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ELEIÇÕES 2004/RAIO-X DA SAÚDE
Pesquisa da secretaria municipal revela que a maior parte dos postos de saúde da cidade precisa de pequenos reparos e reformas
80% das unidades necessitam de obras
DA REPORTAGEM LOCAL
Dos 386 postos de saúde que já
existem na capital paulista, 80%
necessitavam de pequenos reparos (209) ou reformas (98), segundo levantamento feito pela Secretaria Municipal da Saúde em novembro do ano passado.
A pasta não informou a situação
do cronograma de reparos hoje.
Segundo o levantamento, dez reformas ocorreram já em 2003 e
outras 57 deveriam acontecer
neste ano. A secretaria não quis
divulgar o levantamento completo, como os problemas apontados
pelos funcionários. A pesquisa é a
primeira feita de maneira ampla
no setor.
Os locais em que se apontou a
necessidade de reforma são os
com problemas estruturais como
vazamentos e infiltrações. Pequenos reparos são pintura, adequações da rede elétrica e hidráulica.
Segundo dados de um dos últimos concursos da saúde municipal, mais de 400 vagas para profissionais continuam abertas nesses
postos, principalmente na periferia -as regiões leste, sul e norte
são as mais prejudicadas. Não
adiantou a prefeitura pagar mais
para quem fosse para essas áreas.
Como mostram os dados, além
do acesso inadequado da população aos postos, que deveriam ser a
porta de entrada do sistema de
saúde, os que já existem têm problemas de estrutura. É um dos
pontos a equacionar além da
questão da atenção especializada,
focada pelos candidatos a prefeito, avaliam especialistas.
O atendimento precário
-combinação de ausência de
postos e falta de estrutura nos que
já existem -faz, por exemplo,
com que milhares procurem os
grandes hospitais universitários
da cidade em busca de assistência
a casos que não têm nada a ver
com as unidades de grande porte.
Tábua de salvação
"Isso aqui ainda é a tábua de salvação", disse, olhando para os
que se acomodavam mansamente nos bancos na centenária Santa
Casa de SP, o gerente de Comunicações, Arciso Andreoni.
Perto das 21h30 da última quinta-feira doentes e familiares já
acumulavam-se no local para tentar marcar consultas de otorrinolaringologia e dermatologia só no
dia seguinte. Levavam cobertor e
gorro para enfrentar o frio durante a espera. Quando a madrugava
avançava, alguns que chegavam
desprevenidos conseguiam emprestado, dos primeiros da fila,
uma peça para aquecer.
"Povo como o brasileiro, não
tem outro", dizia a dona-de-casa
Zailda Maria Anísio, 47, primeira
da fila, quando o pedreiro João da
Silva, 61, que buscava vaga para
um amigo, chegou com pão e
mortadela, grátis, para todos. Antes já buscara Coca-Cola. Na madrugada, ia e voltava com café. "E
eles lá, dormindo com a barriga
cheia", gritava Silva.
Anísio, por exemplo, foi parar
na Santa Casa depois de perambular por postos e outros hospitais tentando ajudar o marido,
que tem uma ferida aberta na perna. Um encaminhava ao outro,
"O posto é uma porcaria", dizia,
ao lado da filha que tinha faltado
ao trabalho para acompanhar a
mãe. "Tem demora, manda telefonar." O marido já teve de levar
gaze e esparadrapo a um deles
quando precisou de curativos.
Quem não chega na noite anterior, não consegue vaga, explicava
Anísio, que vive na zona sul.
Com uma dor de garganta que
não passa há um ano, a dona-de-casa Edna Maria Teixeira, 34,
também encolhia-se de frio na fila. Foi ao pronto-atendimento da
Santa Casa e de lá para a espera da
otorrino, explicou.
Em razão de contrato assinado
recentemente com o Ministério
da Saúde, em um a dois meses o
mais antigo hospital da cidade terá de deixar de atender os casos
simples como o da dona-de-casa,
dentro de um programa de aperfeiçoamento das unidades de ensino. A mesma mudança deverá
ocorrer no hospital Santa Marcelina, universitário da zona leste da
cidade, informou o secretário da
área, Gonzalo Vecina.
O Santa Marcelina é a tábua de
salvação de alguns moradores de
São Miguel Paulista, na zona leste,
como os do Parque Paulistano,
que esperam o posto prometido
há quatro anos.
Quem vive lá sofre com as filas
do posto mais próximo, que fica a
mais de 30 minutos do bairro e já
está lotado porque é referência
para outras áreas da região. "Já estou há três meses com uma dor
perto da virilha. Disseram que
iam me ligar", afirma o balconista
Francisco Laerte Farias, 48.
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