
4,096 milhões. A proposta de preço da Ductor foi de R$ 4,113 milhões, ou seja, R$ 16 mil a mais.
Em Mauá, a Rodvias foi contratada em janeiro deste ano para
"elaboração de programa de prevenção de riscos ambientais e assessoria para implantação". Em
maio do ano passado, houve uma
ordem de pagamento de R$ 18 mil
à empresa.
Ricardo nega que sua empresa tenha sido favorecida nos contratos com a Prefeitura de Santo André e disse que também trabalha para municípios que não são administrados pelo PT.
Texto Anterior: Grafite Próximo Texto: Outro lado: Empresa não atua em São Paulo, diz secretaria Índice
|