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São Paulo, domingo, 25 de maio de 2003

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SER OU NÃO SER

"Não adianta reduzir num mês e noutro ter de subir", diz presidente

Lula diz que juro é herdado e que cairá "passo a passo"

Flávio Florido/Folha Imagem
Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente do Peru, Alejandro Toledo, em entrevista após o final da 17ª reunião do Grupo do Rio, em Cuzco


PLÍNIO FRAGA
ENVIADO ESPECIAL A CUZCO

Na sua primeira manifestação após as amplas críticas contra a manutenção dos juros altos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que as taxas vão baixar, mas evitou dizer quando.
"Tenho muito mais pressa que isso aconteça do que você. Não adianta nada reduzir num mês e noutro ter de subir outra vez. Quando começar a reduzir, vamos reduzir de forma sólida, passo a passo. Não se faz mudança de forma estabanada. Não vou precisar a hora e o dia, mas vou precisar que o compromisso do meu governo é mudar a política econômica e já começamos a mudar", disse em entrevista coletiva em Cuzco, onde participou da cúpula do Grupo do Rio.
O Copom (Comitê de Política Monetário) do Banco Central decidiu na semana passada manter em 26,5% a Selic, a taxa de juros básica da economia.
"Os juros que estamos praticando são da economia herdada. Logo, logo virão os juros da nova economia. Não estou preocupado com a próxima reunião do Copom. Tenho coisas mais importantes para fazer. Só posso afirmar isso: os juros que estamos praticando é o juro da economia herdada. Os juros da nova economia virão mais rápido do que vocês imaginam", afirmou Lula.
O presidente desvinculou a Selic da formação da taxa de juros do mercado, num raciocínio economicamente contestável.
"Vamos acertar a taxa Selic, porque ela tem um efeito psicológico extraordinário na sociedade e sobretudo permite uma economia fantástica para os cofres do governo. O governo oferece títulos, e a banca oferece preços", declarou o presidente.

Muhammad Ali
Lula comparou a política econômica a uma luta de boxe, citando um embate clássico do esporte ocorrido em 30 de outubro de 1974, no Zaire. "Você lembra da luta do Cassius Clay com o [George] Foreman no Zaire? O Cassius Clay [Muhammad Ali] apanhou 12 assaltos para no final nocautear o Foreman" [Na verdade, Ali apanhou durante sete assaltos e nocauteou Foreman no oitavo].
O presidente evitou comentar diretamente as críticas do vice-presidente José Alencar à manutenção dos juros altos ou as declarações do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, de que teria sido pressionado a baixar as taxas.
O presidente minimizou as declarações do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, de que o governo não deu um "cavalo de pau" na economia: "Que saia justa? O que o Zé Dirceu tem de falar ele diz publicamente."
"A política dos juros não é interesse do Lula presidente, do José Alencar vice-presidente, não é interesse do Palocci ministro da Fazenda, deste ou daquele grupo. É uma necessidade para melhor distribuir a riqueza do nosso país. A questão dos juros é muito delicada. Gostaríamos de ter juros de padrão europeu, do padrão dos Estados Unidos. Mas a realidade da nossa economia é outra", declarou o presidente.
Lula reafirmou a promessa de, no momento certo, baixar os juros e permitir a economia crescer.
"Foi para isso que fui eleito, não foi para fazer igual aos outros fizeram. Não vou errar nem na política econômica nem na política de desenvolvimento. Um governo sério, que tenha projeto e saiba o que quer e como fazer para chegar aonde quer, trabalha com mais paciência do que aqueles que muitas vezes anunciam medidas bombásticas e no dia seguinte quebram o país. Não fui eleito para quebrar o Brasil", declarou.
O presidente estava bem-humorado na manhã de ontem. Recebeu pesquisa encomendada pelo Planalto que o mostra com uma avaliação de ótimo ou bom de 53% da população. Seria seu maior índice desde a posse, segundo um de seus assessores.
A mesma pesquisa, concluída anteontem, mostra que o apoio à reforma da Previdência Social saltou de 73% para 79%, depois da campanha publicitária na TV.


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