|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MAGNETISMO ALIADO
104 dos 513 deputados eleitos em 2002 já trocaram de sigla
Um quinto da Câmara troca de partido no governo Lula
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A alteração de eixo do poder em
Brasília está provocando uma radical mudança no desenho do
Congresso eleito em 2002, a
exemplo do que ocorreu na passagem do regime militar para a
Nova República (1985-1990) e
desta para o governo Fernando
Collor de Mello (1990-1992).
Desde a eleição do governo do
PT, ocorreram 126 trocas de partido na Câmara, 15 delas nos últimos dez dias. Dos 513 parlamentares eleitos em 2002, 104 (20%)
trocaram de sigla, 22 deles mudaram de legenda mais de uma vez.
Os números apontam para uma
migração parecida com as ocorridas na quadra da Nova República
(165 deputados mudaram de sigla) e do recorde de 200 deputados da legislatura 1991-1995.
"A tendência é que as mudanças
aumentem, como ocorre em todas as grandes mudanças de poder", diz o cientista político Murilo Aragão, de Brasília. "Não há deputados de partido, há deputados
de qualquer governo", sustenta
Alexandre Cardoso (PSB-RJ),
presidente da comissão de reforma política da Câmara.
De fato, as negociações em curso no Congresso devem levar a
mudanças até a próxima sexta-feira, prazo de encerramento de
filiação para quem pretende concorrer às eleições de 2004, que podem levar o PTB a se tornar a terceira maior bancada da Câmara e
se transformar no segundo mais
importante parceiro do governo
no Congresso.
Aliado de Lula desde o segundo
turno da eleição presidencial, o
PTB saiu de uma bancada de 26
deputados eleitos para 55 anteontem. A expectativa é que ultrapasse os 60 nesta semana, passando o
PFL, que elegeu 84, está com 65 e
pode perder até dez deputados.
Núcleo da coalizão que deu sustentação política aos oito anos de
governo Fernando Henrique Cardoso, PSDB e PFL foram as siglas
que mais sofreram baixas: 18 e 19
deputados, respectivamente. O
PMDB, aliado tardio de FHC (não
estava na coligação que o elegeu),
chegou a definhar no governo Lula, mas se recuperou após ter acertado sua entrada no ministério e
está com 77 deputados, dois a
mais do que elegeu.
PMDB e PTB comporão ao lado
do PT o trio de ferro de apoio ao
governo Lula, papel que na era tucana era desempenhado pelo
PSDB tendo ao lado PFL e PMDB.
A entrada de um gigante como
o PMDB no governo, provavelmente com dois ministérios, é o
que pode levar o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, a
trocar o PPS, onde vive às turras
com o presidente da sigla, Roberto Freire (PE), pelo PTB, partido
que ele tem ajudado a crescer. A
má imagem dos trabalhistas, associada ao fisiologismo, tem levado Ciro a retardar a mudança.
O fenômeno PTB só não é
maior que o PSC, legenda que
cresceu 600% -passou de um
para sete deputados e pode chegar a nove. Foi para o PSC que o
secretário da Segurança do Rio,
Anthony Garotinho, levou todos
os aliados que não pôde incluir no
PMDB, por problemas regionais.
É prevista a formação de um bloco PMDB-PSC, o que hoje significaria 84 deputados e um peso
maior aos peemedebistas na
aliança com o PT.
O ministro das Comunicações,
Miro Teixeira, tem se constituído
exceção. Se dependesse do Palácio do Planalto, Teixeira já teria
trocado o PDT, dividido ao meio
em relação ao apoio ao governo,
pelo PSB ou PMDB. O ministro
não só ficou, como recomendou a
seus correligionários do PDT que
não trocassem de legenda.
Uma análise das últimas trocas
indica que é a necessidade de recomposição política com o governo a motivação das mudanças,
maior que o encerramento do
prazo de filiação para quem vai
concorrer em 2004.
Neste último caso se enquadra o
grupo de deputados pernambucanos que deixou PMDB, PSDB e
PFL para ingressar no PTB e lançar a candidatura de Roberto Magalhães a prefeito de Recife.
De início, o Planalto estimulou
o troca-troca partidário das siglas
de oposição para as de situação,
mas procurou preservar o PT.
A novidade é que agora também o PT abriu as portas: é prevista para os próximos dias as filiações de um tucano, Ariosto Holanda (CE), e de Lúcia Braga (PB),
que se elegeu pelo PTB e está no
PMN.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Bancada de deputados do PSC cresce 600% Índice
|