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ELEIÇÕES 2008 / SÃO PAULO
ENTREVISTA
IVAN VALENTE
Quem comanda a cidade hoje são as grandes corporações
Candidato do PSOL diz que, se eleito, quer renegociar a dívida do município
RANIER BRAGON
EM SÃO PAULO
Candidato a franco-atirador
da eleição paulistana, o deputado federal Ivan Valente
(PSOL), 61, diz que vai compensar o seu minúsculo tempo de
TV com a participação nos debates, quando, afirma, pretende mostrar que os principais
candidatos não têm propostas
estruturantes para a cidade.
Fundador do PT e por 23
anos membro de seu diretório
nacional, Valente rompeu com
o partido em 2005.
Segundo a última pesquisa
Datafolha, realizada em 15 de
maio, Valente tem 1% das intenções de voto. Ele apresenta
propostas como a renegociação
da dívida do município, mais
verbas para a educação e uma
"inversão de prioridades".
FOLHA - O sr. acredita realmente
que pode ir ao segundo turno, ou a
candidatura é para marcar posição?
IVAN VALENTE - A candidatura é
pra valer, para mostrar que somos o único partido que tem diferenças efetivas com os blocos
que estão aí. Vamos fazer um
desafio público aos candidatos,
para que adotem o teto público
de campanha. E fica proibido
receber da iniciativa privada.
Eu acho que a imprensa deveria
fazer campanha por essa proposta se ela fosse coerente com
o que todo dia publica. É a raiz
da corrupção. Você quer um escândalo maior do que que a
queda do metrô de São Paulo.
As cinco maiores empreiteiras
que estão lá financiaram todos
os grandes candidatos. E também vamos recolocar um problema abandonado pelo PT e
que nunca foi adotado pela direita clássica, que é fazer um
debate completo do orçamento
com a população. É preciso
uma inversão de prioridades.
Quem comanda a cidade hoje
são as grandes corporações. A
cidade de São Paulo precisa de
um choque de universalização
de direitos. A saúde pública e a
educação pública estão totalmente sucateadas. E não ouço
nenhum candidato falar que vai
renegociar a dívida pública da
cidade, nós vamos fazer isso.
FOLHA - O Itamar Franco tentou
em Minas e teve os repasses federais retidos.
VALENTE - Aí é que está a questão. Isso tem que ser submetido
à população de São Paulo. Há
espaço, precisa ter coragem.
FOLHA - Em caso de vitória, o sr.
acha possível governar São Paulo
com o apoio apenas do PSTU?
VALENTE - Quando uma campanha engloba a sociedade, você
ganha um grande respaldo e
apoio popular. O maior crime
do governo Lula foi desmobilizar a força social de mudança e
a esperança que ele despertou.
Mesmo no PT e em outros partidos teria muita gente que gostaria de governar com o verdadeiro programa do partido,
aquele que o governo abandonou. Aqui em São Paulo, no
tempo da Erundina, o PT chegou nessa encruzilhada quando
os vereadores tramaram o impeachment da Erundina. O PT
teve que decidir entre molhar a
mão dos vereadores, ceder às
chantagens ou levar 30 mil pessoas para a porta da Câmara.
Felizmente naquele momento
ganhamos dentro do PT.
FOLHA - Quem no PT defendia
"molhar a mão" dos vereadores?
VALENTE - Molhar a mão é
atender as demandas, entrar no
jogo do clientelismo. Dá pra governar com o movimento popular organizado.
FOLHA - E como o sr. espera apresentar todas essas propostas com o
minúsculo tempo de TV do PSOL?
VALENTE - Tem os debates também, é aí é que a cobra vai fumar. Temos um diferencial,
que se chama militância política. Eles têm os cabos eleitorais.
Nós vamos fazer a diferença na
rua. Nos debates vamos apresentar propostas para São Paulo, mas vamos explicitar que os
candidatos que estão aí tentam
a manutenção do poder a todo
custo, que não têm proposta estruturante para São Paulo. A
maioria dos candidatos está fazendo um trampolim para ir
adiante. Nós queremos governar São Paulo para valer.
FOLHA - A candidatura do sr. também não é um trampolim para sua
reeleição como deputado?
VALENTE - Mas isso é o natural,
o PSOL está na rua diariamente, independentemente da
campanha.
FOLHA - O que o sr. acha da candidatura de Heloísa Helena a vereadora em Maceió?
VALENTE - Isso visa manter a visibilidade dela, mas isso não
quer dizer que ela não vá ajudar
nacionalmente as outras candidaturas. É ter um mandato para
depois alavancar.
FOLHA - O que o sr. pretende fazer
na sua área, que é a da educação?
VALENTE - Quero dizer que a
Marta Suplicy expulsou do partido, ela e a bancada, o Carlos
Gianazzi, que é meu vice, porque eles mudaram a lei orgânica do município para diminuir
a verba da educação. O Serra e o
Kassab, gostaram da história e
não mexeram. Então, a primeira coisa que eu vou fazer é passar para 30%, mandar uma lei
mudando a lei orgânica.
FOLHA - Quais as propostas do sr.
para o trânsito?
VALENTE - Quero perguntar aos
partidos políticos que foram
governos por que eles deram
incentivos fiscais à indústria
automobilística. Quem disser
que vai resolver o problema do
trânsito sem um planejamento
de 12, 15 anos, está mentindo.
Entre fazer a ponte estaiada
[Octavio Frias de Oliveira], de
R$ 200 milhões, e construir
creches, casas populares, postos de saúde, faria outra opção.
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