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Focalizar é bom senso, diz economista
DE WASHINGTON
O economista Emanuel Skoufias, pesquisador do BID (Banco
Interamericano de Desenvolvimento), foi chefe da equipe de
avaliação do plano mexicano Progresa entre 1998 e 2000.
Durante esse período, Skoufias
e uma equipe de pesquisadores
das universidades americanas de
Yale, Berkeley e Pensilvânia fizeram um acompanhamento contínuo da evolução social de 24 mil
famílias beneficiadas.
"O Progresa foi bem sucedido.
O governo mexicano tinha interesses políticos no sentido de que
desse certo", afirma.
"Não é um consenso apenas em
Washington que, quando se tem
pouco dinheiro, deve-se procurar
empenhá-lo onde o retorno é
maior. É uma questão de bom
senso", disse Skoufias à Folha na
quinta-feira em Washington.
No mesmo dia, em Brasília, o
ministro Antonio Palocci Filho
(Fazenda) afirmava: "A focalização (em programas sociais) é uma
questão de bom senso, não de políticas de direita ou esquerda".
Leia a entrevista:
(FCz)
Folha - Como o sr. avalia a experiência do Progresa?
Skoufias - O programa foi bem
sucedido, principalmente pelo fato de ter tido uma concepção geral única desde o primeiro estágio. O governo mexicano também
tinha interesses políticos no assunto. Queria mostrar que haveria uma mudança importante em
relação ao passado, onde o dinheiro à população carente era
simplesmente distribuído sem
que ocorresse uma avaliação rigorosa dos resultados.
Por isso, o então presidente Ernesto Zedillo pediu um acompanhamento meticuloso do Progresa, inclusive para poder aperfeiçoar o programa a partir dos seus
resultados. E isso foi feito.
O Progresa foi continuado e
conseguiu sobreviver à troca de
governo. E a grande razão disso é
que as avaliações mostraram que
era efetivo.
Folha - Há um embate no Brasil
entre os que defendem programas
sociais universais e os que querem
a focalização. No México, houve a
focalização no Progresa. No Brasil,
teme-se que dinheiro de outras
áreas, como educação universitária ou mesmo da saúde, seja canalizado para um programa do tipo. Os
críticos vêem nisso uma espécie de
"pós-Consenso de Washington" ,
que visaria aprofundar o ajuste fiscal.
Skoufias - Do ponto de vista econômico, e isso não é um consenso
só em Washington. Quando se
tem pouco dinheiro, deve-se procurar empenhá-lo onde o retorno
é maior. É uma questão de bom
senso. Se o dinheiro hoje é dirigido a atividades poucos efetivas, o
melhor a fazer é tirá-lo de lá para
direcionar para algo mais produtivo. No México, havia muitas indicações de que vários dos programas sociais não funcionavam.
Estavam distorcidos.
Há muitos estudos em vários
países que mostram que as pessoas que mais se beneficiam de
sistemas de educação universal
em universidades, por exemplo,
não são as que representam a média da sociedade. São os mais ricos, que acabam conseguindo depois os melhores empregos.
Do ponto de vista da sociedade
como um todo, seria melhor colocar esse dinheiro no combate à
miséria ou em programas que
dessem oportunidades para os
mais pobres. Por este raciocínio,
faz todo o sentido, por exemplo,
transferir o dinheiro das universidades para o ensino primário.
Folha - E quanto a outros programas, como seguro-desemprego,
sistema de saúde universal ou até
mesmo aposentadorias por tempo
de serviço?
Skoufias - O problema com este
tipo de programa é que geralmente eles existem e ninguém tem
uma avaliação segura dos seus resultados. É preciso avaliá-los para
tomar uma decisão com princípios mais justos e arbitrar quem
vai perder ou ganhar mais.
O grande problema é esse: há
muitos programas em campo e
nada é avaliado direito. Um levantamento revelaria que muita
coisa está mal direcionada.
Folha - O princípio da focalização
em programas como o Progresa faz
parte de uma orientação geral do
Banco Mundial, do BID, do FMI ou
do chamado Consenso de Washington?
Skoufias - Não colocaria dessa
maneira. Mas do ponto de vista
dos Estados Unidos, onde há uma
série de estudos nesse sentido, a
conclusão clara é a de que quanto
mais cedo se puder intervir no ciclo de vida dos indivíduos, mais
retorno teremos do dinheiro investido na área social.
Se você quiser ajudar alguém na
vida, deve fazê-lo o quanto antes,
e não depois que ele estiver na cadeia. É um princípio básico, que,
infelizmente, algumas sociedades
não estão seguindo.
Folha - Alguns críticos acusaram
o programa do presidente Lula Fome Zero de ser populista e vêem
agora uma mudança na área da Fazenda e da Educação para focalizar
nos mais jovens.
Skoufias - Embora controversa,
é uma idéia muito razoável. É claro que, no final, tira-se o dinheiro
de um para dar a outro. Alguém
vai perder. Mas as indicações que
temos mostram que planos como
o Progresa, que investem na educação e nutrição de crianças, são
muito mais efetivos. É uma aposta
menos arriscada.
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