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OPERAÇÃO SOCIAL
De olho nos dividendos políticos dos projetos sociais, governadores imprimem sua marca no combate à fome
Estados lançam suas versões do Fome Zero
GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
De olho na divulgação maciça
do Fome Zero e nos dividendos
eleitorais que isso poderá render
ao Partido dos Trabalhadores, os
governadores dos Estados mais
populosos do país saíram na frente e lançaram (ou relançaram)
seus próprios programas de combate à fome.
É o caso de São Paulo, Minas
Gerais e Rio de Janeiro, os maiores colégios eleitorais do país. O
mesmo ocorreu na Bahia, o Estado mais populoso do Nordeste,
onde o governador Paulo Souto
(PFL) já criou até um selo para o
seu programa de combate à fome,
batizado de Mais Vida. Em maio,
em sua primeira fase de expansão,
o Fome Zero chegará à Bahia e
outros nove Estados- oito do
Nordeste e Minas Gerais.
Quando o programa de erradicação à fome do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva chegar à Bahia, encontrará a estrutura de
Souto montada e, segundo o próprio governador, "já começando
a funcionar da forma mais desburocratizada possível".
O governador de Alagoas (que
também receberá o programa em
maio), Ronaldo Lessa (PSB), decidirá na próxima semana se as
ações estaduais de combate à fome terão uma marca única. Por
enquanto, cada programa tem
um nome.
Desencontros
Outro motivo que impulsiona
os governadores a criarem marcas na área social é o fato de que,
apesar da divulgação do Fome Zero, a gestão de Lula ainda patina
na área social. Os desencontros
do programa (e as críticas que
vem sofrendo) são relatados diariamente nos jornais e TVs.
Ou seja, a maior visibilidade dos
programas estaduais de combate
à fome é válida nos dois cenários
possíveis: no caso de o Fome Zero
ser um sucesso e render dividendos eleitorais e ainda no caso de o
programa se resumir a uma sucessão de erros gerenciais.
Assessores de Lula afirmaram
que a corrida dos governadores
para criar (ou divulgar melhor)
seus programas de combate à fome estava sendo esperada. Só que
eles imaginaram que isso ocorreria apenas nos Estados do Nordeste, o principal foco do programa. Mas a prática está disseminada em outras regiões.
Na avaliação de assessores de
Lula, como o Fome Zero está sendo associado pela população ao
PT e à figura do presidente, é natural que os governadores corram
para criar suas próprias marcas
na área social.
Uma indicação de que o combate à fome entraria na pauta política dos governadores já ocorreu na
semana passada em Brasília,
quando representantes de sete Estados que estão na lista da expansão do programa rejeitaram a
proposta do Ministério da Segurança Alimentar de ser tornarem
"parte integrante do Fome Zero".
Os representantes dos Estados
de Alagoas, Pernambuco, Bahia,
Ceará, Paraíba, Maranhão e Minas Gerais concordaram em colaborar na implantação do programa, mas se desobrigaram de
coordená-lo regionalmente e de
mudar o rumo dos seus próprios
programas para atender às exigências do Fome Zero.
São Paulo
Bom exemplo da corrida dos
governadores para divulgar sua
própria agenda social é o caso de
São Paulo. Desde o mandato passado, Geraldo Alckmin (PSDB)
distribui, por meio do Alimenta
São Paulo, 60 mil cestas-básicas
por mês, dá leite para quase 600
mil crianças e ainda mantém 16
restaurantes (chamados de Bom
Prato) que fornecem 25 mil refeições por dia a R$ 1.
Na semana passada, Alckmin
lançou a Rede Social São Paulo,
que pretende unificar programas
sociais nos 50 municípios mais
pobres do Estado.
O tucano anunciou a ampliação
e a unificação dos programas sociais e a escolha do Vale do Ribeira, região mais pobre do Estado,
como uma espécie de "campo de
provas" das ações do governo, a
exemplo do que o Fome Zero faz
com o semi-árido nordestino.
Para o lançamento foram convidadas as mesmas pessoas que circulam em eventos semelhantes
em Brasília, como a empresária
Viviane Senna, presidente do Instituto Ayrton Senna. Senna foi a
empresária escolhida para discursar no Palácio do Planalto no dia
da criação do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social,
presidido pelo ministro Tarso
Genro (PT-RS).
Na quarta passada, coordenadores da Secretaria da Agricultura
de São Paulo, responsável pela
distribuição de alimentos, reuniram-se com as entidades sociais
contratadas para administrar os
restaurantes populares para informar que a marca Bom Prato é
exclusiva do governo do Estado.
As duas instituições -que tocam os restaurante de Santana
(zona norte) e de São Miguel Paulista (zona leste)- foram sondadas pela equipe da prefeita Marta
Suplicy (PT) para montar restaurantes semelhantes sob o selo do
Fome Zero.
Minas Gerais, do governador
Aécio Neves (PSDB), continuará
com o seu programa de combate à
fome, herdado do governo de Itamar Franco.
Manteve até as mesmas pessoas
no chamado Prosan. O secretário-geral do Conselho de Segurança
Alimentar mineiro, Manoel Costa, informou que pode até ser
criado um nome de fantasia para
abrigar todas as iniciativas de
combate à fome, mas isso depende de deliberação do conselho,
presidido pelo próprio Aécio.
Para o titular da assistência social no Rio, Fernando Williams, o
Cheque Cidadão (por meio do
qual 100 mil famílias recebem um
cupom no valor de R$ 100 mensais para comprar alimentos) tem
a mesma filosofia do Cartão-Alimentação do programa federal, o
Fome Zero.
Em ambos os programas o beneficiário precisa gastar o dinheiro com alimentos, só que no programa carioca, o valor que a família recebe é o dobro.
O Cheque Cidadão foi criado
pela governadora Rosinha Matheus (PSB), quando pilotou a
ação social do seu Estado na gestão do marido, Anthony Garotinho, candidato derrotado do PSB
à Presidência da República.
Nos municípios da Baixada Fluminense, principal foco do programa, Rosinha recebeu 60% dos
votos na última eleição, derrotando a petista e então governadora
do Estado, Benedita da Silva, atual
ministra da Assistência e da Promoção Social.
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