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ESQUERDA NO DIVÃ
Desfalcada de seus líderes, Internacional Socialista realiza congresso no Brasil e tenta voltar a ser representativa
Internacional se apóia no PT para vencer crise
JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Apoiada na vitória eleitoral do
PT, a Internacional Socialista realiza, a partir de amanhã, em São
Paulo, o seu 22º congresso, cujo
principal desafio será recuperar o
prestígio como entidade representativa da esquerda mundial.
Trabalhistas, socialistas e sociais-democratas debaterão, durante três dias, temas como um
novo papel para a ONU e a pobreza mundial. Mas o pano de fundo
das discussões é a crise de identidade pela qual passam a organização e a esquerda no mundo.
Realizada pela primeira vez no
Brasil, a reunião fica esvaziada
com a ausência de três importantes líderes do centro-esquerda europeu, cujos partidos fazem parte
da Internacional: os premiês alemão, Gerhard Schröder (social-democrata), britânico, Tony Blair
(trabalhista), e sueco, Göran Persson (social-democrata).
"O maior problema não é o fato
de um ou outro líder não comparecer à reunião, o que tira um
pouco do seu peso, mas o de que a
Internacional perdeu parte de sua
representatividade internacional", avaliou o cientista social
Norman Birnbaum, ícone da esquerda norte-americana e professor emérito no Centro de Direito
da Universidade de Georgetown.
A Governança Progressista (ex-Terceira Via), que propõe um caminho entre o liberalismo e as
tendências estatizantes da velha
social-democracia e tem o trabalhismo inglês como um dos principais quadros, é apontada como
uma das consequências da atual
perda de identidade da esquerda e
do enfraquecimento da Internacional Socialista.
"Uma reunião como esta é um
"saco de gatos" completo. Há desde partidos que ainda têm um
compromisso com reformas sociais até a maioria, que dá o tom.
Para se tomar como medida ideológica o que é essa Internacional,
basta dizer que o PT, membro ou
não membro, ainda será uma força à esquerda, porque à direita está Blair", disse João Quartim de
Moraes, do Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp e editor da
revista "Crítica Marxista".
Conservadorismo
A atuação do chanceler (premiê) alemão Willi Brandt (1913-1992), nos anos 70 e 80, voltou a
organização para o internacionalismo e o subdesenvolvimento do
chamado Terceiro Mundo.
Para Leonel Brizola, presidente
do PDT, único partido que compõe a Internacional, foi essa a época de maior influência da entidade no debate internacional.
"As esquerdas estão vivendo
uma crise de identidade e não
atravessam um bom momento
em razão do que ocorreu em diversos países [vitória da direita na
Europa nas últimas eleições]. Isso
atinge o socialismo e confunde
muita gente", afirmou Brizola.
Nesse cenário de indefinição da
esquerda está o PT, principal "anfitrião-militante" do congresso,
conforme definiu o seu presidente, José Genoino. O partido participará novamente como observador, deixando a polêmica definição sobre a entrada na entidade
para depois das eleições de 2004.
"A Internacional era tachada de
organização de direita. Os petistas
diziam: "Isso é a outra cara da
moeda. É conservadorismo disfarçado'", conta Brizola.
Por trás da realização do congresso no país está Luís Favre,
marido da prefeita Marta Suplicy.
"Simbolicamente constitui o reconhecimento do lugar ocupado
pelo presidente Lula como líder
mundial", disse Favre, para quem
teses como as da "Terceira Via"
são uma expressão da "crise de
identidade" da organização.
Lula abrirá o encontro amanhã.
De acordo com o secretário-geral
da entidade, o chileno Luís Ayala,
o Brasil foi escolhido como sede
dos debates em razão da "expectativa" em torno do governo petista em toda a América Latina.
Segundo Manfred Nitsch, especialista em economia política e integrante do Instituto para a América Latina da Universidade Livre
de Berlim, o PT "acabou se transformando num verdadeiro ícone
da esquerda mundial". "Como
[Lech] Walessa [ex-presidente da
Polônia], Lula é o líder de um governo com preocupações sociais,
mas que não coloca em xeque o
sistema liberal", afirmou.
No congresso, cujo tema é "O
Retorno da Política", serão feitos
três documentos sobre a situação
econômica e social internacional.
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