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NO PLANALTO
A verdadeira estrela do Alvorada é Marisa
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Lula chegou a Brasília carregando o pior tipo de ilusão
que um presidente pode portar. A
ilusão de que preside. Em 17 meses de "poder", produziu ruína e
metáforas.
Por sorte, Lula tem a seu lado
Marisa Letícia. A primeira-dama
não está em Brasília a passeio.
Deve-se ao espírito buliçoso dela
a obra mais vistosa do governo.
Na verdade, a única.
A reforma no gramado do Alvorada é, por ora, tudo o que o ex-PT conseguiu oferecer ao país de
palpável. O companheiro Luiz
Gushiken decerto pensava no
canteiro em forma de estrela
quando rogou aos jornalistas a
exibição de "empreendimentos
positivos".
O projeto estelar de Marisa nasceu nas pegadas da inércia. O vazio administrativo deu-lhe visibilidade ofuscante. Levou-o às primeiras páginas. Só o ciúme explica a tentativa da camarilha de
Lula de desmerecer o feito.
A assessoria de imprensa do
Planalto atribuiu a idéia da estrela floral a um anônimo jardineiro
da Novacap. Injustiça. Ultraje ao
arrojo de Marisa.
Solidário, o repórter tentará reparar o malfeito. Age inspirado
na filosofia zen-midiática de Gushiken. O companheiro é intransigente defensor das informações
"jornalisticamente trabalhadas".
Em artigo publicado na Folha de
16 de abril ele anotou:
"Acredito ser esta a maior contribuição da imprensa a um país
no qual grande parte do povo não
tem acesso ao consumo de bens
informativos produzidos a partir
das técnicas e da ética do jornalismo". É preciso, ensinou, "dar voz
aos que vivem em silêncio".
O repórter ouviu na semana
passada o silêncio da turma do
regador. Gente apartidária. Alguns estão lotados no Departamento de Parques e Jardins da
Novacap desde Costa e Silva. Descobriu-se o seguinte:
1) foi Marisa quem ordenou a
semeadura da estrela no quintal
do palácio de Niemeyer. Deu-se
há coisa de seis meses. Não há vestígio de sugestão de nenhum jardineiro;
2) aliás, o time do rastelo reagiu
à ordem superior com contido assombro. Receava que o símbolo
petista desfigurasse o projeto de
jardinagem doado a Juscelino
Kubitschek pelo imperador japonês Hiroito;
3) o temor fez com que a determinação de Marisa escalasse o
organograma do departamento
de jardins. Dos gramados do Alvorada, subiu ao carpete das salas
de direção da Novacap. Ali foi debatida;
4) embora contrária à idéia, a
cúpula dos jardins julgou que não
era seu papel desafiar a autoridade da mulher do presidente. Liberou-se a execução do canteiro;
5) as sálvias vermelhas que recheiam a estrela petista foram recolhidas em viveiro mantido pela
Novacap num bairro brasiliense
chamado Park Way. Fica a uns
20 minutos de carro do Alvorada;
6) Marisa indicou, nos fundos
do palácio, o local do canteiro.
Poucos metros além da piscina.
Trabalho não de um, mas de vários jardineiros. Aprovada, a operação foi repetida na Granja do
Torto.
Ao plantar no cérebro de um
jardineiro a idéia que brotou da
cabeça de Marisa, a assessoria de
Lula deixa mal a primeira-dama.
Deixa pior o camarada Gushiken,
"gestor" da política de comunicação do governo.
Gushiken escreveu na Folha: "A
consolidação de princípios republicanos exige do Estado o dever
de informar e o respeito ao direito
à informação dos cidadãos. Essa é
uma premissa cristalina e dela
decorre que o padrão de relacionamento Estado/imprensa deve
ser encarado, mutuamente, com
tolerância, responsabilidade e liberdade".
É certo que há um ponto em que
a volúpia do poder ultrapassa a
fronteira do razoável. Mas no
universo dos excessos secretos,
dois canteiros de sálvia constituem pecadilho menor.
Nada, se comparados aos
"colloridos" jardins da Dinda.
Menos ainda se confrontados
com os exageros filipinos de Imelda Marcos, colecionadora de milhares de pares sapatos. Ou ao
descalabro romeno dos Ceausescu, cristalizado pelas torneiras de
ouro.
Poder-se-ia imaginar que a
equipe de Lula injetou um jardineiro no enredo das estrelas apenas para proteger Marisa. Exagero. A mulher de Lula não merece
o tratamento de Imelda.
É verdade que, além de flores,
ela aprecia jóias. Reteve por prazo
irrazoável peças que obteve por
empréstimo em boas casas do ramo. Encantou-se com outras que
recebeu de presente na Síria. Diz-se, porém, que já devolveu as primeiras. Quanto às segundas, teriam sido doadas ao Fome Zero.
Para alegria de Marisa, há na
Novacap gente digna, disposta a
ajudá-la a recuperar o brio que o
Planalto tenta empanar. A plantação de estrelas gerou uma ação
judicial. Move-a o PSDB. Se chamados a depor, funcionários da
estatal brasiliense vão repor a
verdade.
É grande o rol de potenciais depoentes. Só a equipe de jardinagem do Alvorada soma 23 funcionários. Pelo menos uma dúzia sabe o que se passou.
Em tempo: até sexta-feira a Novacap não havia recebido pedido
para remover o chão de estrelas
do petismo. Há, aparentemente,
quem se orgulhe da realização. A
Marisa, portanto, o que é de Marisa. Sem medo de ser feliz.
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