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ESQUELETO FINANCEIRO
Operação aprovada em 92 para beneficiar tecelagem abre novo capítulo na guerra da sucessão presidencial
CPI deve investigar empréstimo do Banespa
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REDAÇÃO
A CPI do Banespa pretende investigar uma operação feita no
início dos anos 90, quando o banco ainda era estatal, que pode ter
servido para transferir dinheiro
irregular do exterior para o Brasil.
Na operação, o Banespa emitiu
títulos no exterior e, depois de levantar o dinheiro, repassou US$ 3
milhões à tecelagem Calfat S/A.
Segundo reportagem da revista
"IstoÉ" desta semana, na época
em que o empréstimo foi aprovado, abril de 1992, a Calfat estava
em processo de liquidação e, numa situação normal, dificilmente
conseguiria credores.
Uma suspeita da CPI é que os
compradores dos títulos teriam
usado sobras de financiamentos
de campanhas eleitorais. Esse dinheiro teria sido enviado irregularmente ao exterior e, com a operação, teria sido "esquentado".
A operação
Dois nomes envolvidos na operação têm alguma ligação com o
pré-candidato do PSDB à Presidência, senador José Serra (SP).
Um é o empresário Ricardo
Sérgio de Oliveira, que arrecadou
fundos para campanhas de Serra
em 1990 e 1994. Outro é Vladimir
Antônio Rioli, que foi sócio do tucano de 1986 a 1995.
O documento que selou o empréstimo tem as assinaturas dos
dois. Ricardo Sérgio era do conselho de administração da Calfat e
foi avalista da operação. Rioli era
vice-presidente de operações do
Banespa e fazia parte do comitê
de crédito do banco. Segundo a
revista, Ricardo Sérgio montou a
operação e Rioli a aprovou.
Na operação, o agente financeiro, que garantiu a transação, foi o
Banespa. Até hoje nada foi pago
ao Banespa, que captou o dinheiro e o repassou para a Calfat.
Rioli disse à Folha que a decisão
de dar o empréstimo foi tomada
pelo comitê de crédito do banco,
e não só por ele. Diz também que a empresa que teve com Serra, a Consultoria Econômica e Financeira
Ltda., só funcionou de fato por
um ano depois de fundada, em
março de 1986. Serra tinha apenas
10% da sociedade.
"Abri a empresa para escrever
artigos de economia durante o
período em que fiquei sem remuneração, após deixar o governo
Montoro", disse Serra. "A empresa foi desativada quando assumi
uma vaga como deputado constituinte", disse. Segundo o pré-candidato, "as insinuações levantadas pela revista e pela CPI são,
além de mentirosas, parte do terrorismo em marcha" contra sua
candidatura. Segundo Serra, a extinção da empresa só foi formalizada em 95 porque houve inépcia
dos encarregados em executá-la
e, além disso, a lei determina um
prazo de cinco anos para que tal
operação seja reconhecida.
A investigação
O presidente da CPI do Banespa, deputado Luiz Antônio Fleury
Filho (PTB-SP), adversário histórico de Serra e adepto da candidatura Ciro Gomes (PPS), disse anteontem que aguarda os documentos referentes à operação da
Calfat para definir uma linha de
investigação. Fleury, que era governador de São Paulo na época
da operação do Banespa, disse
que sabia da ligação entre Rioli e
os tucanos. Mas afirmou desconhecer que Rioli e Serra foram sócios. "Precisamos investigar tudo
isso", disse Fleury, sobre a suspeita de que a operação teria sido
usada para trazer para o país dinheiro ilícito que estaria depositado em paraísos fiscais.
Fleury também aguarda documentos relacionados aos empréstimos do ex-banco estatal para a
Gremafer, do empresário Gregorio Marin Preciado, que foi sócio
de Serra em um terreno em São
Paulo. A documentação das duas
operações já foi requisitada pela
CPI ao Banco Central e ao Santander, atual dono do Banespa.
A CPI investiga empréstimos
do Banespa para a Gremafer, empresa de Gregorio Marin. Em
1993, o banco emprestou a Marin
R$ 21 milhões, operação que também teria sido aprovada por Rioli. A dívida acabou sendo reduzida.
Na última quarta-feira, Ricardo
Sérgio e Gregorio Marin iriam depor na CPI. Mas uma operação
governista de última hora derrubou os depoimentos. O argumento usado foi que as operações envolvendo os dois empresários
ocorreram antes de dezembro de
1994, ou seja, em um período anterior à intervenção do Banco
Central no Banespa. Como a CPI
foi aprovada para investigar apenas os atos praticados após a intervenção no banco estatal, os depoimentos não seriam legais.
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