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JANIO DE FREITAS
O trágico e o cômico
Até a semana passada, foram sucessivos tropeções,
mancadas e outros maus passos.
Agora a situação desandou, no
governo Lula, para sintomas de
crise: turbulências sérias, embora ainda abafadas, na área militar; problemas na opinião pública, com o desvio galináceo do
marqueteiro presidencial; problemas eleitorais, insinuados na
ameaça de derrotas, no segundo
turno, comprometedoras para o
governo e seu predomínio político; e problemas com os partidos
aliados, por decorrência de métodos pesados ao disputar-lhes o
eleitorado. Problemas, todos, conectados uns aos outros.
Um exemplo do emaranhado:
uma rinha que funciona há
anos, com luxos de restaurante
paulistano, de repente é estourada pela Polícia Federal (portanto, gente do governo Lula) no dia
em que lá está o orientador das
condutas e linguagens presidenciais, além de incumbido de obter a ameaçada vitória eleitoral
do governo no seu próprio domicílio político. Por que tal fato em
tal ocasião?
Faça a sua aposta: ação da PF,
para derrubar dirigentes seus, ou
grupo da PF em ação de propósitos políticos, ou um setor da PF
agindo por indução e como extensão da ala do Exército exaltada com o episódio Herzog? Só
não jogue as suas chances na noticiada denúncia de ambientalistas.
O problema militar tem faces
múltiplas. Não é certo que o comandante do Exército, general
Francisco Albuquerque, não tivesse conhecimento prévio, como
disse ou foi dito em seu nome, da
nota em que o Centro de Comunicação Social do Exército voltou
a justificar a tortura (logo, inclusive os assassinatos assim praticados) durante a ditadura. O
mal-estar com a idéia de aprovação/negação/recuo prevalece na
alta oficialidade. O círculo central do governo, por sua vez, dividiu-se sobre o afastamento do
general Albuquerque, já ou na
hipotética reforma ministerial.
Esse problema está em estado
efervescente. A par do ambiente
tenso e raivoso, as fotos atribuídas a Vladimir Herzog abriram
questões que não se encerram
com a afirmação governamental, proveniente da Abin (ex-SNI), de que o fotografado é um
padre humilhado pelo SNI. Sem
o querer, a Abin evidenciou a
permanência de arquivos que os
militares disseram destruídos, a
mobilização por localizá-los está
assim estimulada, mas militares
e parte do círculo presidencial
são contrários. O embate é desgastante para o governo na sociedade, se o obscurantismo militar prevalecer, e com os militares, se perderem. E permanece,
aumentando o calor, a discussão
sobre a identidade do fotografado, porque há divergências formais entre as fotos dadas todas,
pelo governo, como de um padre.
Se pusermos o mesmo olhar sobre aspectos tão graves como a
rememoração do caso Herzog, a
nota brutal do Exército e, no outro canto, o "ministro" de fato da
comunicação presidencial escapulindo do palácio para ser preso em uma briga clandestina de
galos, o resultado é curvar-se ao
lugar-comum do "país de opereta". O tragicômico em que a segunda nota sempre se alia à primeira, em um convívio que torna a vida suportável no país que
se faz insuportável.
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