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Índios a favor de reserva ameaçam fazer invasões
À espera de julgamento de homologação de reserva, indígenas preparam festividades
O CIR (Conselho Indígena de Roraima) diz que repassou determinação aos índios de manter a paz, seja qual for a decisão do Supremo hoje
LUCAS FERRAZ
ENVIADO ESPECIAL À
RAPOSA/SERRA DO SOL (RR)
Indígenas favoráveis à demarcação contínua da Raposa/Serra do Sol preparam uma
série de festividades e alguns já
falam que, seja qual for o resultado do julgamento do STF
(Supremo Tribunal Federal),
vão invadir as fazendas dos arrozeiros dentro da reserva.
"Vai morrer índio ou vai
morrer branco, mas vamos lutar por nossa terra", afirmou o
macuxi Pedro Brasil, 28, que
ajudava ontem na organização
dos festejos na Vila Surumu
(226 km de Boa Vista), porta de
entrada da Raposa/Serra do
Sol. O CIR (Conselho Indígena
de Roraima), contudo, afirma
que a determinação repassada
aos índios é de manter a paz.
A declaração de Pedro Brasil,
porém, ecoa com a preocupação do governo de como a decisão do STF será recebida pelos
indígenas, que esperam há ao
menos dez anos uma definição
sobre a área.
Na Vila Surumu são várias
faixas espalhadas sobre a demarcação, algumas clamando
pelo direito dos povos indígenas àquelas terras, outras com
dizeres como "pátria ou morte,
venceremos!", esta pregada na
frente da subprefeitura da vila,
administrada pela Prefeitura
de Pacaraima, sob o comando
de Paulo César Quartiero
(DEM), o líder dos rizicultores.
Quartiero viajou a Brasília
para acompanhar o julgamento
-assim como o governador de
Roraima, José Anchieta Júnior
(PSDB). "A decisão será um divisor de águas para o Estado",
disse Anchieta. "Não sou contra os índios, mas sim a favor do
desenvolvimento econômico
do Estado." A produção de arroz responde por 6% da economia roraimense.
Apesar das tensões, a véspera
do início do julgamento transcorreu sem incidentes. A Vila
Surumu amanheceu com o som
de música sertaneja, que tocou
durante horas. Crianças nadavam no rio Surumu, e o descanso da tarde em redes, após almoço servido em fila e distribuído após a entrega de fichinhas, só foi interrompido pelos
sobrevôos de helicópteros da
Polícia Federal e do Exército,
que monitoram a área.
Na Vila Surumu, considerada
um barril de pólvora pela presença de índios (pró e contra
demarcação contínua) e arrozeiros, há homens da Polícia
Federal e da Força Nacional de
Segurança. Outros agentes,
prontos para atuar a qualquer
momento, estão de plantão em
Boa Vista e Pacaraima.
Há um temor porque o local
também foi o escolhido para
manifestação hoje de índios
que apóiam os arrozeiros.
"Mas vamos esperar o resultado pacificamente", adiantou
o tuxaua (espécie de cacique)
José Brazão de Braga, do Sodiur (Sociedade de Defesa dos
Índios Unidos do Norte de Roraima), organização ligada aos
evangélicos e aos seis rizicultores que ainda estão na área, que
tem quase 1,7 milhão de hectares -espaço em que caberia 12
cidades de São Paulo.
"Vamos dar uma aula para o
Supremo, como sempre fazemos aos brancos", disse o índio
macuxi Martinho, este do CIR e
próximo dos católicos. Ele também organiza as festividades
dos índios. "Mas o STF é a nossa última esperança", admitiu.
A festa terá cantos e danças
tradicionais dos índios macuxi,
etnia predominante na Raposa,
que engloba também outras
quatro etnias, além de rezas
(católicas), passeata e muita comida -só para esta semana 15
bois foram abatidos, além de
muita batata e mandioca.
Um grupo de 25 índios da reserva foi de avião a Brasília para
acompanhar o julgamento. Ontem, os indígenas protestaram
na Praça dos Três Poderes. Júlio Macuxi, um dos líderes dos
índios, espera para hoje a presença de mais 150 indígenas de
outros Estados e representantes de sindicatos que apóiam a
demarcação contínua.
Colaborou FERNANDA ODILLA ,
da Sucursal de Brasília
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