Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Tucanos quebraram o Estado, afirma ex-governador
DA REPORTAGEM LOCAL
DA REDAÇÃO
Paulo Salim Maluf, 70, já traçou
sua estratégia para ser eleito governador neste ano: atacar duramente o governador Geraldo
Alckmin (PSDB). Com isso pretende conquistar todos os eleitores insatisfeitos com os oito anos
de domínio tucano no Estado.
Por isso prefere poupar seus demais adversários. A estratégia é
acompanhada por um mudança
em seu discurso. Além dos temas
tradicionais da retórica malufista,
ele incorporou ao seu repertório
críticas à desnacionalização da
economia, à privatização de rodovias e estatais e à elevação da dívida pública. Espera assim obter votos do PT e do PMDB. Leia a seguir trechos da entrevista. (LILIAN CHRISTOFOLETTI E MAURÍCIO PULS)
Folha - Por que ser governador?
Paulo Maluf - Porque tenho experiência. Sou hoje o ex-governador e o ex-prefeito com mais experiência administrativa. O meu
temperamento é perfeccionista.
Não posso ver nada errado que fico profundamente contristado.
Folha - Se eleito, qual será sua
primeira medida?
Maluf - Não existe uma primeira
medida. Quem cita uma não tem
nenhuma. Você tem de ter um
programa de governo. Na primeira semana de governo tem de reunir o secretariado e dar instruções
a todas as secretarias. Tenho medidas no emprego, na segurança,
no pedágio, na educação. Na Segurança é preciso mudar o sistema prisional, que só hospeda
bandidos em motéis três estrelas e
não reeduca ninguém. Vou abrir
as praças de pedágio: das 23h às
6h, nem caminhão, nem ônibus
nem automóvel paga tarifa.
Folha - Assina embaixo da frase
bandido bom é bandido morto?
Maluf - Eu nunca disse isso. Eu
assino a seguinte frase: bandido
bom é bandido preso.
Folha - "Rota na rua" é o slogan
adequado para definir sua política
de segurança pública?
Maluf - Também, mas não é o
único. Essa frase é marca registrada de Paulo Maluf. Quem estiver
usando, pode, não cobro royalties, mas está copiando.
Folha - A defesa intransigente
dos direitos humanos é uma forma
de proteger bandidos?
Maluf - Não penso assim. Ficou
essa concepção na idéia do povo
porque, quando um soldado é
morto, os direitos humanos não
vão à casa da viúva. Não. Bandidos têm direito a direitos humanos. Humanos, que são direitos,
também têm direito a direitos humanos. Sou contra qualquer violência, inclusive contra bandidos.
Folha - Como conciliar obras com
o tamanho da dívida do Estado?
Maluf - Essa é uma boa pergunta
para quem mente que saneou o
governo, como Alckmin. Ele pegou a dívida com R$ 13 bilhões.
Hoje está em R$ 93 bilhões. Se tivesse acrescido ativos, como hidrelétricas, aeroportos, estradas,
escolas ou hospitais, poderíamos
dizer que valeu a pena. Mas a dívida aumentou sete vezes, e os ativos de São Paulo não existem
mais. O Banespa é dos espanhóis,
a Eletropaulo é dos franceses.
Qualquer um que seja eleito encontrará o Estado em situação deplorável, mas quem deixou o Estado nestas condições foram os
tucanos, que tiveram oito anos
para quebrar São Paulo.
Folha - O que é malufismo?
Maluf - É sinônimo de trabalho,
de acordar cedo e dormir tarde. É
respeito à família, é perfeccionismo e amor à pátria.
Folha - E o covismo?
Maluf - Mário Covas era um homem de bem, um homem honrado. Mas não deixou seguidores.
Folha - Nem Alckmin?
Maluf - Jamais seria eleito para
qualquer cargo majoritário se não
fosse a morte prematura de Covas. Nunca seria eleito governador. Também não acredito na reeleição dele. Não acredito nem que
ele chegue ao segundo turno.
Folha - Defina seus adversários.
Maluf - Respeito todos.
Folha - Mas defina Alckmin.
Maluf - Ele não teve méritos. Aumentou a violência e o desemprego. Foi o grande construtor de
praças de pedágios e de presídios
no interior. Nada mais.
Folha - Genoino.
Maluf - É um homem bem intencionado, um bom parlamentar,
tenho respeito por ele.
Folha - E Rossi?
Maluf - Trabalhou comigo, foi
um excepcional secretário de Estado, recebi o apoio dele em 1998,
acho que é um homem muito útil
para a política de São Paulo.
Folha - Mas em 1994, entre Rossi
e Covas, o sr. apoiou Covas.
Maluf - Foi um pedido de Fernando Henrique. Foi um apoio
sincero e despretensioso. Não pedi nem nomeei nem um ascensorista do Palácio dos Bandeirantes.
Folha - O maior mérito e o maior
defeito de FHC e de Alckmin.
Maluf - O mérito de Fernando
Henrique foi ter mantido a inflação sobre razoável controle. O
grave defeito: não conteve a violência, aumentou o desemprego e
não perseguiu a diversificação das
pautas de exportação que geraria
emprego. É muito simples dizer
conseguiu US$10 bilhões do FMI.
E para quê? Para vender para os
banqueiros tirarem o corpo fora
do Brasil a um custo barato.
Folha - E do Alckmin?
Maluf - Verdadeiramente não
encontro algo positivo na obra
dele. O que sei é que ele continua
promovendo o desemprego, a
violência, os pedágios e está cometendo um grave engano. Covas
demostrou ética ao se licenciar do
cargo para fazer a campanha.
Alckmin não segue as lições de
ética de Covas. Segue as lições de
outro professor, o ladrão de casaca. Ele usa o Palácio como comitê.
Folha - Vamos dar nome aos bois.
Quem é o ladrão de casaca?
Maluf - Pergunte a ele.
Folha - Mas quem falou foi o sr.
Maluf - Você põe na entrevista. É
de minha responsabilidade.
Folha - De sete eleições diretas a
cargos majoritários, o sr. ganhou
uma. O sr. se sente derrotado?
Maluf - De forma alguma. Sou o
homem mais feliz do mundo. Em
qualquer cidade do Estado sou reconhecido. Sou muito agradecido
a Deus por ter uma boa mulher.
Sou um animal em extinção: não
conheço um homem casado 47
anos com a mesma mulher e há 35
anos no mesmo partido. Tenho
dois genros, duas noras, dois filhos e duas filhas maravilhosos.
Tenho 13 netos. Olha aqui (exibe
foto da família). Foi Maluf quem
fez. Sou feliz. O importante não
são as eleições que ganhei, mas a
popularidade de quando saí.
Folha - Quando o sr. deixou a prefeitura em 96 fez seu sucessor: Celso Pitta. Tem arrependimentos?
Maluf - Não, você nunca se arrepende do que faz. Só posso dizer
que eu errei. Decidi trazer um
quadro novo, mas ele [Pitta" não
honrou os votos que recebeu.
Folha - O sr. o indicaria de novo?
Maluf - Eu errei, mas nada muda
o fato. Mas São Paulo ganhou
com minha derrota em 2000?
Folha - O sr. acha que ganhou?
Maluf - Não sei. Você tem todos
os instrumentos do Datafolha para responder essa pergunta.
Folha - Qual a diferença entre o
Maluf de hoje e o que disputou com
Tancredo Neves em 1985?
Maluf - Aprendemos na vida.
Hoje sou muito mais experiente.
Se hoje fosse eleito presidente da
República, em vez de 85, com certeza seria um presidente melhor.
Folha - O sr. ainda sonha ser presidente? Não ter sido é uma frustração em sua carreira política?
Maluf - Não. Deus escreveu (dizem as pessoas para me consolar)
que o presidente eleito em 85 iria
morrer. Então, Ele me poupou
(risos). Evidentemente falo isso
em tom de ironia. Gostava muito
de Tancredo, e queria ele vivo.
Folha - Sonha com o Planalto?
Maluf - Sonho hoje em ser o melhor governador de São Paulo. Se
Deus me der uma graça, ele me
dará esta eleição para eu fazer a
administração de minha vida, vou
mostrar que sou competente.
Folha - As investigações de Jersey
atrapalham sua campanha?
Maluf - Não. São mentirosas.
Depois de um ano sem provas,
membros do Ministério Público,
que deveriam zelar pela imparcialidade da instituição, desejam fazer do órgão um partido político.
Sr. Alckmin, acuso-o de receber
no Palácio dos Bandeirantes promotores e de organizar essa farsa.
Acuso-o de querer usar o Ministério Público como partido político.
Folha - Se a conta não existe, por
que seus advogados tentam impedir as investigações na Justiça?
Maluf - Está respondido. O que
não posso permitir é que minha
reputação seja manchada por
promotores a serviço do PSDB.
Folha - Por que o nome Paulo Maluf sempre esteve associado a denúncias de desvio de dinheiro?
Maluf - Não tenho nenhuma
condenação. Todas as minhas
contas foram aprovadas pelo Tribunal de Contas da União, do Estado e do Município. Tenho 18 declarações públicas de bens e hoje
tenho menos do que tinha quando comecei em 1967. No Brasil devem existir políticos tão honestos
quanto Paulo Maluf, mas mais
honesto não tem. Estou há 35
anos na política: não tenho jornal,
não tenho concessão de rádio ou
de TV. Sou um político limpo.
Texto Anterior: Convenção PPB/SP: Maluf testa, de novo, força do malufismo Próximo Texto: Frases Índice
|