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ENTREVISTA/SONINHA
FRANCINE
"Sei admitir o que cada adversário fez de positivo"
Candidata do PPS apresenta, entre as propostas, reconfiguração do território da cidade
Alex Almeida/Folha Imagem
| A candidata do PPS e vereadora Soninha, em seu gabinete |
RANIER BRAGON
EM SÃO PAULO
"À espera de um milagre", a
vereadora Soninha Francine
(PPS), 40, diz que sua candidatura à prefeitura paulistana era
uma "ousadia tão possível como passar seis meses no Nepal
em uma excursão fotográfica".
Ex-apresentadora de TV, ex-petista e colunista esportiva,
Soninha -2% das intenções de
voto, segundo o Datafolha-
apresenta um leque de propostas como acabar com a relação
fisiológica entre Executivo e
Câmara e repovoar o centro.
Crítica do PT, Soninha também tem elogios ao ex-partido,
como tem elogios a Kassab
(DEM) e a Erundina (PSB).
FOLHA - Para ir ao segundo turno, a
sra. tem que tirar votos dos outros.
Por que o eleitor de uma ex-prefeita,
de um ex-governador, do prefeito,
votaria na sra.?
SONINHA FRANCINE - No mínimo,
porque eu não tenho nenhum
problema em admitir o que cada um deles fez de positivo. E
de assumir o compromisso de
continuar e, ao mesmo tempo,
de fazer diferente aquilo de que
a gente discorda. Sem esse vício
fundamental da política que é
dizer: "Nós temos todas as soluções, e os outros não têm e nunca tiveram". É desonesto.
FOLHA - O que houve de bom?
SONINHA - Gostei muito da gestão da Erundina. Ela teve dificuldade extra com a Câmara.
Não teve maioria nem rolo
compressor, como outros...
FOLHA - Como a Marta?
SONINHA - Marta sim, sem dúvida, uma maioria absolutamente fiel e quase acrítica. A
Erundina teve toda a dificuldade do mundo e, ainda assim,
aonde você vai na cidade tem
alguma coisa que evoluiu até a
Erundina, e da Erundina para
cá nunca mais evoluiu na mesma velocidade. Se eu pensar
bastante posso lembrar de alguma coisa boa na gestão do
Maluf. Da gestão do Kassab,
tem o óbvio, a Cidade Limpa.
FOLHA - E a gestão Marta?
SONINHA - Mas eu só falei da Cidade Limpa, tem mais coisas. A
reestruturação de quadros de
servidores, muita obra na área
de educação. Em educação, o
cara teve um bom trabalho. E
tem o aumento da arrecadação,
sem aumentar impostos. Tem a
Secretaria do Meio Ambiente.
Na Marta, o transporte coletivo. Não foi a gestão da Marta
que inventou o Bilhete Único,
mas teve o grande mérito de
implantá-lo. Alguns corredores
foram muitos importantes. O
Parque do Gato, acho um modelo superinteressante na área
da habitação. Os telecentros, os
CEUs, defendi para caramba.
FOLHA - E o que está errado?
SONINHA - A política, o relacionamento com a Câmara, o que
acaba prejudicando a administração, quando você aceita negociar apoio a seus projetos em
troca de indicação para cargos
na administração sem avaliação de mérito e capacidade.
FOLHA - E sobre o trânsito?
SONINHA - Algumas das propostas são de senso comum, como melhorar o transporte. Mas
tem uma que, se não for feita,
todas as outras juntas não vão
adiantar, que é mudar a configuração do território da cidade.
No centro, você tem toda a infra-estrutura urbana, e cada
vez menos gente morando. E a
periferia, que é onde você tem
déficit de tudo, cresce 10% ao
ano. Se não reconfigurar o território, não vai ter sistema de
transporte que dê conta disso.
FOLHA - Por que ser candidata?
SONINHA - Disse ao PPS que
adoraria ser candidata, mas que
isso nunca iria acontecer porque o que você tem que fazer
dentro de uma estrutura partidária eu não tenho saco para fazer. Eles discutiram com a Executiva Nacional, com o Roberto
Freire, e ele achou ótimo.
FOLHA - Como a sra. responde às
críticas do PT de que a sra. se alinhou
ao governo Serra/Kassab?
SONINHA - De fato me indispus
com a bancada do PT para defender projetos do governo que
a própria bancada do PT avaliava como positivos. Mas depois
encaminhavam contra.
FOLHA - E a versão de que sua candidatura foi estimulada pelo Serra?
SONINHA - Bobagem. Decidi ser
candidata porque eu sempre
quis e o PPS gostou da idéia. É
bem típico da política achar
que sempre tem conspiração.
FOLHA - Se perder, quem apoiará?
SONINHA - Não sei. Mas o PPS
não apoiaria o PT.
FOLHA - Alckmin e Kassab. Há problema para apoiar um ou outro?
SONINHA - Problema dos dois
lados e também motivos. Será
um dilema para o partido.
FOLHA - E para a sra.?
SONINHA - (silêncio) Não sei se
posso me declarar neutra.
FOLHA - A sra. já disse que o título
do livro sobre sua vida poderia ser:
"De Como Tudo que Eu Planejava
Deu Errado... E Tudo Bem". Tendo
em vista as pesquisas, caminha para
mais um capítulo?
SONINHA - Talvez. Estou disputando uma eleição felicíssima
da vida. E, se ganhar, fica "De
Como Quase Tudo que Eu Planejei Deu Errado".
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