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BASTIDORES
Depois de vencer batalha do primeiro turno, tucano apostou no medo a Lula, mas evitou usar gravação em que petista aparece reunido em Cuba com representantes das Farcs
Divisão interna minou caminho de Serra
RAYMUNDO COSTA
EM SÃO PAULO
RAQUEL ULHÔA
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
O candidato do PSDB a presidente, José Serra, entrou na eleição de sua vida com uma convicção: só teria o apoio das elites políticas e empresariais na hipótese
de não haver alternativa ao nome
de Luiz Inácio Lula da Silva. Depois de vencer a batalha do primeiro turno, feito de que muitos,
inclusive seus aliados, duvidavam, o tucano apostou no medo a
Lula e ao PT. Não deu certo. Serra
termina a eleição mais forte do
que começou, mas, como no início, parece sozinho.
Na ótica da campanha, trata-se
de uma história de muitos erros,
alguns acertos e de pequenas e
grandes traições. Os erros começaram na formação da equipe,
quando Serra concordou em deixá-la sob o comando do deputado
Pimenta da Veiga (MG), para tentar recompor os tucanos e manter
uma ponte com o PFL.
Pimenta se indispôs com a equipe de marketing da campanha e
logo atuava nos bastidores contra
o candidato: julgava
melhor perder para Ciro no primeiro turno,
compor com o candidato do PPS no segundo e recompor a base
aliada do governo. Foi
o que moveu Tasso Jereissati (CE) a apoiar
Ciro. Não foi por outro
motivo que Pimenta se
opôs aos ataques a Ciro
nos programas de rádio e TV do PSDB.
Analisada em perspectiva, a avaliação de
Pimenta parece correta. Mas outro tucano de
peso, decisivo para a escolha de Serra, antes do
primeiro turno, tinha a
mesma opinião: o presidente Fernando Henrique Cardoso.
Em uma de suas conversas diárias com o comitê paulista de Serra, FHC disse a um interlocutor que ele próprio não
conseguiria se reeleger, se tentasse um novo mandato. O povo, segundo o raciocínio do presidente,
queria alguém que demonstrasse
determinação, cara feia para fazer
as mudanças, bem diferente de
seu estilo de conciliador. Só faltou
dizer o nome de Ciro.
Serra sempre teve dificuldades
para entrar em Minas, segundo
maior colégio eleitoral do país. Ele
e Aécio Neves, eleito governador
no primeiro turno, estiveram juntos em mais de uma dezena de
showmícios. Mas a conta sempre
foi paga pelo candidato a presidente. Serra contemporiza. Afinal, Aécio também tentou ajudar.
Antes de Itamar Franco declarar sua opção por Lula, Aécio armou um encontro do governador
com Serra. Itamar foi para Brasília. Serra saiu de casa, à noite,
mas, antes, passou no Palácio da
Alvorada. Lá estavam Pimenta e o
ex-governador Eduardo Azeredo,
inimigos políticos de Itamar. Ambos vetaram o acordo. Serra ligou
para Itamar desmarcando o encontro. Pimenta deixou a campanha ao final do primeiro turno.
FHC participou da decisão que
levou a campanha de Serra a dizer
que a eleição de Lula levaria o país
à ruína. Mas, enquanto a atriz Regina Duarte dizia que estava "com
medo" do PT, o presidente dizia o
contrário no Planalto.
Serra proibiu ataques à vida privada de Lula. No segundo turno,
circulou o boato de que a campanha teria uma fita de vídeo que
comprometeria Lula. A fita que
há é de uma reunião de Lula em
Cuba, com representantes das
Farcs e de organizações similares,
gravada por uma TV de Miami.
Serra superestimou o medo a
Lula e subestimou o cansaço do
eleitorado com oito anos de mandato de FHC e com a incapacidade de a equipe econômica desatar
nós como o do desemprego.
No primeiro turno, sentiu-se
ameaçado pelo crescimento do
candidato do PSB, Anthony Garotinho, e o atacou, minando uma
articulação para o segundo turno.
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