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BASTIDORES
Indicação de ex-governador tucano antes da eleição funcionaria como "isca" para seduzir empresariado
PFL pró-Ciro sugere Tasso na Fazenda
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os caciques do PFL que apóiam
a candidatura Ciro Gomes (PPS)
sugeriram a ele que anuncie o
mais rapidamente possível o ex-governador Tasso Jereissati
(PSDB-CE) como ministro da Fazenda e homem forte num eventual governo Ciro.
Na prática, Tasso já é o principal
nome do esquema Ciro. É o avalista da candidatura na área empresarial, porque é também empresário e considerado mais "maduro" e mais "confiável". E já articula a adesão do PSDB a Ciro, caso o tucano José Serra não vá ao
segundo turno.
Além de tentar dar já uma certa
tranquilidade ao mercado, o
anúncio de Tasso para a Fazenda
seria a principal "isca" para atrair
o apoio do grande empresariado
paulista, inseguro com a "impulsividade" e a "imprevisibilidade"
de Ciro e ainda muito identificado
com o tucano Serra.
Na avaliação da campanha de
Ciro, os bancos vão ficar com Serra até o fim, enquanto os grandes
empresários de outras regiões e os
médios de São Paulo "vêm pela
gravidade", a força das pesquisas
e a perspectiva de vitória. O fundamental, assim, é investir no
"coração" do grande empresariado serrista.
O alvo principal é o IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), onde o empresário Paulo Cunha (Ultra) é tido como um dos líderes empresariais da candidatura Serra. As três
pontes com a campanha Ciro são
Eugênio Staub (Gradiente), Ricardo Steinbruch (Vicunha) e Jacques Rabinovici (Vicunha). Eles
têm "efeito multiplicador".
Além disso, Ciro vem aumentando encontros, almoços e jantares com grupos econômicos autônomos e diversificados, e o próprio Tasso estará amanhã em São
Paulo especificamente para contatos com empresários.
Mais do que reforçar os cofres
da campanha -que é também
um dos objetivos da aproximação-, Ciro, Tasso e os pefelistas
esperam eliminar ou reduzir resistências e facilitar a interlocução
com o setor produtivo em caso de
vitória do candidato do PPS.
Reformulação partidária
O anúncio de Tasso para a Fazenda, porém, não pode ser feito
diretamente por Ciro, porque ele,
além de atrair o empresariado,
trata de reforçar os apoios políticos e garantir previamente uma
maioria consistente no Congresso, caso eleito. Ciro e Tasso não
querem "trincar cristais" no
PSDB.
Uma das prioridades da campanha, neste momento, é neutralizar os sinais emitidos de forma
cada vez mais ostensiva pelo presidente Fernando Henrique Cardoso de que apoiaria o petista
Luiz Inácio Lula da Silva contra
Ciro num eventual segundo turno
sem Serra.
Tasso não só se consolida como
o homem-forte num futuro governo Ciro, como se habilita a comandar o PSDB, que ele já presidiu durante anos. Por isso, está
em guerra aberta contra FHC e
Serra, mas mantendo canais diretos com tucanos do governo e da
campanha.
Exemplos: Euclides Scalco, secretário-geral da Presidência da
República, Pimenta da Veiga,
coordenador político da campanha de Serra, José Richa, um dos
articuladores da campanha, e o
próprio presidente do PSDB, José
Aníbal (SP), além do governador
de São Paulo, Geraldo Alckmin,
candidato à reeleição.
Todos eles estão hoje engajados
na candidatura Serra, mas eram
ligados ao governador Mário Covas, morto no ano passado, e, na
maioria, preferiam Tasso a Serra
como candidato do PSDB -como o próprio Covas. Alguns trabalharam objetivamente por isso.
O problema agora é que, se eles
têm dificuldades de relacionamento com Serra, têm restrições
ainda mais forte ao próprio Ciro,
que já foi do PSDB e deixou a imagem de ser excessivamente impetuoso, vaidoso e personalista.
Tasso -que também mantém
boas relações com Aécio Neves,
presidente da Câmara e candidato ao governo de Minas- tenta
aplainar o caminho.
Com isso, um eventual governo
Ciro poderá deflagrar uma reformulação partidária a partir já do
fim deste ano, com o isolamento
do grupo paulista de FHC e Serra
no PSDB e a fusão de PTB e PDT
numa só sigla trabalhista. Esses
dois partidos compõem com o
PPS a Frente Trabalhista que sustenta a candidatura Ciro.
Governabilidade
A estratégia da campanha Ciro
passa diretamente pelo reforço ao
papel do PFL, especialmente o do
presidente do partido, senador licenciado Jorge Bornhausen (SC),
que dá um "upgrade" à cúpula da
candidatura Ciro.
O presidente do PPS, senador
Roberto Freire (PE), chegou a ser
considerado quase um dissidente
na campanha. O do PDT, Leonel
Brizola, tem origem na esquerda e
assusta setores conservadores e
empresariais. O do PTB, deputado José Carlos Martinez (PR), é
suspeito de vínculos estranhos
com PC Farias, o polêmico tesoureiro da campanha presidencial
de Fernando Collor de Mello.
Bornhausen, ao contrário, é como Tasso no PSDB: circula bem
nos setores empresariais e está encarregado de atrair a unanimidade do PFL para a campanha num
possível segundo turno. Hoje,
parte importante do partido está
com Serra, como a seção de Pernambuco.
Pelos cálculos do próprio Bornhausen, o PFL terá mais de 17 senadores e entre 90 e 100 deputados federais e não será apenas um
partido periférico, mas sim fundamental para conferir maioria a
Ciro no Congresso. Além disso,
tem o que falta aos neo-parceiros:
quadros políticos e técnicos em
todos os Estados.
Ainda na estratégia da campanha, não há o que negociar com o
PSB de Anthony Garotinho, pois
o partido tende para Lula, mas o
comando de Ciro não tem dúvidas: se Garotinho desistir, seus
cerca de 10% de votos iriam majoritariamente para o candidato do
PPS pois vêm de evangélicos refratários ao PT e do Rio, Estado de
forte marca oposicionista e, portanto, contrário a Serra. Além disso, Ciro é "a novidade".
Quanto aos constrangimentos
ideológicos, a subida de Ciro nas
pesquisas está se encarregando de
resolver. Brizola e Bornhausen,
por exemplo, sempre estiveram
do lado oposto no espectro político nacional, mas discursaram um
atrás do outro no primeiro grande comício do PFL para Ciro, em
Lages (SC), na semana passada.
Após o comício, Brizola segurou a cabeça de Bornhausen com
as duas mãos, uniu testa com testa
e lhe disse, olho no olho: "Bá, tchê,
tu és um palanqueiro tão bom
quanto eu!".
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