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FORÇAS ARMADAS
Indústria brasileira de veículos militares sofreu golpe quase mortal com a falência da Engesa em 1993
Exército quer volta de blindados nacionais
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Exército Brasileiro está estudando o tipo de veículo que pretende adquirir para substituir seu
material hoje obsoleto. Mas o objetivo do estudo vai além da simples troca de equipamento.
O Exército pretende que essa
aquisição futura de "viaturas" -a
palavra preferida pelos militares- sirva para ressuscitar a indústria nacional de veículos blindados, que sofreu um golpe quase
mortal com a falência da empresa
Engesa em 1993.
Além de caminhões e jipes militares, a Engesa fabricou o carro
blindado de reconhecimento Cascavel e o veículo blindado de
transporte de tropas Urutu. Os
dois têm tração 6x6, isto é, nas
suas seis rodas.
Centenas de exemplares dos
dois modelos foram vendidos para vários países e para o Exército,
que iniciou um programa de recondicionamento, no Arsenal de
Guerra de São Paulo, para mantê-los em operação até 2015.
A chamada Nova Família de
Blindados envolve dois tipos de
veículos, uma subfamília "leve" e
outra "média". Os "leves" teriam
tração nas quatro rodas e peso até
seis toneladas. Os "médios" teriam de seis a vinte toneladas, e
poderiam ter tração 6x6 ou 8x8.
Vários fabricantes, nacionais e
estrangeiros, já têm apresentado
propostas ao Exército. Na feira de
material bélico LAD 2003, realizada no final de abril do Rio, esses
fabricantes vieram em peso -em
alguns casos trazendo o veículo
que pretendem vender. O Centro
de Avaliação do Exército tem feito
testes com veículos das duas famílias no campo de provas da Marambaia, no Rio.
A "diretriz geral do comandante
do Exército", general Francisco
Roberto de Albuquerque, divulgada pela força em abril passado
(mas com data de 3 de fevereiro)
fala em "estudar como viabilizar a
produção de viaturas blindadas
de rodas e viaturas militarizadas
pela indústria nacional e estimular a fabricação de outros MEM
[material de emprego militar] pelo parque brasileiro, inicialmente,
no tocante a equipamentos de
maior mortalidade e menor nível
de tecnologia".
Albuquerque gostaria que no
futuro houvesse uma "disponibilidade de sólida base industrial de
material de defesa".
A idéia básica é criar joint-ventures que permitam a construção
dos veículos no país e a incorporação de novas tecnologias. O
Cascavel e o Urutu estão defasados no seu controle de tiro. Também não dispõem de equipamentos fundamentais para o combate,
como sensores de visão noturna
ou telemetria laser. Seria necessários entre 700 e 900 veículos de
porte médio para substituir os
que existem hoje.
Já a necessidade de uma "Viatura Blindada Leve" está sendo reavaliada pelo Exército. Sua função,
a exploração e reconhecimento
sem entrada em combate, seria
menos exigente do que a esperada
do veículo médio. Por isso um
veículo mais barato também serviria. Um blindado "leve" como o
novíssimo belga Iguana custaria
em torno de 300 mil dólares.
Um Iguana esteve exposto no
Rio durante a LAD 2003, pintado
na camuflagem brasileira de verde e marrom, e equipado com
uma metralhadora de controle remoto israelense.
Por essa avaliação de custo-benefício, o Exército já pensa em
adotar um veículo não blindado
para a tarefa, basicamente um jipe
militarizado (com acréscimos como reparo para metralhadora,
placa para colocação de rádio etc).
Seria a chamada Viatura Tática
Leve, da qual o Exército precisaria
comprar cerca de 2.000. Kits de
blindagem para resistir ao tiro de
fuzis poderiam ser projetados para instalação.
A grande sobrevivente da indústria bélica brasileira, a empresa Avibrás, desenvolveu um blindado leve de quatro rodas a pedido do Exército da Malásia, o AV-VBL. Um derivado, o AV-VB4-RE Guará, foi desenvolvido para
atender ao requisito operacional
do Exército.
Já entre os jipes militarizados a
concorrência é até maior. O Exército já comprou cerca de 350 Land
Rover Defender, mas outras empresas também estão na disputa.
Quando os Cascavel e Urutus finalmente estiverem sendo aposentados, em 2015, o Exército gostaria de ter seus substitutos prontos. Mas tudo vai depender de
verbas.
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