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ELEIÇÕES 2008 / RIO DE JANEIRO
Jornalistas são ameaçados por traficantes em favela
Grupo que acompanhava visita de candidato foi forçado a apagar imagens de câmeras
Para Marcelo Crivella, que fazia campanha no local, ameaça ofende a dignidade; "o direito de ir e vir hoje no Rio não é respeitado", afirma
DA SUCURSAL DO RIO
Repórteres e fotógrafos que
acompanhavam ontem pela
manhã a campanha do candidato a prefeito do Rio de Janeiro Marcelo Crivella (PRB) receberam ameaças de traficantes
armados na Vila Cruzeiro, na
Penha, zona norte. A abordagem ocorreu depois que um
grupo, formado por repórteres
e fotógrafos dos jornais "O Globo", "Jornal do Brasil" e "O
Dia", distanciou-se do senador.
Os profissionais fotografavam o candidato cumprimentando moradores em uma praça da favela quando três homens cobriram os rostos e começaram a dizer que não era
para fotografar. O senador os
ignorou e seguiu a caminhada.
Um dos homens aproximou-se dos jornalistas e mandou que
eles apagassem as imagens feitas no local. Um assessor do
candidato que estava com o
grupo tentou argumentar que o
objetivo não era denunciar ninguém, mas logo chegou uma
moto com outros dois homens,
um deles armado com um fuzil.
Ameaçados, os jornalistas
apagaram as imagens. Após serem liberados, voltaram a se
unir a Crivella, que, sem perceber a abordagem, continuara a
caminhada. Ao ser informado
do ocorrido, o candidato encerrou a caminhada. A pedido dos
jornalistas, ele aguardou a chegada dos carros da imprensa
antes de deixar a favela.
"Eu fui caminhando e conversando com as pessoas,
quando o repórter veio me dizer que teve de esvaziar a máquina [fotográfica]. Eu não percebi, mas achei revoltante.
Ofende a nossa dignidade", disse. Segundo Crivella, é necessário "pedir autorização" para
"entrar em determinados locais" da cidade.
O senador relatou ainda o
susto que passou há cerca de oito meses, quando, numa visita à
mesma Vila Cruzeiro, um homem na garupa de uma moto
veio em sua direção com um fuzil na mão. "Ele vinha de longe
e sempre na minha direção.
Graças a Deus, uns 20 metros
antes, tomou outro rumo e desapareceu", afirmou.
A Vila Cruzeiro faz parte do
Complexo da Penha -endereço de 130 mil pessoas de dez comunidades-, que faz divisa
com o Complexo do Alemão.
Neste ano, já houve mais de 70
mortes em confrontos com a
polícia na região.
Como mostrou reportagem
de ontem da Folha, candidatos
a prefeito do Rio têm de ignorar traficantes armados para
fazer campanha. Crivella, anteontem, já havia passado, nas
favelas do Amarelinho e de
Acari, por homens com fuzis e
pistolas. Homens armados
acompanharam à distância o
percurso do senador.
A ex-deputada Jandira Feghali (PC do B) também passou
entre homens armados com fuzis quando esteve em campanha, há uma semana, no morro
da Mangueira, zona norte.
Em nota, a Secretaria de Segurança disse considerar "uma
afronta ao Estado de direito e à
sociedade as ameaças que bandidos fizeram a jornalistas na
Vila Cruzeiro." Também por
meio de nota, o governador do
Rio de Janeiro, Sérgio Cabral,
disse que "o direito de ir e vir
de quaisquer candidatos e da
imprensa é sagrado" e que "fatos como esse -gravíssimo-
tornam evidente a necessidade
de combate sem tréguas à criminalidade." Para Cabral, sempre que "o livre jornalismo é
impedido de atuar, é sinal de
um Estado de exceção".
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