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ELEIÇÕES 2004/LEGISLATIVO
Ao todo, são 1.215 concorrentes; para cientista político, regra eleitoral permite excesso de postulantes, o que afasta população da eleição
Nanicos são 45% dos candidatos a vereador
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO
Num esforço para crescer -em
muitos casos para tentar aparecer- os partidos pequenos inundaram a eleição para vereadores
em São Paulo. Quase metade dos
candidatos a vereador, 545 pessoas ou 45% do total, é filiada a
partidos nanicos, com pouca ou
nenhuma representação na Câmara Municipal hoje.
Partidos como o PV, com 83
candidatos, e o PMN, com 69 aspirantes a uma vaga de vereador,
têm mais candidatos que o PT e o
PMDB, que concorrem com 61 e
47 candidatos, respectivamente.
O fenômeno acontece porque,
independentemente do número
de filiados ou representatividade,
cada partido pode inscrever o
equivalente a 150% das vagas da
Câmara Municipal. Nas coligações, a proporção sobe para
200%. Resultado: 1.215 candidatos concorrem aos 55 postos de
vereador (leia perfil dos candidatos no quadro ao lado).
A regra, avalia o cientista político Carlos Ranulfo (UFMG), que
estuda o Poder Legislativo, dá liberdade excessiva aos partidos e
pulveriza demais a eleição: "Essa
enxurrada de candidatos cria
uma confusão monumental para
o eleitor, serve para acomodar
candidatos em siglas de aluguel".
"Os partidos sabem que a grande
maioria dos candidatos não tem
chances. Eles não são exatamente
"laranjas", mas são cabos eleitorais", diz o cientista político Rui
Tavares Maluf. A esperança dos
partidos, nanicos ou não, explica,
é a de que os muitos candidatos
somem votos totais para a legenda, o que conta na definição do
número de cadeiras.
Para Ranulfo, o grande número
contribui também para afastar a
campanha da população e descaracterizar a figura política do vereador. Outro motivo para o afastamento do eleitorado é a baixa
representatividade da Câmara,
diz Maluf: "Na última eleição, os
55 vereadores foram eleitos por
menos de 30% das pessoas que
compareceram às urnas [voto válido, mais nulo e branco]".
TV e estratégia
O volume de candidatos complica a campanha na TV e no rádio, especiamente a dos nanicos.
Se o PV, que inscreveu o máximo
permitido de candidatos, dividisse o tempo que dispõe igualitariamente, cada um teria só uma inserção de cerca de 19 segundos em
45 dias de horário eleitoral.
Mas não só os pequenos se desdobram para encaixar os candidatos na TV. No caso do PT, que
optou por exibir apenas as fotos e
números dos concorrentes na tela, a justificativa vem da direção:
as vagas são decididas na rua e a
TV pesa muito pouco. A estratégia já gerou conflitos no partido.
A campanha da TV está em negociação, mas dificilmente mudará
para o modelo tradicional. "Se os
candidatos não têm plataforma,
base, programa, uma história,
não adianta. A TV funciona só para divulgar uma candidatura já
consolidada, mas não é decisiva",
diz o presidente do diretório municipal do PT, Ítalo Cardoso.
Já no PSDB, Edson Aparecido,
presidente do Diretório Municipal, valoriza o corpo-a-corpo,
mas diz que os tucanos contam
com menos recursos para campanha e que, por isso, a TV ajudará a
equilibrar a disputa. Todos os 71
candidatos do partido, diz, falaram por 15 segundos nos primeiros programas de TV. "A partir de
agora, eles voltam em programas
temáticos"-um dos formatos a
serem experimentados para fugir
do modelo quase folclórico: nome, número e bordão.
PT e PSDB têm usado o espaço
na TV dos vereadores para martelar as propostas dos candidatos a
prefeito. Para um marqueteiro
que não quis se identificar, essa é a
principal razão para desvalorização da TV. Para ele, o horário gratuito conta mais principalmente
nos dias próximos ao pleito.
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