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"Adversários colocarão pedras no caminho de Lula"
DA REPORTAGEM LOCAL
Frei Chico diz que o irmão precisa se preparar porque os adversários vão "colocar pedras no sapato" do petista. Metalúrgico e
sindicalista aposentado, conversou com a Folha em um restaurante na avenida São Luís (centro
de São Paulo).
(PF)
Folha - Como o sr. vê a atual trajetória política do Lula, caminhando
da esquerda em direção ao centro?
José Ferreira da Silva, Frei Chico -
Hoje ele está no caminho certo.
Tem uma atitude decente, um
projeto para o Brasil, mas olhando o mundo. E entendendo que a
sociedade vai mudar paulatinamente. Um candidato à Presidência com um discurso mais radical
não tem penetração na massa.
Folha - Qual a diferença do Lula
hoje para o da época das greves no
ABC e da fundação do PT?
Frei Chico - Quando Lula foi do
sindicato para o partido, manteve
o mesmo discurso. Levou alguns
anos para compreender que o discurso do sindicato não pode ser
feito no partido. A sociedade é
muito ampla. Então, você tem de
mudar. Algumas pessoas por safadeza querem que o Lula mantenha a mesma postura. Ele não pode manter, porque evoluiu, política e culturalmente. Até na roupa
ele evoluiu.
Folha - Lula era mais radical que o
sr.?
Frei Chico - Lula sempre teve uma
capacidade enorme de negociar.
Ele sempre foi muito honesto. Se
falar que vai fazer aquilo, cumpre
o acordo que fez. Isso trouxe respeitabilidade para ele no movimento sindical e no empresarial.
Folha - Como o sr. avalia as chances de o Lula ser eleito?
Frei Chico - Ele vai ter dificuldade
porque o preconceito ainda é
grande. Assumindo a Presidência, vai negociar até com adversários. Vai tentar ganhar os caras
com propostas mínimas para ele
poder governar.
Folha - Como é a sua relação com
o Lula?
Frei Chico - A gente fala mais
besteira. De política só o necessário. Lula é da família uma vez por
mês, a vida do Lula não pertence
mais a ele. É um escravo da política. Mas ele gosta. Não sai mais
disso. Só a morte acaba com isso.
Folha - O que vai acontecer se o
Lula perder?
Frei Chico - O PT cresce e ele continua na vida pública. Não tem
mais o que fazer. Ele pode até não
se candidatar mais a nada, mas
continuará como militante. E pode fazer parte de uma organização
internacional, uma ONG.
Folha - O sr. ainda se considera
socialista?
Frei Chico - A igualdade social
que queremos só se dará num regime socialista.
Folha - O PT seria caminho para
isso?
Frei Chico - O processo do Brasil
está longe disso. O PT não tem como implementar nenhum programa nesse sentido. O projeto do
PT hoje é começar a chamada social-democracia. Mais direito,
educação, eliminando a miséria
para começar a transformar.
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