São Paulo, terça-feira, 30 de maio de 2006

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ESCÂNDALO DO MENSALÃO / FINANÇAS PARTIDÁRIAS

Campeã de doações ao PT é empresa de 30 funcionários

Petrowax, com capital social de R$ 50 mil, contribuiu com R$ 600 mil em 2005

Empresa, que opera "bem abaixo" da capacidade e perdeu principal contrato no ano passado, respondeu por 24,1% das doações à sigla

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma empresa com apenas 30 funcionários, que opera "bem abaixo" da capacidade e recentemente perdeu seu principal contrato, foi a campeã de financiamento para o PT em 2005, numa doação feita em 29 de dezembro que superou gigantes da indústria brasileira.
A três dias do final do ano passado, a Petrowax Indústria e Comércio de Lubrificantes Ltda., de Iperó (a 128 km de São Paulo), transferiu R$ 600 mil à conta do partido.
Com 11 anos de existência, a fabricante de lubrificantes consta do cadastro de fornecedores da Petrobras, mas desde 1997 não vende nada à estatal. Ao contrário: compra dela matéria-prima na modalidade "spot", de negociações rápidas e sem edital. Nunca tinha doado antes a partido nenhum.
"A gente ficou sensibilizado com a situação do partido. Quisemos dar uma mão", afirma Marcos Augusto Guerra, que, junto com seu irmão Pedro, dirige a Petrowax.
Em crise financeira aguda, devendo R$ 46 milhões na praça, o PT precisa desesperadamente de doações. No ano passado, fechou mais uma vez no vermelho, com um rombo operacional de R$ 3,37 milhões. Em parte, foi o efeito de uma queda de 80% nas contribuições de empresários -que totalizaram R$ 2,48 milhões em 2005- em relação a 2004.
A Petrowax colaborou com 24,1% desse valor, mais do que a Companhia Siderúrgica Nacional, com 8.000 empregados, que doou R$ 500 mil. E o dobro da construtora OAS, de 2.400 funcionários e faturamento anual de R$ 700 milhões.

"Doação normal"
"Foi uma doação normal, como todas as outras. Eles me ligaram, manifestaram interesse e foi feita a contribuição, dentro da lei", diz o tesoureiro do PT, Paulo Ferreira.
Desde sua constituição, a Petrowax opera com capital social diminuto, de R$ 50 mil. Seus 30 empregados fazem dela uma pequena empresa, seguindo critério do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).
Para o presidente da empresa, ela é "média", por ter faturamento maior do que o esperado de uma fábrica com tão pouca gente. Ele diz não revelar o faturamento da Petrowax por "questões estratégicas".

Abaixo da capacidade
A planta de Iperó, de 15 mil metros quadrados, tem capacidade de produção de 50 mil toneladas por ano de lubrificante. "Estamos bem abaixo disso", admite Guerra.
Até maio do ano passado, produzia lubrificantes exclusivamente para a italiana Agip, mas o contrato foi encerrado. "Era um contrato de muita rentabilidade. A gente tentou manter, mas não foi possível", diz o presidente. A Petrowax teve que recomeçar do zero, investindo em marcas próprias e passando a vendê-las.
Também entrou no ramo de consultorias. Mesmo perdendo seu maior contrato, encontrou fôlego para, alguns meses depois, doar R$ 600 mil ao PT. Segundo o presidente da empresa, havia "gordura para queimar". "Tivemos tempo para planejar a transição."
Para a Petrowax, a doação ocorreu por um único motivo: a simpatia com o PT e com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Guerra se diz um admirador do presidente. Integrou uma comitiva de empresários que o acompanharam em uma viagem à África, em 2003.
"Não sou filiado ao PT, não conheço ninguém da cúpula, nem sabia o nome do tesoureiro. Acredito no programa, na história do partido. Doamos o máximo que podíamos naquele momento", diz.


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