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"Protecionismo nos rouba mercados'
DO ENVIADO ESPECIAL A CUZCO
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva atacou duramente o protecionismo comercial dos países
industrializados no discurso que
encerrou a 17ª Cúpula do Grupo
do Rio: "Não podemos aceitar os
subsídios agrícolas milionários,
as medidas de defesa comercial
arbitrárias e o protecionismo disfarçado que nos roubam mercados e nos impedem de colher os
frutos do nosso trabalho".
"O espírito de conciliação e a
cultura de tolerância são traços
marcantes da ação de nosso grupo. Mas não podemos compactuar com as trágicas consequências das graves carências sociais
em matéria de alimentação, saúde
e educação que ainda afligem
grande parte da nossa população.
É inadmissível que continue havendo fome, ainda mais em meio
a tanta abundância", declarou.
Antecipando a pauta que pretende levar à reunião do G8 (grupo dos sete países mais ricos mais
a Rússia), Lula fez um apelo. "Os
países desenvolvidos têm uma
parcela fundamental de responsabilidade na promoção de uma
globalização mais equilibrada que
afaste de vez este flagelo. Esperamos que o G8 ampliado, convocado pelo presidente Chirac seja um
sinal de que nossa voz venha ser
ouvida e de que os países ricos estejam dispostos a mudar seu
comportamento", afirmou.
Nesse trecho, Lula disse que esperava poder falar também em
nome do presidente do México,
Vicente Fox, que também participará da reunião em 1º de junho.
Fox acenou com a cabeça, concordando com Lula. A 17ª Cúpula
Presidencial do Grupo do Rio se
encerrou no parque arqueológico
de Saqsaywaman. O presidente
Lula discursou como o anfitrião
da próximo cúpula a ser realizada
no ano que vem no Brasil.
Em um espaço aberto numa colina usada pelos incas para cultuar
o "deus Sol", os 11 chefes de Estado e de governo encerraram o encontro descontraidamente. Os
mandatários se atrasaram por
quase uma hora para o início da
solenidade porque o presidente
da Venezuela, Hugo Chávez, não
saía de seu quarto. Todos ficaram
esperando por ele no pátio do Hotel Monastério, onde se hospedaram. Nesse momento, Fox e Álvaro Uribe (Colômbia) pediram para tirar fotos com Lula.
Anteontem, Cuzco sofreu um
abalo sísmico de 4,7 pontos na escala Richter, que vai até 9. O epicentro do terremoto foi numa região ao sul de Cuzco. Não houve
feridos nem destruição. Apenas
leves tremores foram sentidos.
Lula participava de uma reunião de trabalho com os demais
presidentes na hora do abalo sísmico. "Vi o lustre balançando,
mas fiquei calmo. Não achei que
iria acontecer algo pior", disse ele,
que, pela primeira vez, passou por
uma experiência como essa.
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, classificou
de "muito interessante" a proposta do presidente do Peru, Alejandro Toledo, de tentar convencer
os credores latino-americanos a
reinvestir 20% do total pago em
juros da dívida externa em obras
de infra-estrutura nos países latino-americanos.
"O uso de alguma maneira do
pagamento do serviço da dívida
-que vai ser pago, ninguém quer
perdão nesse caso-, mas poderia
ser usado para projetos de infra-estrutura. Isso é interessante, mas
ainda não chegou a haver uma
discussão aprofundada sobre o
tema", afirmou o chanceler.
Amorim evitou comprometer-se totalmente com idéias apresentadas pelo Peru, como a criação
de um mecanismo de compensação que permita a redução do pagamento da dívida externa em
épocas de recessão.
(PLÍNIO FRAGA)
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