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Mangabeira se reuniu com a Kroll a pedido de Dantas
Auditoria feita pela BrT aponta pagamentos de US$ 2 mi entre 2002 e 2005 para o filósofo, quando ele ainda não era ministro
ANA FLOR
FERNANDO BARROS DE MELLO
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma auditoria interna feita
em 2005 pelos novos controladores da Brasil Telecom, após a
saída do banqueiro Daniel Dantas, detalhou as atividades do
atual ministro Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos) para a BrT nos Estados Unidos e
seus encontros com a empresa
Kroll. Entre 2002 e 2005, Mangabeira recebeu cerca de US$ 2
milhões pelos serviços prestados à BrT, segundo a auditoria.
Mangabeira assumiu o ministério em 2007. À época, consultou a Comissão de Ética Pública da Presidência para saber
se poderia acumular o cargo no
governo com a atuação de
"trustee" da BrT. A comissão
respondeu negativamente.
Em 2003, a BrT e Mangabeira, que morava em Massachusetts (EUA), assinaram um
acordo pelo qual o filósofo serviria como um fiel depositário
ou procurador da empresa
("trustee"). Sua atuação seria
em ações judiciais da BrT contra a Telecom Itália e os dirigentes da mesma companhia,
contra o grupo holandês Stet
International e contra os fundos de pensão Previ (fundo de
previdência dos funcionários
do Banco do Brasil), Petros
(fundo dos funcionários da Petrobrás) e Telos (fundo dos funcionários da Embratel).
Conforme o combinado,
Mangabeira poderia processar,
negociar e estabelecer acordos
dentro desses casos, fazer empréstimos e contratar serviços
em nome da empresa. O acordo
que lhe dava esses poderes tinha prazo de 20 anos.
Apesar de ser sócio minoritário da BrT, o Opportunity, de
Dantas, tinha poderes para remover Mangabeira-e qualquer outro "trustee" que assumisse o cargo- a qualquer momento. Dantas e Mangabeira
são amigos.
Menos de um ano depois de
criado o "trustee", sua formação foi questionada pela CVM
(Comissão de Valores Mobiliários), que solicitou esclarecimentos à Brasil Telecom. Os
questionamentos haviam sido
enviados à comissão por fundos de pensão que travavam
briga jurídica com a empresa.
A CVM demonstrou preocupação do efeito que o acordo
entre Mangabeira e a BrT teria
sobre os interesses dos sócios
minoritários da empresa.
Kroll
Em uma planilha de gastos e
reembolsos colhida pela auditoria, são apresentados gastos
de viagem de Mangabeira para
"encontro com Kroll".
A viagem a Nova York ocorreu na última semana de janeiro de 2004. O relatório menciona outros encontros. Mangabeira também viajou para se
reunir com advogados.
Em 2004, a Folha revelou
que a empresa americana de
investigação industrial Kroll
havia sido contratada pela Brasil Telecom, controlada pelo
Opportunity, para espionar a
Telecom Italia.
A Kroll obteve documentos e
produziu relatórios nos quais,
pelo conteúdo das informações, surgiram indícios de práticas ilegais. As duas empresas,
que eram sócias, acabaram brigando no processo de privatizações das empresas de telefonia do país.
A suposta espionagem acabou atingindo autoridades brasileiras, como o então ministro
Luiz Gushiken e o ex-presidente do Banco do Brasil Cassio
Casseb.
O principal personagem da
rede investigada pela Polícia
Federal, que criou a Operação
Chacal para acompanhar o caso, era o português Tiago Verdial. Ele foi o intermediário da
Kroll para chegar às informações que interessavam à Brasil
Telecom -muitas protegidas
por sigilo.
A operação de fraude, segundo as investigações da Polícia
Federal, consistia em forjar documentos pessoais e percorrer
os caminhos legais que qualquer contribuinte teria de se
submeter se quisesse obter
uma cópia de sua declaração de
Imposto de Renda.
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