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Goldman troca fuso horário do governo de SP a partir de 6ª
Madrugador e sem pretensão eleitoral, sucessor do notívago Serra assume e comanda a passagem de bastão no Estado
Aos 72, vice deixa claro que não considera Alckmin o nome mais adequado para disputar o cargo, mas promete fidelidade à sigla
Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
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Alberto Goldman (PSDB), vice-governador de SP, em seu carro rumo a um jogo de basquete, esporte que pratica há quase 60 anos
DA REPORTAGEM LOCAL
Ele não acha o nome de Geraldo Alckmin "o mais adequado" para a disputa pelo Palácio
dos Bandeirantes. E já disse. Ao
próprio Alckmin. Ele também
chama de "condenação" a perspectiva de um mandato de quatro anos à frente do Estado. À
beira dos 73 anos e sem pretensão eleitoral, o futuro governador de São Paulo, Alberto Goldman, é hoje, na definição dos
aliados, um homem sem travas.
Goldman é a partir de sexta-feira -quando José Serra
transmite o cargo oficialmente- o próximo governador de
São Paulo. Sob seu comando se
dará a sucessão no Estado. Para
a disputa, nunca escondeu a
preferência pelo chefe da Casa
Civil, Aloysio Nunes Ferreira.
"Gosto do Alckmin como
pessoa. Não acho que seja o nome mais adequado", confessa.
Uma ríspida conversa, em junho de 2008, aguçou a cisma.
No encontro, às vésperas das
convenções partidárias, Goldman tentou demover Alckmin
da disputa pela prefeitura,
comprometendo-se a apoiá-lo
para o governo em 2010. Não
foi bom o desfecho.
Ano passado, deixou, a pedido de Serra, a Secretaria de Desenvolvimento para que Alckmin fosse acomodado no governo. Hoje, em respeito às
prioridades partidárias -um
dos traços que atribui à criação
"judaico-cristã-comunista"-,
promete trabalhar pela eleição
do candidato tucano, "quem
quer que seja", desde que o próximo governo reproduza a
"unidade" do atual. "Não se faz
na vida o que se quer, se faz o
que se pode", resigna-se.
Na sala de casa, com o mesmo vigor com que toca Beethoven, a palavra flui. Apesar da
posição invejável para a classe
política -e do reconhecimento
de que a posse será a coroação
de sua carreira política- Goldman afirma que até mesmo a
mulher, Deuzeni ("Deusa"),
duvidou de seu desinteresse
pelo governo do Estado. Fosse
mais jovem, admite, "toparia".
"O mandato de governador é
de quatro anos. Isso é uma prisão. Você não é eleito. É condenado a quatro anos", justifica.
Saboreando um charuto,
continua. Filho de poloneses,
herdou do pai a obsessão pela
pontualidade. Essa, diz, é sua
maior diferença em comparação ao futuro antecessor.
Além "da diferença de fuso
horário", é claro. Goldman se
levanta antes do toque do despertador, programado para as
5h45. Às 6h30, três vezes por
semana, joga basquete, esporte
que pratica há quase 60 anos,
40 deles na mesma academia,
no centro de São Paulo.
A caminho do apartamento,
em Higienópolis, ouve o mesmo programa de notícias. Em
casa, a exuberante Deusa -32
anos de casamento e mãe de
dois de seus cinco filhos- o espera para o café. Às 8h, ele
tem aulas de inglês.
"Esse homem me seduziu",
diz ela, 14 anos mais jovem.
A convivência com Serra impôs outro tipo de disciplina.
Alertado para o risco de suas
opiniões serem encaradas como as do governador, conteve o
verbo nos últimos três anos e
três meses. "E tirei só duas semanas de férias", registra.
Formado em engenharia pela Politécnica, Goldman entrou
na política pelo movimento estudantil. Foi ministro dos
Transportes e passou por PCB,
MDB/PMDB e PSDB.
"Completo agora 40 anos de
vida pública. Conto nos dedos
de uma mão os amigos que eu
tenho. A-mi-gos. Inimigos, tenho aos montes", diz.
Pródigo em palavras, Goldman economiza quando o assunto são multas de trânsito
em seu nome, muitas, diz, provocadas pelos filhos. "Nem me
fale sobre isso", recomenda ele.
Pelo visto, um homem sem
travas e freios.
(CATIA SEABRA)
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