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CONTRA A DEMARCAÇÃO
Coronel vê risco de surgir "nação étnica" na fronteira
Para Fregapani, homologação criaria um "Curdistão"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Gélio Fregapani, 72, diz conhecer como poucos o Estado
de Roraima, onde pisou pela
primeira vez no início dos anos
1960. Coronel reformado do
Exército, foi um dos fundadores do Cigs (Centro de Instrução de Guerra na Selva), trabalhou por dez anos na Abin
(Agência Brasileira de Inteligência). Diz que o Exército é
"fervorosamente contra" a demarcação contínua da reserva.
Apontado pela PF como um
dos responsáveis por municiar
os arrozeiros que atacaram índios, disse que, se isso tivesse
ocorrido, a PF não estaria mais
na região. "Esse pessoal não pode competir comigo."
(LF E SL)
FOLHA - Por que a Raposa/ Serra do
Sol deve ser demarcada em ilhas?
GÉLIO FREGAPANI - A demarcação
contínua de uma grande área
indígena, com diferentes etnias
e culturas, provoca a criação de
algo parecido com o Curdistão,
uma nova nação étnica separada dos países. Se for em ilhas,
não tem problema nenhum.
FOLHA - Há pressão internacional
para formar uma nova nação?
FREGAPANI - Sim. Essa história
de índios nômades é falácia.
Claro que existe possibilidade
de migrações, mas os índios
não são nômades. Não é necessária uma área do tamanho de
Portugal para isso tudo. Na
fronteira é o perigo.
FOLHA - O sr. defende que os índios
não levem em conta sua cultura e se
considerem apenas brasileiros?
FREGAPANI - Sim. Se nós [fizermos isso], damos [permissão] à
criação de nações dentro do
Brasil, estamos contribuindo
para desagregar o país. Os EUA
desejam isso, a Inglaterra, a
Alemanha. Porque querem
aquelas jazidas que têm lá e
querem lidar com um governo
mais dócil, não com o governo
brasileiro. Se o Brasil ganhar a
Raposa, haverá condições de
contestarmos outras [terras].
FOLHA - O governo diz que pode
entrar a qualquer tempo nas terras.
FREGAPANI - O governo está dividido. Há uma parcela de traidores no governo. Além do
mais, o Exército é fervorosamente contra essa reserva, a
ponto de poder haver motins se
a demarcação for contínua.
FOLHA - Quem são os traidores?
FREGAPANI - Não vou citar. Há
um esforço para dividir o Brasil. Chega um momento em que
nem o Exército consegue entrar. Nenhuma fronteira é sagrada. Só ficam razoavelmente
definidas quando habitadas.
Fala-se da floresta, mas é para
desviar o assunto. Querem é a
serra que separa o Brasil da Venezuela e das Guianas, por causa do potencial mineral.
FOLHA - Os índios não têm direito?
FREGAPANI - Eles têm toda a terra de que precisam. Aquilo é
grande. É terra demais e os índios não estão ligados a isso. Isso é coisa de estrangeiro.
FOLHA - A PF o acusa de ajudar os
arrozeiros com táticas de guerrilha.
FREGAPANI - Se tivesse ensinado
táticas de guerrilha não tinha
um policial federal lá. E quem
afirmou isso estaria morto. Esse pessoal não pode competir
comigo. Agora, quando a região
se declarar independente, aí
sim vou fazer guerrilhas.
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