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ENTREVISTA
CELSO
PITTA
Ex-prefeito diz que sua prisão foi para atingir Kassab e Maluf
Preso pela Operação Satiagraha, Pitta afirma que irá mover ação contra a PF e denunciar violação de direitos humanos
SILVIO NAVARRO
DO PAINEL
Preso pela Operação Satiagraha, da Polícia Federal -está
em liberdade devido a um habeas corpus-, o ex-prefeito de
São Paulo Celso Pitta, 61, afirma que foi vítima de ação eleitoral, por avaliar que seu nome
"está associado" ao prefeito
Gilberto Kassab (DEM) e ao ex-prefeito Paulo Maluf (PP), candidatos na eleição paulistana.
"Há uma disputa eleitoral
próxima e meu nome está associado a dois candidatos, Gilberto Kassab e Paulo Maluf", disse
à Folha, por telefone.
Pitta nega envolvimento
com operações ilegais de venda
de precatórios da prefeitura,
conforme apontou o inquérito
da PF, e prometeu recorrer a
tribunais internacionais por
violação de direitos humanos.
"Houve abuso ao entrarem na
minha casa e permitirem que
eu fosse filmado de pijama."
FOLHA - A Polícia Federal diz que há
indícios de que o senhor estava envolvido em esquema de operações
ilegais com precatórios.
CELSO PITTA - Não há nada irregular nem ilegal na intermediação de títulos de pagamentos de
precatórios, que, aliás, têm sido
um artigo muito procurado pelas carteiras de crédito porque
oferecem rentabilidade maior
do que os tradicionais papéis.
Sobre negociar tráfico de influência no Judiciário, é ilação
absolutamente infundada. Tiraram essa conclusão não se sabe de onde, não informaram
que Judiciário é esse. Isso vai
ser objeto de ação que vou mover contra a Polícia Federal.
FOLHA - A ação será contra o delegado Protógenes Queiroz?
PITTA - Meus advogados estão
estudando. Houve abuso de poder ao entrarem na minha casa
e permitirem que eu fosse filmado de pijama. Houve abuso
de autoridade ao me algemarem, porque havia testemunhas de que não fiz resistência
à prisão. Fui submetido à execração pública sem razão e sem
direito de defesa.
FOLHA - E a relação do sr. com Naji
Nahas [outro preso pela PF]?
PITTA - É uma ligação de um cidadão para o outro pedindo dinheiro.
FOLHA - Mas qual a procedência
desse dinheiro?
PITTA - É dinheiro que pedi como um amigo pede para o outro. Ele é um capitalista, meu
amigo há mais de 20 anos e, como eu estava numa situação
delicada, pedi dinheiro emprestado a ele. Se isso é crime,
pelo amor de Deus! Agora, associar isso ao fato de ele ter alguma ligação com o [banqueiro
Daniel] Dantas, por outras razões, é um absurdo sem proporções. Pior ainda é dizer que
eu tenho conta no exterior. Estou procurando uma entidade
internacional de direitos humanos porque isso é um flagrante desrespeito. O mundo
todo viu pela TV Globo a Polícia
Federal invadindo a minha casa e eu sendo preso de pijama e
algemado. Isso não vai ficar assim, vou colocar em fórum internacional.
FOLHA - Se não houve ilegalidade,
o que moveu a ação da PF?
PITTA - Ninguém é criança para
achar que aconteceu ao acaso,
sem um cronograma político.
Há uma disputa eleitoral próxima e meu nome está associado
a dois candidatos, Gilberto
Kassab e Paulo Maluf. Nada é
mais interessante do que atingir esses candidatos indiretamente, por meio da minha imagem. É visível. (...) Existe uma
moldura política. Não vou ficar
calado e não acho que deva. Já
apanhei muito injustamente.
Isso que aconteceu tem que
servir de exemplo.
FOLHA - Voltando às escutas...
PITTA - Não há fato incriminatório. Indique uma que mostre
que o Pitta está envolvido em
alguma falcatrua.
FOLHA - Do que se trata quando o
senhor conversa sobre a liberação
de um precatório de R$ 90 milhões?
PITTA - Há precatórios que variam de R$ 150 mil a R$ 1 bilhão. Um título de R$ 90 milhões não é excepcional, o que
há de significativo, o valor?
FOLHA - O inquérito diz que há indícios de operação ilegal.
PITTA - Rechaço fundamentalmente e vou exigir reparação à
Polícia Federal.
FOLHA - Então o senhor se dedica a
esse ramo de atividade?
PITTA - Sou um consultor de
economia procurado por investidores para aconselhamento
de aplicações. Eles sabem do
meu conhecimento no setor
público e no mercado financeiro. Sempre operei nessa área.
Esse é um tipo de papel que tem
atração muito grande porque
tem garantia do governo e oferece rentabilidade superior aos
papéis tradicionais. É um mercado em franca ebulição. Quero
saber onde colheram a informação de que faço tráfico de influência no Judiciário, o que é
uma grossa mentira.
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