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CIÊNCIAS SOCIAIS
Para pesquisador do Ipea, ricos são os que se encontram no 1% com maior renda da população brasileira
Tempo de estudo não explica desigualdade
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
As diferenças de escolaridade
não explicam a desigualdade social e econômica do país.
Os ricos são ricos não porque
puderam estudar mais -ou porque são brancos, homens e moram no Sudeste, embora tudo isso
ajude-, mas principalmente por
causa da "herança" que recebem
de seus pais também ricos (que
pode ser a oportunidade de ter
uma educação de elite, de terem
crédito, de terem uma rede de relações pessoais com outras pessoas também ricas que lhes garanta bons empregos ou, simples, herança financeira mesmo).
O que parecia senso comum ou
ressentimento de classe -ah, esses pobres invejosos!- agora foi
quantificado e medido por Marcelo Medeiros, 34, economista do
Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
Ele apresenta o trabalho -"Sobre as oportunidades de ser rico
serem abertas a todos por meio
do trabalho"- na reunião da Anpocs (Associação Nacional de
Pós-Graduação e Pesquisa em
Ciências Sociais), que começa terça-feira, em Caxambu (MG) .
Ricos, para Medeiros, são os
que se encontram no 1% com
maior renda de toda a população
brasileira. Fatia pequena, mas que
no entanto não tem rendimentos
estratosféricos -o piso do grupo
era de R$ 2.170 per capta, em valores de 1999, ano da última Pnad
(Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios) usada como base
para a pesquisa.
No trabalho, o economista relaciona, primeiramente, os ganhos
médios que cada ano de educação
dá à renda do trabalhador. Na
média, por exemplo, um ano de
estudo representa um acréscimo
de 18% em relação ao rendimento
de um sujeito que nunca tenha
ido à escola. Quinze anos ou mais,
754% a mais na conta do cidadão.
Os acréscimos seguem esse modelo -em escala pouco maior ou
menor- para quase todas as faixas de renda. Quando chegamos
ao topo da pirâmide, porém, os
rendimentos são muito superiores aos esperados se considerados
apenas os efeitos dos anos de estudo (fator principal), da região
do país, do sexo e da cor da pessoa. Para ser exato, são 4,2 vezes
maiores nos 2% do topo, e 7,4 vezes maiores, no 1% mais alto.
Quer dizer: prevêem e explicam
muito pouco as razões da diferença. E ela é tão grande que, se os retornos médios dos atributos dos
ricos (escolaridade etc.) fossem
aplicados a todos os não-ricos,
poucos entrariam no grupo dos
que ganham acima de R$ 2.170.
Ou seja, se por um maná, se numa situação extremamente otimista e irreal (Medeiros fez a projeção), os não-ricos tivessem todos curso superior completo, a fatia dos ricos não chegaria a 2% da
população. "Isso reforça a dimensão de elite. Você não é elite porque tem nível superior. As pessoas são da elite porque têm a melhor educação disponível no país.
As famílias estão transmitindo
seu status para seus filhos."
E continua: "Outra coisa, além
da educação de elite, é o mercado
de trabalho restrito. Um mercado
que não coloca anúncio no jornal,
que depende do círculo de relações pessoais. Como os ricos são
socializados entre outros ricos,
eles têm vantagens por conhecer
pessoas mais ou menos ricas, que
vão arrumar espaço. Você vê, por
exemplo, como se arruma vaga
para jornalista -sempre tem influência-, para economista também".
"No fundo, esse estudo é sobre
mobilidade social no Brasil." No
fundo, esse estudo é sobre aquilo
que -quase- não há.
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