São Paulo, domingo, 29 de agosto de 2004

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JANIO DE FREITAS

A fórmula do vôo

O problema-gigante que é a Varig, já incapaz de esticar a sobrevida até o fim do ano, está a um passo da solução, mas não por via de uma das propostas que voltaram a freqüentar o noticiário nos últimos dias.
A fórmula, resultante da ação coordenada de vários setores do governo, não inclui o encontro de contas, entre as dívidas e os créditos que a Varig alega ter na União por decorrência, sobretudo, de perdas atribuídas a planos governamentais antiinflacionários. A indenização pretendida pela Varig, de valor entre R$ 2,3 bi e R$ 3,5 bi, está sendo julgada no Superior Tribunal de Justiça.
Não haverá, também, estatização da Varig, que seria o provável resultado da proposta de que os débitos sejam quitados com ações da empresa. Como maior credor da Varig (só a dívida com a Receita Federal e a Infraero ultrapassa o bilhão), o governo se tornaria o acionista controlador.
Ponto sempre discutido, o aporte de recursos governamentais a fundo perdido, sem retorno obrigatório, está excluído da fórmula. O BNDES participa da operação como banco, dentro das modalidades financeiras próprias de banco de fomento. E, assim como a estatização, a fórmula não considera a internacionalização acionária da Varig, presente em algumas sugestões.
Sob o aspecto financeiro, a fórmula é, portanto, de solução brasileira, mantida a Varig como empresa privada e sem a tradicional injeção de recursos públicos que se privatizam, jamais retornando aos cofres de sua origem.
Quanto à operacionalidade da Varig, a fórmula adotou duas premissas. De uma parte, não limitar a solução às urgências da dívida, mas deixar a Varig com condições de continuar capaz de gerar R$ 1 bi em divisas. De outra parte, desenvolver a recuperação com o maior número de empregos compatível com a eficiência administrativa. O problema do desemprego na aviação brasileira já é imenso e agravado pela conseqüente queda dos níveis salariais no setor.
A Varig é um patrimônio internacional do Brasil. Não é gratuito o meigo toque sentido ao deparar-se, no exterior, com o símbolo da Varig a meio das caudas empinadas e incontáveis das potências aéreas. Já seria, esta, a expressão de um motivo para procurar salvá-la. A liquidação da Varig não seria, porém, o de uma empresa que detém mais de 30% do mercado de vôos domésticos e quase 90% dos vôos internacionais: a ruína da Varig seria um desastre alucinante no transporte aéreo brasileiro.

Sem efeito
Marta e Serra subiram, mostra o Datafolha, mas a petista não aumentou a distância que a favorece. No segundo turno, Serra continua com vantagem substancial: Marta precisaria crescer 30% sobre o que tem, para alcançar os 52% que Serra ostenta hoje.
À parte o aspecto eleitoral, é muito positiva a constatação de que o governo Lula não está colhendo os efeitos esperados da propaganda desmedida que vem praticando, com auxílio de parte graúda da mídia. Sob a forma de anúncios e notícias muito exageradas, a propaganda governista tornou os comandos petistas convencidos de reflexos favoráveis do governo federal sobre seus candidatos municipais. Por ora, neris.
É sempre favorável à democracia o fracasso dos contos-do-vigário eleitorais.

Documento
A TV Câmara exibiu, noite alta de quinta-feira, o documentário sobre o golpe que derrubou Hugo Chávez em abril e, logo, sua volta à presidência. O noticiário sobre a Venezuela, desde a eleição de Chávez, é dos mais deformados, entre os assuntos internacionais, e camufladamente reacionário. O filme é uma reportagem de momento, mas só as faces dos personagens já seria uma contribuição para se compreender melhor o que, de fato, ocorre na Venezuela.
A TV Câmara deve reprisar o documentário, sempre sem informar sua programação. Vale a pena vê-lo até como realização de jornalismo.

Inativos
Erro de digitação deu aqui como www.aducamp.org.br, na quinta-feira, o endereço eletrônico da Associação dos Docentes da Unicamp. É www.adunicamp.org.br, onde a associação apreciou os votos no STF sobre a taxação previdenciária de inativos e transcreveu trecho de parecer de Eros Grau, quando advogado, tido como contrastante com seu voto como ministro do STF.


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