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BASTIDORES
Slogan que sintetizou a campanha mais rica do PT foi criado espontaneamente por Lula em agosto, marcando estratégia que privilegiou emoção em detrimento do conteúdo
"Lulinha paz e amor" fugiu dos conflitos
DA REPORTAGEM LOCAL
Não foi um grito, mas às margens do rio Acre, em Rio Branco,
ouviram os eleitores um Luiz Inácio Lula da Silva plácido: "Lulinha
não quer briga. Lulinha quer paz e
amor". Naquele 22 de agosto,
uma quinta-feira, 66 dias atrás, o
candidato do PT à Presidência
criou -impensadamente e sem o
auxílio do publicitário Duda
Mendonça- o slogan síntese de
sua campanha neste ano.
Já líder da disputa eleitoral com
37% das intenções de voto, segundo o Datafolha, Lula queria distância do embate- que prosseguiria por mais um mês- entre
Ciro Gomes (PPS), à época com
20%, e José Serra (PSDB), com
19%, ambos em empate técnico.
Dois dias antes, havia começado
o horário eleitoral gratuito. Serra
levou ao ar imagens de Ciro chamando um eleitor de "burro". O
pepessista acusou o tucano de
"comportamento de marginal".
Maior beneficiário da troca de
ataques, o petista sorriu ao ser
questionado sobre o tom dos adversários e saiu-se com o "Lulinha
quer paz e amor". Ele
visitava Rio Branco,
onde fez comício para
cerca de 6.000 pessoas,
na Gameleira, palco há
cem anos da chamada
Revolução Acreana,
um embate entre brasileiros e bolivianos pela
posse da terra, que o
Brasil assumiria oficialmente em 1903.
"Lulinha paz e amor"
primeiro simbolizou o
candidato que evitava
ataques diretos a seus
adversários e usava o
programa eleitoral na
TV para prioritariamente divulgar seu
programa de governo.
Até a mídia internacional -do conservador "Christian Science
Monitor" até o longínquo "Asian Times"- adotou o
"Lula peace and love", que depois
virou sinônimo de um comportamento arredio do candidato, que
evitava respostas a questões que
pudessem desagradar a algum
segmento do eleitorado ou a algum aliado, vários deles adversários históricos entre si ou concorrentes nas disputas estaduais.
O sucesso da tirada fez o petista
passar a repeti-la. "Pode cobrar:
Ô, Lulinha paz e amor, dá para fazer o que você prometeu?", pediu
ele a artistas na semana passada.
Em três meses de campanha, segundo o PT, Lula visitou 93 cidades, fez 103 comícios, 63 carreatas,
permaneceu um total de 147 horas dentro de aviões e percorreu
61.127 km pelo país.
Lula chegou a tentar fazer campanha viajando sempre que possível em vôos comerciais. Era uma
boa forma de marketing. A cada
vôo, centenas de passageiros avistariam um candidato a presidente
viajando como um cidadão comum. Uma pitada de preocupação com a segurança alimentava a
idéia: "É mais difícil quererem
derrubar um avião comercial",
chegou a comentar Lula.
Mas a agilidade de deslocamentos provocada pelo aluguel de um
jato da TAM e o dinheiro entrando sem problemas no caixa do
partido sepultaram a idéia.
Foi a mais rica campanha presidencial petista. O partido pediu
autorização ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para gastar até
R$ 48 milhões. O custo final ainda
está sendo contabilizado, mas
passou dos R$ 35 milhões, segundo cálculos não-oficiais.
O limite pedido pelo PT ao TSE
tem um estratagema. O partido
tenta evitar gastar mais do que os
R$ 43 milhões que Fernando
Henrique Cardoso declarou ter
gastado oficialmente em 1998.
Naquele ano, Lula afirmou ter
gastado R$ 2,06 milhões, 4% do limite de gastos atual.
Na campanha, Lula gostava de
lembrar dos tempos de vacas magras do passado: "A gente fazia
comício em que eu falava para
poste. Agora o petezinho cresceu".
(PLÍNIO FRAGA)
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