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PF apura se Nahas "copiou" casos Banestado e Alstom
"Offshore" atribuída a doleiros do Rio movimentou dinheiro de investidor e multinacional
Caminho de dólares usados
por Naji Nahas em 2002 foi
utilizado pela Alstom em 2
transações identificadas
pelo Ministério Público suíço
FERNANDA ODILLA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Polícia Federal investiga se
Naji Nahas, preso na Operação
Satiagraha, voltou a usar o modus operandi de remessa de dólares para o exterior que ele já
havia utilizado em um caso
apurado no escândalo do Banestado. Nesse caso, o investidor repetiu um dos esquemas
usados pela multinacional
francesa Alstom, suspeita de
pagar propina a políticos tucanos de São Paulo.
No dia 9 de outubro de 2002,
Nahas mandou US$ 750 mil
por meio da "offshore" uruguaia Kiesser Investment para
os Estados Unidos. O dinheiro
saiu do banco Audi, em Luxemburgo, passando pela Kiesser,
que, segundo a PF, é de doleiros
do Rio, segundo base de dados
da Promotoria de Nova York.
O caminho do dinheiro foi o
mesmo usado pela Alstom em
duas transações identificadas
pelo Ministério Público da Suíça. Documentos em poder de
promotores suíços mostram
que pelo menos parte da propina atribuída à empresa foi repassada por doleiros, entre eles
os donos da Kiesser.
A planilha com as transferências indica que mais de
US$ 500 mil -que teriam sido
usados para o suborno- também saíram do Audi e passaram
pela Kiesser, segundo reportagem da Folha de junho. À época, a Alstom informou que não
se pronunciava sobre as transferências internacionais.
As operações listadas na planilha foram ordenadas pela
multinacional entre dezembro
de 1998 e fevereiro de 2002, segundo o Ministério Público da
Suíça. A Alstom, empresa de
energia e transportes, está sob
investigação por suspeitas de
ter pago propina para ganhar
contratos no Brasil, na Venezuela e em Cingapura.
Segundo a PF, a "offshore"
que movimentou dólares da
Alstom e de Nahas registrou
endereço em Montevidéu. Empresas como a Kiesser serviam
diferentes clientes, cobrando,
em média, 1,5% do valor de cada transação por meio das chamadas "contas ônibus", que
atendiam a vários "passageiros" ao mesmo tempo.
Investigações do escândalo
Banestado, que geraram uma
CPI em 2003 para apurar remessas ao exterior entre 1996 e
2002, indicam que, para chegar
ao Uruguai, as remessas eram
feitas por intermédio das chamadas contas CC-5 (usadas por
não-residentes no país), em
nome de laranjas. De lá, o dinheiro seguia para a conta da
Kiesser no MTB Bank, antes de
abastecer os verdadeiros destinatários dos dólares em Nova
York, Nova Jersey, Miami e até
nas Ilhas Virgens Britânicas.
Localizado no centro de Manhattan, o MTB Bank foi fechado pelas autoridades americanas por lavagem de dinheiro
por meio de "offshores" (empresas que mantêm sob sigilo
os verdadeiros donos). Entregue à extinta CPI do Banestado
pela Promotoria de Nova York,
a base de dados eletrônica do
MTB Bank mostra que Nahas
usou outras duas empresas para enviar dólares ao exterior.
Procurado ontem pela Folha, o
advogado de Nahas, Sérgio Rosenthal, não ligou de volta.
Dois especialistas em Banestado foram escalados pela PF
para participar da segunda fase
da Operação Satiagraha, que
investiga também o banqueiro
Daniel Dantas. Além de identificar remessas de doleiros que
alimentaram o fundo Opportunity, nas ilhas Cayman, eles vão
analisar as operações feitas por
todos os alvos da Satiagraha.
O procurador Celso Três, um
dos responsáveis pelo início
das investigações do Banestado, afirma que presos na Satiagraha, como Naji Nahas, apareceram nas contas analisadas
pela força-tarefa formada pela
PF e Ministério Público. Mas
eles não foram os principais alvos da investigação de evasão
de divisas. "Nos concentramos
primeiro nos responsáveis por
movimentações de maior vulto", disse Três, que analisou
mais de 1.100 contas.
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