|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Prefeitos seguram reajustes em ônibus
Prática é comum em época de eleições, dizem economistas; custo representa até 7,3% da renda familiar
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Em ano de eleição, inflação e
política se misturam e prefeitos
em busca de reeleição ou dispostos em colocar no posto algum aliado ignoram pressões
de custo e seguram ao máximo
os reajustes das passagens de
ônibus, importante item da
cesta de consumo das famílias.
A prática política é velha e se
repete neste ano: até agora,
apenas 5 das 11 maiores capitais
reajustaram as tarifas e em percentuais bem menores do que
os do ano passado, revelam dados do IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo que
mede a inflação entre os dias 15
de cada mês), do IBGE. Na média das 11 áreas pesquisadas, a
alta ficou em 2,52% no acumulado de janeiro a agosto deste
ano, abaixo dos 6,41% registrados no mesmo período de 2007.
As companhias de ônibus,
que estão entre as maiores doadoras de campanhas e já foram
alvo de investigações, têm neste ano de deixar de repassar aumentos de custos às tarifas. Um
exemplo é a alta do diesel, que
subiu 15% neste ano. O combustível é uma das principais
fontes de despesa do setor.
Segundo o economista Luiz
Roberto Cunha, da PUC-Rio, já
faz parte da história política do
país o hábito de os prefeitos
postergarem ao máximo os reajustes em anos de eleição, com
o objetivo de conseguirem renovar seus mandatos ou fazer
seus sucessores.
Neste ano, diz, a alta do diesel
tornou ainda mais evidente a
prática de conter os reajustes
dos ônibus. Em 2008, poucas
capitais reajustaram e, em geral, com altas mais moderadas
do que em 2007. É o caso de
Goiânia (11,11%), Recife
(9,98%), Belo Horizonte (5%),
Porto Alegre (5%) e Rio de Janeiro (5%) -nesta última, o aumento é um resíduo do reajuste
concedido em dezembro do
ano passado.
"Os políticos deixam para fazer as "maldades" no primeiro
ano de governo. Faz parte do
calendário político, principalmente no caso desses serviços
públicos que não estão diretamente atrelados a um índice de
preços, como os ônibus. E isso
independe do partido político
que está no poder", diz Fábio
Romão, economista da LCA.
A Prefeitura de São Paulo,
que pratica pesados subsídios
para financiar o sistema de bilhete único, já anunciou aumento de tarifas de ônibus após
o período eleitoral. Previsto para novembro, o aumento deve
ficar próximo a 6%. Em 2007,
os ônibus subiram 7,68% na capital paulista. Em São Paulo, a
inflação média acumulada no
ano ficou em 4,58%.
"Pelo menos, a Prefeitura de
São Paulo foi transparente.
Elevou o subsídio e conteve o
reajuste. O pior é que muitos
prefeitos que serão derrotados
nas eleições não vão reajustar
as tarifas neste ano. Vão deixar
o ônus para o seu sucessor, pois
têm interesse em disputar novamente", avalia Cunha.
Segundo Carlos Thadeu de
Freitas Filho, da corretora
SLW, é prática comum, em
anos de eleição, conter os reajustes de ônibus urbanos e também de outros preços administrados, de responsabilidade de
Estados e municípios -o que,
para ele, sempre representa
"uma âncora da inflação".
O peso dos aumentos regulados por Estados e municípios
-como gás encanado, metrô,
táxi e taxa de água e esgoto-
tem um impacto relevante na
inflação: 8,5% no IPCA e 29%
nos preços administrados.
No orçamento das famílias, o
ônibus é item importante: tem
peso de 3,7% na faixa de renda
de 1 a 33 salários mínimos. Para
os mais pobres (de 1 a 8 salários), o impacto é maior: 7,3%.
Texto Anterior: Antropólogo vê direito dos índios em xeque no STF Próximo Texto: Frase Índice
|